Muito se tem debatido sobre as metas de descarbonização e o planejamento das nações globais, principalmente quando se trata da organização da COP30, que acontecerá em Belém, no Brasil, em novembro deste ano.
A pauta da igualdade de gênero precisa ser priorizada no evento para reforçar o protagonismo feminino global. Essa é a visão de Beyza Ozdemir, diretora comercial e de negócios da Karpowership para a América do Sul.
Ela defende, nesta entrevista, que a presença de presidentes de diferentes nações e CEOs de big techs estimulam um diálogo maior sobre o papel das mulheres em um universo de indústria 4.0 e transição energética.
O uso de tecnologias verdes e a responsabilidade global pela redução de emissões têm sido o foco editorial da imprensa nos últimos meses em relação à cobertura da COP30. Você considera que falta uma discussão maior sobre o protagonismo feminino em um evento tão relevante em escala internacional?
BEYZA – Alcançar um consenso internacional sobre as metas de descarbonização é crucial para abordar a crise climática global. No entanto, em um evento de tal magnitude, como a COP30, é igualmente importante criar espaço para discutir o protagonismo feminino na construção de um futuro mais sustentável — especialmente em um mundo onde as estruturas de tomada de decisão em governos e grandes corporações ainda são predominantemente dominadas por homens.
Hoje, muitas mulheres estão na vanguarda de pesquisas científicas inovadoras, impulsionando acordos econômicos críticos e defendendo um planeta mais sustentável e equitativo para as gerações futuras. Como costumo enfatizar, o caminho para construir um mundo melhor depende da adoção de perspectivas diversas e da garantia de que todas as vozes — independentemente do gênero — sejam igualmente representadas.
Destacar a liderança feminina e seu potencial para impulsionar mudanças transformadoras deve ser um dos tópicos centrais da COP30 no Brasil. Isso não apenas reconheceria as contribuições notáveis das mulheres na luta contra as mudanças climáticas, mas também serviria de inspiração para jovens mulheres, mostrando a elas que podem aspirar e alcançar suas ambições pessoais e profissionais em qualquer área que escolherem.
Você sente falta de uma direção mais ampla para que as mulheres mais jovens possam se tornar as líderes globais do amanhã? Esse tópico poderia ser debatido com mais ênfase na COP30, na sua opinião?
BEYZA – Observo que muitas jovens ainda não têm certeza sobre seu futuro profissional. Em muitos casos, o desafio vai além do direcionamento da carreira — é sobre ter acesso a plataformas onde elas possam se expressar, compartilhar suas perspectivas e dialogar com profissionais experientes em diferentes setores. Eventos globais, como a COP30, podem desempenhar um papel transformador ao oferecer essas oportunidades, não apenas como um espaço para discutir a ação climática, mas também como um catalisador para empoderar a próxima geração de líderes femininas.
Se tais iniciativas forem estruturadas como parte da agenda oficial do evento, elas podem inspirar inúmeras jovens mulheres — tanto da região anfitriã quanto aquelas que viajam de todo o continente para participar da COP30 — a reconhecer que há espaço para elas na formação do futuro do nosso planeta. Imagine quantas meninas e adolescentes no Pará poderiam ouvir mulheres mais experientes compartilhando suas jornadas e perceber que elas também podem fazer parte desse movimento global.
Acho muito promissor que muitas organizações já tenham começado a mobilizar esforços para amplificar as vozes femininas em debates e eventos paralelos na COP30. Acredito que esse tópico poderia até ser colocado no centro da agenda climática, não apenas como uma discussão complementar, mas como um pilar vital do desenvolvimento sustentável.
Para concluir nossa entrevista, como você analisa os próximos passos para aumentar o protagonismo feminino em grandes corporações, mesmo diante de um momento global com algumas opiniões anti-ESG?
BEYZA – Avançar na busca por maior representatividade feminina em cargos de liderança não é apenas uma questão de inclusão — é um pilar essencial para construir um mundo mais equilibrado e sustentável. Mesmo diante de algumas narrativas anti-ESG, devemos permanecer comprometidos com a visão de longo prazo de diversidade, igualdade e progresso social.
No entanto, atingir esse objetivo vai além de simplesmente abrir portas — começa com a educação e o empoderamento de mulheres jovens desde cedo, tornando-as conscientes de sua relevância para a sociedade e sua capacidade de liderar a transformação. É crucial criar ambientes onde elas possam se ver refletidas em cargos de liderança, ter acesso a modelos e acreditar que sua voz importa.
Como alguém que navegou em uma carreira em uma indústria tradicionalmente dominada por homens, sei em primeira mão o quão importante é ter mentores, aliados e plataformas que apoiem o empoderamento feminino. Se tivermos sucesso em fortalecer essa consciência coletiva e garantir que as mulheres tenham oportunidades iguais para prosperar em diferentes setores econômicos, tenho certeza de que estaremos moldando um futuro melhor.
Meu conselho para as jovens mulheres, especialmente aquelas que aspiram trabalhar na indústria de energia e infraestrutura ou em qualquer outra área dominada por homens, é que construam sua confiança e não se deixem intimidar. O mundo está mudando, e cabe a nós contribuir para este contínuo processo de empoderamento das mulheres.