Caros leitores, ao longo da minha formação estive em hospitais de diversas regiões do nosso Brasil e de vários países em diferentes continentes. Para nós, acostumados com hospitais superlotados, o cenário de um hospital comum em um país desenvolvido lembra nossas urgências em dia de copa do mundo. Quando veio a pandemia do coronavírus eles foram surpreendidos com uma grande demanda em pouco tempo. Quase que da noite para o dia viram todos os seus leitos serem ocupados. Tenho visto vários vídeos de hospitais italianos e espanhóis em meio ao caos. Posso garantir com absoluta certeza que se dobrassem o número de pacientes não seria pior que a emergência do Hospital Agamenon Magalhães quando estive lá em 2007. Não seria pior que a rotina de superlotação de nossos hospitais universitários. Acontece que nós nos acostumamos com a situação desumana de nossas instituições. Para os países mais desenvolvidos isso é inaceitável. Já para nossa realidade será mais uma mazela que o SUS absorverá na sua eterna guerra. A saúde privada vai conseguir lhe dar com o Coronavírus, com esforço, mas vai. Um ponto positivo, difícil de acreditar que aconteceria, foi a capacidade do Governo de criar tantos leitos hospitalares em pouco tempo. Por isso acredito que não será tão traumatizante para nossa sociedade, o que não quer dizer que será fácil para os doentes graves e para os profissionais de saúde. Quero dizer que a epidemia será mais impactante no dia-a-dia de quem vive a rotina hospitalar do que será para a maioria de vocês leitores. A sociedade já vive alheia ao que acontece nos hospitais públicos e vai continuar vivendo. Quem de vocês imagina ou tem conhecimento que salas de emergência com 4 leitos têm 16 pacientes em estado grave que definham sem ter a adequada continuidade do cuidado? Que salas de parto para 6 gestantes têm 18 mulheres em trabalho de parto? Que em algumas emergências você tem que gritar o nome do paciente e saltar colchonetes com pacientes no chão para localizar alguém? Pois é, isso não faz parte da vida de vocês e vai continuar sem fazer. E o Brasil prova há pelo menos duas décadas que a sociedade é capaz de viver, bem ou mal, com o caos da saúde. Mas isso é só minha opinião e ela pode mudar em 24h com o próximo boletim epidemiológico.
Elson Viana
Médico Dermatologista e Gestor em Saúde