O prefeito Bruno Reis entregou, na tarde desta quarta-feira (10), a Galeria Mercado, no subsolo do Mercado Modelo, um dos principais pontos turísticos da capital. A entrega ocorre após 15 anos de desativação do subsolo e três semanas após a conclusão das obras de requalificação e restauração do Mercado Modelo pela Prefeitura. A abertura do espaço contou com a presença do secretário de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho, dentre outras autoridades municipais.
Com a inauguração, o local passa a contar com uma exposição permanente que apresenta a história do Mercado Modelo, abrigando peças dos artistas plásticos soteropolitanos Rubem Valentim, Mario Cravo Jr. e Vinícius S.A, que representam diferentes gerações da arte soteropolitana. A visitação gratuita já está disponível a partir da próxima sexta-feira (12), com funcionamento de terça a domingo, inicialmente, das 10h às 14h. O acesso ocorre pela entrada principal do imóvel e a capacidade inicial é de até 200 pessoas por dia.
A galeria tem ainda a exposição fixa “Lágrimas”, do artista soteropolitano Vinicius S.A, que passou por mais de dez cidades do Brasil, além de Las Vegas, nos Estados Unidos, e Frankfurt, na Alemanha. Com 15 mil lâmpadas remontadas, suspensas por redes de nylon, a exposição irá integrar o imaginário que as pessoas têm sobre a cidade de Salvador, constituindo parte da ressignificação do subsolo do Mercado Modelo.
O prefeito Bruno Reis disse que essa foi uma importante missão que ele assumiu, juntamente com o secretário Pedro Tourinho, de potencializar o local. “A gente sabe que o Mercado Modelo é um dos principais cartões-postais de Salvador, que pela sua beleza e produtos que são comercializados aqui, atrai milhares de visitantes, mas nós queríamos mais e podíamos ter mais. A Prefeitura vem fazendo um esforço, nos últimos anos, com a implantação de equipamentos que possam fazer com que os turistas permaneçam mais tempo na nossa cidade, que possam oferecer conteúdo para quem venha nos visitar”, afirmou.
O prefeito agradeceu ainda à curadora de arte, Thaís Darzé, pelo trabalho realizado no local. “Ficou fantástico. Você deu um show. É um orgulho saber que a nossa cidade está tendo uma renovação artística, uma renovação cultural com pessoas capazes, como Thaís. Aqui a gente presta homenagem a Mário Cravo Júnior, que já nos deixou, a Rubem Valentim, mas aqui está também Vini S.A. Agora a obra dele vai rodar o mundo todo, porque o mundo todo vai vir conhecer aqui em Salvador. São 15 mil lágrimas instagramáveis, todo o mundo vai querer tirar fotos para o Instagram. E aqui também é um espaço de arte, é um espaço de valorização da cultura da nossa cidade e nós temos que reconhecer que estamos dando um show na área de cultura em Salvador”, acrescentou o prefeito.
O projeto foi pensado como um local de preservação da história do Mercado Modelo ao destacar personagens como Camafeu de Oxóssi, Mãe Menininha do Gantois e Mestre Caiçara, ampliando o panorama cultural e artístico de Salvador. Com mais de 100 anos de existência, o mercado é tombado pelo Iphan há mais de cinco décadas.
O secretário municipal de Cultura e Turismo, Pedro Tourinho, revelou que a estratégia da gestão foi potencializar a curiosidade e o interesse de turistas e baianos em relação ao local. “Tivemos esse desafio de potencializar o local, trazendo mais força e mais camadas para o subsolo. Então, nós pensamos que as galerias do subsolo poderiam se tornar galerias de arte. Convidamos a curadora Thaís Darzé, que, apesar de jovem, tem uma história longa com a arte de Salvador, e trouxemos obras de artistas plásticos de três gerações, o Rubem Valentim, que é um artista baiano, negro, já falecido, mas de maior importância hoje na arte contemporânea, Mário Cravo e Vinícius S.A”, contou.
A galeria também traz a historiografia do espaço, contada através de uma linha do tempo, formada por imagens que foram restauradas e nas obras expostas. A iluminação do subsolo também foi pensada para dar destaque à arquitetura do edifício. O local passou a contar com um conjunto de fotografias com um recorte histórico extenso, que vai de 1860 aos dias atuais. Fazem parte da seleção Arlete Soares, Amanda Oliveira, Lázaro Torres, Pierre Verger, Marcel Gautherot, Joe Heydecker, Estúdio Gonçalves e Uiler Costa.
A gestora do Mercado Modelo, Analu Garrido, agradeceu à Prefeitura pela iniciativa. “Eu já desci várias vezes ao subsolo, que agora é Galeria Mercado, e várias vezes eu chorei de emoção, junto com essa grande curadora Thaís Darzé e Vini Almeida, que é o artista das Lágrimas de São Pedro. O Mercado Modelo hoje recebe 80% de todos os turistas que vêm a Salvador. E agora com a Galeria Mercado, iremos receber 100% de todos os turistas que vêm a Salvador e eu tenho certeza que todos os soteropolitanos vão querer também visitar a galeria”, disse.
Acervo – Três obras de Rubem Valentim, que são três peças da série Templo de Oxalá em tamanho ampliado, que estão expostas. Todas em concreto, as esculturas foram feitas por uma equipe técnica habilitada, seguindo as diretrizes dos projetos originais do artista, falecido em 1991. O pintor e escultor sempre expressou o desejo de que suas obras de arte, fortemente inspiradas nas matrizes culturais e formadoras do país, se tornassem públicas.
Já as peças de Mário Cravo Jr. são da série “Cabeças de Tempo”, produzidas na década de 80, cuja matéria-prima é a madeira de expurgo do incêndio que acometeu o Mercado Modelo em 1984. A ideia é que a exposição dessas obras gere uma imediata conexão da arte com a própria história do edifício, além de ser uma homenagem ao artista no seu centenário.
Imagens sacras – Durante as obras de requalificação do subsolo foram encontradas duas esculturas sacras, uma de São José e outra Nossa Senhora da Conceição, ambas sem registro de data. As duas obras passaram por requalificação e também estarão na Galeria Mercado, como parte da exposição.
A escultura de Nossa Senhora da Conceição, em madeira, não possui autoria conhecida, mas sabe-se que foi doada por dois permissionários do Mercado, Homero Bellas das Horas (conhecido como Sr. Lula) e Arthur Silva Figueredo (conhecido como Sr. Tuca), na década de 1990. O intuito da doação era que as pessoas pudessem fazer orações ao visitarem o subsolo. O tipo de entalhe da escultura e os valores estéticos incorporados na obra têm características afrodescendentes.
A imagem de São José, também em madeira, foi produzida por Zé Eugênio, dado que foi possível obter pela assinatura na parte de baixo da obra. No entanto, as informações sobre o artista são escassas. É possível afirmar que se trata de uma escultura moderna, possivelmente do final do século XX.
A escultura foi mantida no mesmo local em que foi encontrada, e um fato curioso a respeito é que, quando ela foi localizada, o espaço da instalação “Lágrimas”, de Vinícius S.A., já havia sido definido. O artista interpretou o encontro como uma bênção de São José, já que sempre associou sua instalação ao santo, usando cânticos entoados durante as suas exposições.
Fotos: Valter Pontes/ Secom PMS