Tiago Queiroz
Um vídeo publicado pelo cantor Leo Santana, nesta última semana, onde o mesmo afirma que “ninguém, independente da sua condição financeira”, tem a obrigação de ajudar ao próximo , reacende a discussão sobre a formação do caráter e alienação das “celebridades” nacionais.
Artistas e atletas brasileiros, sobretudo os jogadores de futebol, em sua grossa maioria oriundos da perifèria, parecem desplugados da realidade . A futilidade reina. São raros os exemplos de engajamento por questões políticas ou sociais. Preferem viver em suas redomas e mundinhos diariamente mostrados em suas redes sociais . A ostentação é feita sem cerimônia ou constrangimento.
De origem humilde, o “Gigante”, como é carinhosamente chamado pelos seus fãs o cantor Leo Santana, foi criado no bairro do Lobato, no subúrbio ferroviário de Salvador. A vivência nos bairros ditos populares, como na região do Lobato, é uma verdadeira lição de solidariedade. Os gestos de compaixão, que brotam aos montes nos becos e vielas, são diretamente proporcionais à pobreza. A miséria os une. Entretanto, ao galgar grana e sucesso, nossas celebridades não se enxergam mais como os semelhantes de outrora. Ascenderam na pirâmide social, pertencem agora a uma outra casta social. Os antigos hábitos e valores foram substituídos, inclui-se aí também as questões de caráter, para o bem ou para o mal.
Vamos nos ater à Leo Santana. Não há surpresa em seu comentário. O cantor expressa todo o seu descompromisso e desprezo com as questões sociais em suas descartáveis canções, que se resumem a “contatinhos”, “santinhas” e afins.
Não, Leo. Ninguém tem obrigação nenhuma de ajudar ninguém. Assim como ninguém é obrigado a aceitar que Governo do Estado e Prefeitura paguem exorbitantes cachês para artistas de qualidade duvidosa, como é o seu caso.
Da mesma forma como é facultativo a obrigação em ajudar ao próximo é obrigação do artista o respeito para com o seu público, sobretudo aquele que lota filas para pagar R$ 200 num show batizado de “Baile da Santinha”, muitas das vezes sacrificando os seus parcos rendimentos.
Então, Gigante, mostre que diferente do que julgamos , por trás desse corpo tamanho G, não tenha um cérebro tamanho P. Devagar com o andor que o santo é de bairro.
Assista ao polêmico vídeo:
*Tiago Queiroz é jornalista.