Aiba e universidade federal mineira se unem em estudo inédito sobre teor de carbono no solo

De forma preliminar, a pesquisa identificou que o sequestro de carbono em áreas irrigadas é maior do que onde o plantio é realizado somente em sequeiro

Na semana em que o Dia Mundial da Terra é celebrado, a atenção global se volta para a urgência de abordar as mudanças climáticas. Em meio a essa preocupação, produtores rurais do oeste baiano têm se destacado ao unirem forças com pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, em um estudo pioneiro. Há seis anos, eles têm colaborado para analisar a evolução do teor de carbono no solo em áreas de agricultura na região.

Essa parceria visa não apenas entender os impactos da agricultura no ambiente, mas também encontrar maneiras de tornar a produção agrícola mais sustentável. Ao monitorar de perto o teor de carbono no solo, os pesquisadores e produtores estão trabalhando juntos para desenvolver práticas que não apenas alimentem o mundo, mas também preservem os recursos naturais essenciais para as gerações futuras.

“Significa maximizar a acumulação no solo do carbono fixado pelas plantas cultivadas no processo de fotossíntese e promover sistemas de produção que possuam elevada capacidade de adicionar carbono no solo, com menos ou menor emissão de CO². O balanço de carbono é o produto entre o quanto entra de carbono, via resíduos, parte aérea e raízes, quanto fica, ou seja, o que foi transformado, e quanto sai. Quando as entradas são maiores do que as saídas, o balanço é positivo. Quando as entradas são menores e as saídas são maiores, o balanço é negativo”, explica o professor doutor Associado Sênior Juca Sá, da Lal Carbon Center, da Ohio State University (EUA).

“Portanto, a agricultura de carbono versa sobre o balanço positivo. Os sistemas de produção que tenham essa capacidade serão considerados e eleitos para balanço positivo. Não procurando sistemas com balanço neutro ou mínimo, mas sistemas de produção que promovam balanços positivos de carbono”, concluiu Sá.

De forma preliminar, depois da coleta de 10 mil amostras de solo, a pesquisa identificou que o sequestro de carbono, com a remoção do gás carbônico na atmosfera, em áreas irrigadas é maior do que onde o plantio é realizado somente em sequeiro, respeitando o regime das chuvas. Com artigo publicado em revista internacional, o estudo tem o apoio do governo estadual através do financiamento do Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária (Prodeagro) em colaboração com os produtores rurais associados à Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).

Esse estudo inédito não só pode fornecer insights valiosos sobre a saúde do solo na região, mas também servir como um modelo de cooperação entre academia e setor produtivo. Ao aliar conhecimento científico e prático, essa iniciativa está contribuindo significativamente para enfrentar os desafios urgentes das mudanças climáticas e da segurança alimentar.

Para o professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Dr. Jorge da Silva Jr. esse estudo fortalece a importância da formação de novos manejos adequados para a região Oeste da Bahia. “Esses estudos são importantes para entendermos como práticas sustentáveis podem permitir, ainda mais, a elevação da produção, conservando as características do meio ambiente. Com isso, possibilita atividades de universidades em parceria com os produtores para a geração de mais conhecimento sobre o assunto, que é o principal objetivo nesse momento”, explica.

Projeto – Em 2023, o presidente da Aiba, Odacil Ranzi, iniciou as tratativas de um projeto piloto em parceria com a consultoria GSS Carbono e Bioinovação para impulsionar a adesão dos produtores a práticas sustentáveis. O projeto visa gerar créditos de carbono em áreas de Reserva Legal e Área de Preservação Permanente no Cerrado baiano. A iniciativa compensa os produtores pela preservação dessas áreas, fornecendo recursos financeiros para investimentos em melhorias nas propriedades, gerando benefícios sociais, ambientais e econômicos.

O presidente da Aiba, Odacil Ranzi, acredita que esse projeto será muito importante para os produtores da região. “Esse projeto irá reforçar ainda mais o compromisso de produzir com sustentabilidade e assim atender aos requisitos previstos no Código Florestal. Os produtores participantes poderão adquirir um retorno financeiro advindo dessas áreas, que, até então, ainda não tinham possibilidade de geração de renda”, defende.