A baixa massa muscular e a miosteatose estão associadas significativamente a maior mortalidade em pacientes diagnosticados com Covid-19, conclui o estudo, que, inclusive, abre perspectiva para avaliações em outras doenças agudas e crônicas, também com risco de mortalidade, afirmam os especialistas.
Um estudo realizado no Hospital Aliança, por meio do Instituto Rede D’Or (IDOR) e apoio da Fundação Maria Emília, identificou que a baixa massa muscular e a mioesteatose (gordura intramuscular), avaliadas por tomografia computadorizada (TC), estão significativamente associadas a maiores taxas de mortalidade em pacientes com Covid-19. O alerta é resultado da tese de doutorado do nutricionista Rafael Pinto, para a qual foram avaliados 277 pacientes hospitalizados na unidade hospitalar em Salvador, entre adultos e idosos, no período de junho de 2020 e março de 2021.
O especialista explica que o excesso de gordura corporal pode ocorrer não apenas na camada superior dos músculos, mas, pode ser encontrada também entre as fibras musculares, característica chamada de mioesteatose. “Uma avaliação mais detalhada da massa muscular em pacientes com COVID-19, utilizando a TC, permite-nos associar a baixa massa muscular e a mioesteatose a desfechos negativos e realizar intervenções durante o internamento e no pós-alta, podendo até mesmo salvar vidas”, descreve Dr. Rafael Pinto, que concluiu este mês a tese de doutorado, intitulada Impacto da baixa massa muscular e mioesteatose sobre a mortalidade de pacientes com COVID-19 em hospital do nordeste brasileiro, associado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde (UFBA). Para as análises do estudo, a tomografia computadorizada foi feita no nível torácico (T12).
O médico hepatologista do Hospital Aliança, Dr. Raymundo Paraná, ressalta que o estudo destas síndromes metabólicas associadas à Covid-19 têm sido cada vez mais valorizadas na Medicina para análises de uma série de doenças crônicas. “É um marcador de prognóstico reservado em pacientes com doença crônica de fígado e também é um marcador de síndrome metabólica, sobretudo a mioesteatose”.
Dr. Paraná destaca que a síndrome metabólica atinge 3,5% da população e que foi rapidamente identificada como um dos principais fatores de risco para mortalidade na Covid-19. “A síndrome metabólica é composta por obesidade, hipertensão arterial, dislipidemia, alterações de glicemia, mas os pacientes com mioesteatose significa que tem uma disfunção na usina geradora de energia da célula, que é a mitocôndria. Com isso, a esteatose aparece no fígado e no músculo como um sinal de que o organismo está metabolicamente alterado”, detalha o médico, reforçando que o estudo sobre a mortalidade na Covid-19 por pacientes com mioesteatose abre perspectiva para avaliações em outras doenças agudas e crônicas, também com risco de mortalidade.
Validação da tomografia computadorizada (TC) para sarcopenia
Existem vários métodos para avaliar a sarcopenia e a perda de força muscular. Alguns deles no exame físico do paciente e outros através da imagem. No caso do estudo dos casos clínicos dos pacientes participantes deste estudo, por terem o diagnóstico de Covid-19, já tinham passado pela Tomografia de Tórax. “Com isto, validamos a avaliação da sarcopenia e da mioesteatose através da Tomografia de Tórax como outra ferramenta que se coloca à disposição dos médicos para avaliar sarcopenia dos seus pacientes em diversas doenças”, ressalta Paraná.
Conhecimento e desenvolvimento de pesquisa
O Hospital Aliança Rede D’Or segue a mesma lógica das grandes redes de hospitais americanos e europeus, onde a assistência médica se associa à geração de conhecimento e ao desenvolvimento de pesquisa. O Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa, que gera e democratiza conhecimento, vem possibilitando uma atmosfera de elevada qualificação do corpo de profissionais das instituições pertencentes à Rede. “O Hospital Aliança, até então, tinha a atividade de pesquisa muito mais voltada a estudos de casuística. Mas, a partir deste estudo, a primeira tese de doutorado desenvolvida por meio do IDOR no hospital, coloca o Aliança no seleto rol de Hospitais privados do Brasil que produzem conhecimento” comemora Paraná, também professor da faculdade de Medicina na Universidade Federal da Bahia (UFBA).