Segundo Mapa da Inadimplência do Brasil, do Serasa, 41,08% da população baiana é inadimplente
Para organizar a vida financeira é necessário comprometimento e mudança de postura em relação às finanças. Nem sempre é rápido se livrar das dívidas, mas com um bom planejamento é possível encerrar o ciclo de endividamento.
A falta de planejamento financeiro é um dos grandes responsáveis pelo alto índice de inadimplência no país. De acordo com o último Mapa de Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Serasa, o Brasil atingiu 72,5 milhões de famílias endividadas, um total de 44% de lares no país. A Bahia possui 41,08% da população do estado inadimplente, sendo a região do Nordeste com mais acordos fechados com o Serasa para renegociação, com um total de 181.434 casos. Lideram em inadimplência no Brasil, os estados do Rio de Janeiro (54,16%), seguido do Distrito Federal, com (52,74%) de toda a sua população.
O coordenador do curso de Ciências Contábeis da Unime Anhanguera, José Eduardo, ressalta que sanar dívidas requer determinação. “Em linhas gerais, a pessoa se torna inadimplente por manter o padrão de consumo e gastos acima de suas capacidades financeiras. Obviamente, existem exceções como gastos inesperados com doença, família etc., mas em todos os casos, cuidar das contas e honrar seus compromissos é essencial”, explica a docente.
José alerta, que nesse contexto, o maior vilão das pessoas segue sendo o cartão de crédito. “Quando o cliente faz um compra usando o cartão de crédito e não faz o pagamento total da fatura até o vencimento, a diferença entre o valor total e o que foi efetivamente pago (valor mínimo, por exemplo) se transforma em um empréstimo. Esse empréstimo é chamado de crédito rotativo e possui juros que, geralmente, estão entre os mais altos do mercado”, alerta.
O especialista analisa, que a média de juros do rotativo era de 455% a.a. em 2023, (Banco Central), e em 3 de janeiro de 2024, entraram em vigor, novas regras para o crédito rotativo do cartão de crédito (CMN – Conselho Monetário Nacional). “A partir dessas mudanças, a dívida total (com juros) de quem atrasa a fatura do cartão não pode ultrapassar o dobro do débito original”, explica.
José ainda exemplifica, que um valor de R$ 1.000,00 no crédito rotativo com juros de 455% a.a., em 12 meses chegava a R$ 5.550,00, com as novas regras, os juros serão de 100% a.a. e em 12 meses o valor a ser pago será de R$ 2.000,00.
Ainda assim, o crédito rotativo continua sendo um “crédito ruim”, com juros muito altos. Desde o dia 1º de julho deste ano, é possível realizar a portabilidade do saldo devedor (CMN – Conselho Monetário Nacional). Na prática, significa que clientes com dívidas no cartão de crédito poderão fazer a “transferência” gratuita do saldo devedor de uma instituição financeira para outra que ofereça melhores condições de pagamento e juros menores. Juros com cartão de crédito são sempre maiores que qualquer outra operação de crédito.
“Importante destacar que 75% dos brasileiros parcelam suas compras, e o cartão de crédito se tornou uma saída para suprir necessidades básicas. Entretanto, a inadimplência com cartão chega a mais de 50%, evidenciando como altas taxas de juros e inflação afetam significativamente o orçamento das famílias”, completa.
Para o docente, com o intuito de evitar o endividamento e alcançar a estabilidade financeira até o final do ano, é preciso seguir algumas estratégias.
“Relacione todas as dívidas e entre em contato com os credores para negociar os pagamentos. Procure feirões que ofereçam descontos de até 99% para renegociar suas dívidas e utilize o 13º salário para amortizar essas pendências. É crucial que o endividado só feche acordos se as condições forem compatíveis com sua realidade financeira. Quebrar o contrato de débito pode levar à perda dos descontos oferecidos, cancelamento da renegociação e retomada de juros”.
Além disso, o professor destaca a importância do autoconhecimento para evitar novas dívidas. Ele sugere, que compreender o motivo das compras, evitar compras compulsivas, comparações sociais, materialismo e vulnerabilidade de consumo são fatores cruciais para um melhor controle financeiro. “Para equilibrar a renda, procure destinar 50% para gastos essenciais, como aluguel, alimentação e transporte; 30% para estilo de vida, como academia e lazer; e 20% para pagamento de empréstimos ou investimentos”.
O especialista enfatiza a importância de evitar o uso desordenado do cartão de crédito e recomenda estabelecer objetivos claros, como sair do endividamento, adquirir um imóvel ou fazer uma viagem, para motivar a família a ter maior consciência financeira.
Para evitar novas dívidas, José oferece as seguintes dicas:
– Tenha uma planilha de controle de gastos, incluindo despesas fixas mensais e gastos com cartão de débito.
– Faça uma lista antes de ir ao supermercado, defina uma data fixa para compras mensais e pesquise preços.
– Evite ter muitos cartões de crédito, priorize o pagamento à vista e, se precisar parcelar, escolha o número de parcelas sem juros.
– Opte por um carro mais econômico e faça revisões regularmente para evitar gastos excessivos com reparos.
– Planeje passeios com uma média de gastos prevista e busque opções de lazer gratuitas.
– Adote hábitos de consumo consciente para economizar alimentos, água e energia.
– Ao renovar o contrato de aluguel, proponha uma renegociação ao proprietário e explique sua situação.
– Desconfie de ofertas que são muitos boas para ser verdade:
– O empréstimo consignado é uma das linhas de crédito mais baratas do mercado, no entanto, o pagamento é automático, por meio de desconto na fonte de renda, por isso, pode originar endividamento, com multas e juros sobre as parcelas em atraso. Além disso, há o risco de precisar quitar a dívida de uma vez, em caso de perda de emprego com carteira assinada.
– As plataformas de apostas on-line são muito acessíveis, e oferecem ganhos rápidos. Existem evidências que vinculam as apostas a atuação de operadores inescrupulosos, que podem enganar os apostadores e manipular os resultados dos jogos. Nunca use dinheiro destinado a contas essenciais para apostas.
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