Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais, vem realizando um estudo inédito em propriedades rurais do Oeste da Bahia com o objetivo de determinar a evolução do teor de carbono no solo em áreas de agricultura da região. De forma preliminar, depois da coleta de 10 mil amostras de solo, a pesquisa identificou que o sequestro de carbono, com a remoção do gás carbônico na atmosfera, em áreas irrigadas é maior do que onde o plantio é realizado somente em sequeiro, respeitando o regime das chuvas. Com artigo publicado em revista internacional, o estudo, realizado com apoio da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) fomentado pelo Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária (PRODEAGRO), através da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), também pretende discutir a inserção da agricultura baiana no conceito de agricultura climaticamente inteligente.
O pesquisador líder do projeto, o engenheiro agrícola Marcos Heil Costa, explica que o estudo também analisou o sequestro de carbono em áreas de solos com diferentes composições, áreas irrigadas e de sequeiro, além das comparações com áreas de mata nativa do Cerrado. “Ao contrário das áreas de sequeiro arenosas, os solos mais argilosos e em área irrigada possibilita melhores condições para proteção física e química da matéria orgânica (MO) e realizam maior troca gasosa. Além de praticar uma agricultura intensiva, os produtores da região estão adotando várias técnicas de conservação de solo e água, como o plantio direto e o cultivo na safrinha, fatores que contribuem para a elevação do teor de carbono dos solos”, afirma ele, que também tem pós doutorado em Climatologia pela Universidade de Wisconsin – Madison.
Apesar de manter o nível dos solos, a pesquisa demonstra ainda que a maior parte da agricultura da região é de sequeiro com solos arenosos e não estavam realizando, durante a análise dos dados o papel de sumidouros de gás carbônico, função que poderia ser potencializada com a irrigação. “Os resultados são relevantes e medem o real impacto que a agricultura tem ocasionado na região. Com esse dado é possível que gestores se orientem na formulação de políticas públicas, favorecendo a qualidade de vida e executando uma agricultura sustentável”, afirma o pesquisador da UFV, Everardo Mantovani, que também se dedica ao Estudo do Potencial Hídrico do Oeste da Bahia.
Ainda segundo Mantovani, que também é Dr. em Agronomia pela Universidade de Córdoba, na Espanha, os resultados preliminares deste estudo demonstraram a possibilidade de ampliação da área irrigada na região em diversas bacias. “Estudos complementares estão sendo feitos para caracterizar melhor este tema com base no levantamento de outorgas na região, sendo importante avaliar caso a caso através de um processo normal de solicitação de outorga junto ao INEMA, que participa ativamente do estudo”, reforça.
Com 8% da produção irrigada no Oeste da Bahia, o presidente da Abapa, Júlio Cézar Busato, reforça a importância da base científica para a tomada de decisões no uso dos recursos naturais. “Este é mais um estudo que demonstra o quanto a irrigação pode ser benéfica para os solos no sequestro de carbono. Além do desenvolvimento socioeconômico regional, a irrigação com o amparo tecnológico, com uso de equipamentos modernos para otimização e controle da água para a irrigação, pode trazer benefícios para toda a comunidade, garantindo inclusive mais produtividade, sendo mais produtivo e sustentável, utilizando toda a potencialidade do solo e das terras”, afirma.
O artigo da UFV sobre o sequestro de carbono publicado em revista internacional pode ser acessado em: https://www.mdpi.com/2077-0472/10/5/156, ou no site da Abapa em: http://abapa.com.br/pesquisas/
Fonte:Site ABAPA / Foto:ABAPA