Medida adequada era ter cancelado o Carnaval, defende Drauzio Varella

O médico e colunista da Folha Drauzio Varella afirmou que a realização de grandes eventos públicos no começo deste ano, especialmente o Carnaval, contribuiu para a disseminação do coronavírus pelo Brasil.

Disse ainda que ele mesmo substimou a gravidade da situação por falta de informações vindas da China e criticou a demora das autoridades para tomarem medidas preventivas.

“Nós fomos muito benevolentes com essa doença, fomos otimistas demais. Eu mesmo me penitencio por isso”, disse Drauzio durante entrevista à repórter especial Cláudia Collucci, na estreia do Ao Vivo em Casa, série de lives (transmissões ao vivo) da Folha, nesta quarta (15).

Para o médico, não só as autoridades brasileiras mas também as de países europeus, como a Espanha, demoraram para agir na contenção da pandemia.

“A Espanha está do lado da Itália [epicentro do coronavírus na Europa] e, quando a Itália decretou o isolamento para a população, os espanhóis fizeram aquela Marcha Para as Mulheres, com 200 mil mulheres no centro de Madri. Como admitiram aquilo? Como nós fizemos o Carnaval?”, questiona.

Para ele, a decisão mais adequada diante do avanço da doença na China teria sido cancelar as festas populares pelo Brasil. “Certamente o vírus se disseminou ali naqueles encontros de grande quantidade de gente.”

Drauzio vê com preocupação o risco de o sistema de saúde do país entrar em colapso, sobretudo porque isso afetaria não só os doentes com a Covid-19, mas também com qualquer outra enfermidade.

“Quem sofrer um infarto vai pra onde? Quem sofrer um AVC vai para onde? Quem quebrar a perna no degrau de casa ou quem sofreu uma queda no banheiro, para onde vão essas pessoas? Sistema em colapso significa nenhuma vaga para ninguém”, alerta.

Em um cenário como esse, muitas pessoas que poderiam ser salvas acabariam morrendo até mesmo por falta de ar, o que deixa Drauzio Varella perplexo. “A morte por falta de ar é inaceitável em uma nação civilizada”, critica. “E pessoas com outras doenças que poderiam ser tratadas com facilidade vão morrer também por falta de condição de tratamento.”

Questionado sobre os tratamentos que estão sendo estudados para a Covid-19, o médico foi cauteloso ao falar da hidroxicloroquina. “Se eu pegar o vírus, não vou tomar [hidroxicloroquina]. Eu não sei se vai fazer bem ou se vai acelerar a minha morte”, afirma. “Pode ser que essa droga passe pelos testes e se mostre uma arma importante. Mas a gente tem que esperar.”

Folha de S.Paulo

Foto: Reprodução