Ronaldinho vira réu em ação coletiva que pede R$ 300 milhões por pirâmide

Adriano Wilkson/Folhapress

O ex-jogador Ronaldinho Gaúcho virou réu em uma ação civil coletiva que pede R$ 300 milhões por danos morais e materiais por causa de sua ligação com a empresa 18kRonaldinho. Desde o ano passado, a firma tem bloqueado o dinheiro de clientes que investiram em suas atividades.

A ação coletiva está sendo movida pelo Ibedec (Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo) de Goiás, que diz ter identificado 150 pessoas lesadas pelo bloqueio das contas da 18k. De acordo com o Ibedec, as vítimas moram em vários estados brasileiros e em países como Estados Unidos, Portugal e Itália.

O valor estipulado na ação foi calculado com base nos supostos prejuízos das vítimas, mas o pedido ainda será apreciado pela Justiça. Além de Ronaldinho e da empresa que leva seu nome, aparecem como réus da ação os diretores e colaboradores Marcelo Lara Marcelino, Bruno Rodrigues Alcântara, Raphael Horácio Nunes de Oliveira e Athos Trajano da Silva, que costumavam arregimentar clientes em reuniões pelo Brasil.

No ano passado, o UOL Esporte foi o primeiro veículo a noticiar as atividades da empresa, que dizia fazer marketing multinível e prometia rendimentos de até 2% ao dia, além de prêmios como um Porsche Panamera para quem comprasse pacotes que iam de US$ 30 a US$ 12 mil (aproximadamente, de R$ 130 a R$ 52 mil). A promessa era auferir rendimento de operações na criptomoeda Bitcoin.

Em outubro, após uma reportagem revelar que o Ministério Público Federal investigava a 18k por suspeita de ser uma pirâmide financeira, prática considerada crime contra a economia popular, Ronaldinho anunciou seu desligamento e passou a se dizer vítima da empresa. Logo depois, os clientes começaram a não conseguir mais retirar o dinheiro investido na plataforma online.

Uma das vítimas listadas na ação é o youtuber Johnny Helder, que tem um canal com dicas de investimento. Ele afirma ter investido cerca de R$ 200 mil. Quando publicou vídeo criticando as atividades da empresa, teve sua conta bloqueada. Outros clientes lesados também já entraram com ações individuais, como é o caso de uma investidora do interior do Paraná e do youtuber Lucas Marques, do Rio Grande do Sul.

O advogado Fernando Barbosa, do Ibedec goiano, incluiu Ronaldinho como réu da ação coletiva pela convicção de que ele foi mais do que apenas um garoto-propaganda do negócio. “Tem várias propagandas, vários vídeos na internet, anunciando o ex-jogador como sócio da empresa”, afirmou ele. Apesar do nome de Ronaldinho não estar vinculado formalmente à empresa batizada em sua homenagem, em uma reunião da 18k no ano passado presenciada pela reportagem, a firma apresentou Ronaldinho como sócio-proprietário. Em encontros com membros e em vídeos institucionais, o ex-atleta promovia a associação à empresa.

Procurado, o advogado Sergio Queiroz, que defende Ronaldinho, disse que não se manifestaria porque ainda não teria sido notificado oficialmente. Mas disse que o ex-jogador “é parte ilegítima para figurar em qualquer ação que envolva a empresa do Sr. Marcelo Lara.” O advogado Gabriel Villarreal, que defende a 18k, também não quis se pronunciar, por ainda não ter sido notificado oficialmente. Ele afirmou não saber se o presidente e colaboradores da empresa iriam responder sobre o bloqueio das contas dos clientes.

Marcelo Lara Marcelino, que se apresenta como CEO da 18k e mora nos Estados Unidos, tem gravado vídeos distribuídos pelo WhatsApp, nos quais afirma que seu negócio foi vítima de uma fraude e que por isso teria bloqueado os saques de sua plataforma. Ele já prometeu devolver o valor investido em relógios e ações de outras empresas, mas os clientes dizem que, até agora, as promessas não se concretizaram. Firma também é investigada pelo Ministério Público

Além da ação civil, a 18kRonaldinho é alvo de uma investigação na esfera criminal, levada a cabo pelo Ministério Público de São Paulo. A promotoria já ouviu o ex-jogador. Na ocasião, ele afirmou ter tido o nome usado indevidamente em ações promocionais. Os promotores pretendem agora ouvir os sócios da empresa, que vivem no Rio de Janeiro, a respeito da denúncia.