Projeto de Marta Rodrigues quer chapéus de formatura para cabelos afro para Salvador

A proposição da vereadora do PT foi inspirado no movimento #RespeitaMeuCapelo e pretende aumentar inclusão no sistema de ensino de Salvador, a capital mais negra fora da África. Grife baiana Dendezeiros ajudou no desenvolvimento

A vereadora Marta Rodrigues (PT) apresentou um projeto de lei (80/20224) na Câmara de Salvador que obriga a prefeitura a disponibilizar ‘capelos’ – chapéus utilizados por estudantes em formaturas – para cabelos afro, cacheados, crespos e volumosos nas solenidades de colação de grau da rede municipal de ensino.

De acordo com a vereadora, a proposta tem o objetivo de promover inclusão, de colaborar no combate ao racismo e de empoderar, na primeira capital mais negra fora de África, os estudantes da rede municipal que tem cabelos afro e que não se sentem representados pelo acessório tradicional, por não conseguirem encaixa-los na cabeça durante um evento importante de suas vidas.

““Essa é uma realidade do universo estudantil, de todos os graus, e também acadêmico. Estes acessórios são fabricados em larga escala num modelo padrão que não contempla a maioria populacional da nossa cidade e do país, que é negra. Os capelos tem simbologia para os estudantes, fazem parte de um rito de passagem. É constrangedor saber que muita gente fica com este acessório na mão, em um momento importante da vida, porque não foi pensado par ela”, comenta a petista.

Marta também lembra que Salvador é a capital com maior população negra fora da África, somando 83,2% de indivíduos que se autodeclaram pretos ou pardos, de acordo com o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022. “Espaços de poder e de produção do conhecimento, para todas as gerações, precisam passar por alterações para não reproduzir o racismo estrutural. Apesar da política de cotas ter ampliado o acesso de pessoas negras às universidades, esses espaços permanecem valorizando a padronização da estética branca eurocêntrica. A identidade do povo negro e sua estética são invisibilizados”, disse.

Paras Marta, se vive uma nova quadra na história com o acesso à educação garantido no país. “No passado, a maioria que se formava nas escolas era branca, pois os negros evadiam. Muitos também passaram pelo procedimento de alisamento para se encaixarem no padrão exigido pelo racismo estrutural. Hoje a população negra está nas escolas. O poder público precisa ter compromisso com o empoderamento da maioria populacional no nosso país e este processo começa na escola”, disse.

O projeto de lei é inspirado no movimento #RespeitaMeuCapelo, idealizado pela agência GUT São Paulo e a Vult, marca de beleza do Grupo Boticário, e desenvolvido pela Dendezeiro, grife baiana agênero e especialista na pluralidade dos corpos. A parceria estima produzir 1000 unidades para as formaturas previstas no segundo semestre da Universidade Federal do Sul da Bahia e da Zumbi dos Palmares, em São Paulo. Como parte desse legado, os designs dos novos capelos foram disponibilizados gratuitamente para todas as universidades que quiserem reproduzir os modelos por meio da landing page do projeto (https://www.vult.com.br/respeita-meu-capelo).

Hisan Silva, CEO e Diretor Criativo da Dendezeiro, afirma a concepção dos capelos buscam abraçar a diversidade capilar. “E um mundo onde a representatividade é essencial, concebemos os capelos de solenidade para abraçar a riqueza da diversidade capilar. Celebramos as jornadas de sucesso e superação daqueles que concluem sua jornada acadêmica, marcando um momento de conquista e orgulho. Nossos capelos são emblemas de empoderamento, inclusão e a celebração da identidade. Estamos comprometidos em promover a igualdade e a representatividade em todos os aspectos da vida, começando por esse momento solene e significativo”, afirma Hisan Silva, CEO e Diretor Criativo da Dendezeiro

O PLE de número 80/2024 determina que a oferta, distribuição e aluguel desses acessórios específicos deverão ser assegurados pelas entidades organizadoras das colações de grau, “sendo vedada a imposição do uso do capelo tradicional para pessoas que possuam cabelos crespos e volumosos”.

“Em pleno século XXI, os setores público e privado precisam parar de apoiar a hipervalorização da estética branca eurocêntrica. É uma forma de combater o racismo, de empoderar nossos jovens, de falar que eles tem espaço e tem direitos como qualquer outro”, destaca Marta.