Fernando Mitre revela em livro que debate entre Lula e Bolsonaro quase não ocorreu

No dia 15 de outubro de 2022, véspera do primeiro debate do segundo turno entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), o jornalista Fernando Mitre recebeu uma ligação da equipe do então presidente do Brasil querendo mudar regras do confronto, que já tinham sido aprovadas pelos dois candidatos. Os assessores do petista não aceitaram as alterações e, portanto, existia o risco de que Bolsonaro não aparecesse para o embate eleitoral.

“Pode parecer inacreditável, mas existiu uma possibilidade de não termos tido aquele debate”, revela ele à coluna.

Essa é uma das histórias de bastidores que Mitre, diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes, conta no livro “Debate na Veia – Nos Bastidores da Tevê, A Democracia no Centro do Jogo” (Letra Selvagem e Kotter Editorial). O volume será lançado no próximo dia 26, no teatro da sede do Centro do Professorado Paulista, em São Paulo.

“As tensões são enormes durante a preparação do debate e, às vezes, a tensão vai até o momento final”, diz o jornalista. “A certeza absoluta [de que os candidatos vão comparecer], eu só tenho quando começa a tocar a música [do início do programa].”

Mitre já perdeu as contas do número de confrontos eleitorais em que esteve envolvido. “Mas, com certeza, foram mais de 50”, estima.

O debate promovido pela Band em 1989, o primeiro a reunir candidatos à Presidência, é, na visão dele, “o mais significativo da sua vida e do país”. O pleito daquele ano marcou a primeira eleição direta no Brasil após 29 anos.

No livro, ele conta também sobre a inusitada estratégia que teve de adotar para conseguir a participação dos principais presidenciáveis das eleições de 2010: Dilma Rousseff, Marina Silva e José Serra.

“Eu fechei aquele debate num ambiente inacreditável”, diz Mitre. Na ocasião, o jornalista aceitou o convite para apresentar um evento em Belo Horizonte, que reuniria pela primeira vez os três candidatos. Foi ali, em cima do palco, que ele conseguiu viabilizar o embate eleitoral.

“Eu ia no ouvido de cada um e falava: ‘Eu vou anunciar o debate na Band’. Um dizia ‘não, mas o outro não quer’. Eu respondia: ‘O outro quer, você que não está querendo’”, detalha. “Tudo articulado no palco, com mil e tantas pessoas assistindo ao encontro deles, e eu ali, numa espécie de bastidor, tentando fechar o debate”, completa.

Mas a obra, ressalta o jornalista, vai além dos debates e aborda todo o contexto político desde pouco antes do golpe de 1964, quando se instaurou a ditadura militar no Brasil, até o embate eleitoral entre Lula e Bolsonaro no ano passado.

Mitre afirma que a ideia central do livro é também destacar o valor da democracia para o país. “A campanha das Diretas Já tem uma presença muito grande na publicação”, acrescenta.

O lançamento do volume será marcado também por um debate, com mediação de Boris Casoy, que reunirá os professores Fernando Schüler e Loretana Paolieri Pancera, e os jornalistas Luís Nassif, José Nêumanne Pinto e Sérgio Dávila, diretor de redação da Folha.

Mônica Bergamo/Folhapress