No Matopiba, contratempos dão lugar à confiança em boa colheita

No momento em que as colheitadeiras começavam a entrar nas lavouras de Mato Grosso, maior produtor nacional, no Matopiba, região composta pelos polos agrícolas  do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, ainda havia tratores plantando a safra de soja.

Com um calendário de chuvas mais tardio, a região costuma plantar e colher mais tarde mesmo. Mas, neste ano, o cenário ficou mais nebuloso. A família Fritzen, que cultiva 23.500 hectares nos chapadões do Cerrado piauiense, enfrentou contratempos com o clima já quando começou a semear a soja, em outubro do ano passado.

A lavoura dos Fritzen foi atingida por uma estiagem que provocou perda de 500 hectares em novembro e 400 hectares em dezembro. Leivandro Fritzen, os irmãos Janaílton e Fernando e o patriarca Darci Fritzen replantaram toda a área prejudicada rapidamente.

A família semeou, ao todo, 17.800 hectares de soja e 5.700 hectares de milho na Fazenda Alvorada, localizada a 130 quilômetros da cidade de Bom Jesus (PI). Felizmente, no início do ano, as lavouras foram agraciadas por chuvas regulares e dias ensolarados.

Leivandro acredita que a estiagem e a necessidade de replantio da soja não devem prejudicar seus resultados finais, apesar do atraso e do custo com o retrabalho. A janela ideal de plantio se abre em novembro no caso da soja e em dezembro para o milho no Piauí. Ele conta que a família já trabalhava com a expectativa de haver uma estiagem nesta safra.

“É normal termos estiagens por aqui. Os últimos dois anos, que não registraram períodos tão secos, é que foram atípicos”, disse Leivandro Fritzen.

Mesmo com os contratempos na largada do plantio, a família Fritzen está otimista e espera repetir a boa produtividade obtida na safra passada, quando as médias foram de 65 sacas de soja por hectare (na região, a média é de 50 sacas por hectare) e 207 sacas de milho por hectare. Eles vão colher a soja a partir do dia 15 de fevereiro até meados de abril, e o milho, entre maio e julho.

Comercialização

De olho no mercado e nas previsões de chuva, os Fritzen já entraram na safra com pelo menos 40% da soja comercializada no mercado futuro. “Ficar esperando o preço subir para vender é arriscado demais, por isso preferimos trabalhar com preços razoáveis para a soja”, afirma Leivandro. A mesma estratégia, porém, não serve para o milho.

Com dois silos para armazenar os grãos na fazenda (e outros dois em construção), os irmãos Fritzen preferem definir a venda do milho após a colheita. “Ainda temos milho do ano passado armazenado nos silos para vender no melhor momento e queremos repetir essa estratégia na safra atual, aguardando as reações do mercado”, explica Leivandro.

Em anos anteriores, eles cultivaram o sorgo na segunda safra, no entanto, desde a safra 2018/2019, optaram pelo milho, devido aos bons preços. Neste ano, assim que colherem a soja, os Fritzen vão plantar mais 1.500 hectares de milho.

Para concluir a estratégia de negócios – e reduzir os custos –, os Fritzen ainda investiram numa frota própria de carretas para transportar sua safra da fazenda para o Porto de São Luís (MA), pela Transcerrados (PI-397), rodovia que atravessa a principal região produtora de grãos do Piauí. A manutenção da estrada é feita pelos próprios produtores.

Proteção do solo na Bahia

Na região Oeste da Bahia, o produtor rural Luiz Antonio Pradella, sócio do Grupo Pradella, finalizou a semeadura de suas lavouras, nos arredores do município de Luís Eduardo Magalhães, dentro da época recomendada, no mês de novembro: 75% da área foi cultivada com soja e 25% com milho.

“Tivemos um período de estiagem logo após o plantio, algumas áreas precisaram ser replantadas e, por precaução, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia ampliou o prazo de semeadura para a soja até o dia 20 de janeiro”, lembra o agricultor. Luiz Antonio diz que as chuvas voltaram com regularidade à região, que faz divisa com o estado do Tocantins, no final do ano, mais precisamente no dia de Natal.

“Não teremos uma safra tão excelente como na temporada anterior, mas, ainda assim, será uma safra muito boa no oeste baiano”, destaca Pradella.

Os problemas que ele relatou, porém, não foram provocados pelo clima, mas pela má qualidade das sementes. “Como no ano passado tivemos atraso na colheita, devido ao veranico, as sementes estavam com a qualidade comprometida.”

Ainda assim, em suas lavouras a expectativa de produtividade nesta temporada é igual à do ano anterior e chega a 77 sacas de soja por hectare, enquanto a média regional é de 56 sacas por hectare. No oeste baiano, de acordo com o produtor, a projeção para a safra de soja 2019/2020 é de 6,4 milhões de toneladas, 20% acima dos 5,6 milhões de toneladas colhidas na safra 2018/2019.

Soja e algodão

O destaque da agricultura no oeste baiano é a soja, seguida do algodão (que começou a ser semeado em dezembro e termina em 10 de fevereiro). A oleaginosa e a fibra vão para exportação, enquanto o milho, de primeira safra, é destinado ao mercado interno. 

“Como as chuvas na região param em meados de abril, que é o final da colheita da soja, não investimos no cultivo de milho safrinha”, conta Luiz Antonio, que na entressafra planta milheto, sorgo ou braquiária para formar uma boa palhada e proteger o solo. “Não é só uma cobertura de solo. É a garantia de que, na próxima safra de soja, teremos menos perdas geradas pelo clima”, diz o produtor.


Fonte: Revista Globo Rural

Foto: Rogério Albuquerque