Nos últimos cinco anos, o Martagão Gesteira vem se consolidando como um hospital quaternário em pediatria, oferecendo serviços altamente especializados para doenças complexas – alguns deles inéditos no Sistema Único de Saúde (SUS) da Bahia. Dentre eles, destacam-se transplantes de medula óssea, transplante hepático, radiointervenção em oncologia e malformações vasculares, cirurgias craniofaciais e cirurgias cardíacas neonatais, entre outros.
“Atualmente, o martagão oferece cuidados extremamente especializados para condições pediátricas raras ou complexas, que exigem especialistas altamente qualificados e tecnologia de ponta”, detalha o superintendente geral da Liga Álvaro Bahia (mantenedora do hospital), o cirurgião pediátrico Carlos Emanuel Melo. Um hospital é considerado “quaternário” quando dispõe de alta tecnologia e está preparado para atender casos graves como transplante de órgãos e cirurgias complexas.
Como consequência, acrescenta Melo, o Martagão passou a ser responsável por uma parcela significativa dos tratamentos mais complexos da rede de saúde da Bahia. Por exemplo, nele são realizadas 60% das cirurgias oncológicas pediátricas de todo o SUS na Bahia, 40% das cirurgias cardíacas, 42% das cirurgias neurológicas, 21% de todas as internações em UTI pediátrica, além de 100% dos transplantes de medula óssea para a população infantojuvenil.
“O hospital se tornou um centro de referência para os casos mais graves e complexos de pediatria na Bahia. Além disso, se consolidou também como uma unidade de suporte para outros serviços pediátricos menos complexos, tanto na capital quanto no interior do estado, sendo que praticamente todos eles demandam apoio do Martagão”, ressalta o cirurgião pediátrico.
Aproximadamente 50% dos pacientes regulados para os leitos de UTI da instituição são oriundos de outras UTI’s ou serviços pediátricos que não conseguem resolver completamente os casos.
No entanto, este esforço para atender a essa demanda especializada tem acarretado, em contrapartida, uma elevação do custo da operação hospitalar. “O sistema de remuneração do Martagão não reflete adequadamente a complexidade, nem o custo desses serviços, o que vem ampliando um desequilíbrio financeiro que já se arrasta há anos. Para agravar a situação, nos últimos anos, a rede de atenção pediátrica tem sido ampliada em seu componente menos complexo, com a abertura de novos serviços, na maioria das vezes financiados com valores superiores aos praticados no Martagão e com complexidade muito menor”.
Como consequência desse cenário, o hospital, ainda segundo o superintendente geral, passou a experimentar um agravamento das condições financeiras, resultando na evasão de profissionais qualificados e dificuldades na reposição de insumos de alto custo. “Isso vem impactando no funcionamento do hospital. Não é este o cenário que queremos. O desequilíbrio financeiro dos contratos com o poder público precisa ser revisto, com urgência”, destaca Melo.
Atualmente, o Martagão enfrenta um déficit de cerca de R$ 15 milhões (valor previsto para 2024). Por essa razão, o hospital realiza periodicamente campanhas, ações e projetos para fomentar doações para a instituição filantrópica. Ainda como forma de tentar reverter esse quadro, neste momento, negociações estão em andamento com as Secretarias Estadual e Municipal de saúde que têm se mobilizado para viabilizar o direcionamento de recursos e a revisão de contratos.