Entrevista: secretário de Agricultura da Bahia, Lucas Teixeira

Lucas Teixeira Costa assumiu a Secretaria de Agricultura da Bahia (Seagri) em janeiro deste ano.  Nascido em Belo Horizonte, mas criado na Bahia, em Itapetinga, Lucas se define, de fato, como um produtor rural. Graduado em Engenharia Agronômica, mestrado, doutorado e pós-doutorado em Produção de Ruminantes. Esteve como professor convidado da UESB, na área de pós-graduação. Era proprietário também de uma empresa de assessoria técnica, desfeita assim que assumiu a pasta.  “Quem está na pasta da Agricultura hoje é um produtor rural. Para mim uma das melhores características que eu tenho é ser um produtor rural. Ficamos muito honrados com a indicação do deputado Félix Mendonça Junior. Nos honra fazer parte de um governo igual ao governo Rui Costa, altamente eficiente nos tratos com o recurso público. Um governo que investe muito apesar do orçamento reduzido”, pontuou Lucas, que recebeu a equipe do Bahia Sem Fronteiras em seu gabinete e respondeu a todas as perguntas da nossa reportagem com propriedade de quem, no bom português, conhece “do riscado”. Confira a entrevista:

Bahia Sem Fronteiras – Como está a situação do Agronegócio na Bahia?

Costumo sempre dizer que a Bahia é agro. Temos quase ¼ do PIB baiano no Agronegócio. É o nosso maior setor.  É o único setor que ainda cresce, mesmo com a depressão econômica que temos vivenciado. Não só na esfera estadual, como federal também. Somos o setor que mais emprega na Bahia. A Bahia possui diversos ecossistemas, diversas produções… Acabamos de chegar da Chapada onde Pudemos ver a pujança na produção de fruticultura de qualidade. Amoras, framboesa, pêssego, maçã… Tudo isso produzido dentro da Bahia. Temos também o Vale do São Francisco, que sempre fica entre as cinco regiões mais empregadoras do país. Isso mostra a importância do agro aqui na Bahia.

Qual seria o carro chefe do Agronegócio na Bahia?

O produto que a gente mais exporta é a soja, lá do Oeste. Também na região oeste, estamos crescendo em produção de algodão. Estamos em segundo e já passando para primeiro em termos do melhor algodão do mundo. Temos apresentado crescimento na produção de milho, também no Oeste. Estamos querendo motivar a fruticultura em regiões onde ainda não existem. No próximo dia 6 de setembro estaremos em Itapetinga, onde tem uma crescente pecuária com o maior rebanho do estado. Estaremos lá com a Embrapa fazendo uma reunião para criar o primeiro polo de fruticultura do Sudoeste baiano. Isso será importante por ser uma cultura com alta agregação de valor.

Os investimentos feitos pelo Governo do Estado são proporcionais aos retornos que o agronegócio vem trazendo para a Bahia?

As demandas são infinitas. Os recursos nunca são eficientes. Claro, que a gente queria ter mais… Mas com certeza estamos atuando de forma assertiva. Com recursos escassos, mas com eficiência. Temos articulado muito para a questão de infraestrutura e a questão ambiental. Trabalhando sempre com sustentabilidade. Queremos mostrar que o agronegócio não é o vilão da história. O Governo do Estado, com certeza, tem apoiado muito o produtor com pesquisas em universidade, melhoria nas estradas e a questão ambiental que tem sido tratada cada vez mais tecnicamente.  

Como o senhor avalia as atuais políticas de atuação do Governo Federal para o Agronegócio? E como tem se dado essa relação?

Temos vistos ideias contraditórias. Não acho correto como vem se tratando, principalmente, a questão ambiental. O presidente da república fala de forma contrária ao que pensamos. O governo do estado pensa diferente, aqui o que temos visto é o agronegócio sustentável. Essa é a imagem que precisamos passar para o mundo, não essa loucura que tem sido passada. Nós, aqui da Seagri, temos um link muito forte com o pessoal da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Temos trabalhado o meio ambiente de forma extremamente técnica e sustentável. E é assim que vamos produzir produtos de qualidade, de boa expressão e com boa visibilidade para o mundo.

Como o senhor avalia a situação dos produtores baianos?

Eu acho que os produtores baianos, como todos os produtores rurais, são grandes guerreiros. A gente trabalha sem sábado, sem domingo. Uns com um pouquinho mais de sofrimentos, outros com menos. Mas, com certeza, com muita vontade de trabalhar.

Quais os próximos eventos promovidos pela Seagri em 2019.

Tenho feito muitas viagens. Não temos parado em Salvador. Acabamos de chegar da Chapada. Na próxima semana estaremos em Juazeiro, no Vale do São Francisco.  Lá teremos um evento promovido pela Seagri, em parceria com o pessoal de Pernambuco. Em breve teremos um outro evento em conjunto com quatro outras secretarias. (Sema, Setur, Setre, Sihs). Estaremos todos os secretários juntos andando a Chapada Diamantina. Um mutirão de secretários! A Seagri está andando no campo, linkando o produtor com a administração pública. Teremos também a Fenagro e até o final do ano estaremos em Paris para o Salão do Chocolate.

Como o senhor vê o processo de retomada do cacau baiano?

O cacau baiano está divido em dois tipos diferentes: o cacau a pleno sol irrigado, que é a produção que a gente tem visto com extrema valorização e que tem chegado a uma produção de até 200 arrobas por hectare. Acho que esse é um cacau que tem um futuro promissor. E temos também o Cacau Cabruca. É um outro tipo, completamente diferente. Onde a gente precisa evoluir em produtividade. Um produtor não pode ficar produzindo em torno de 15 arrobas por hectare. Temos trabalhado em três frentes que é a assistência técnica, o fomento bancário (crédito) e, por fim, precisamos melhorar densidade da nossa lavoura. Temos poucas árvores por hectare. Nesses três pontos faremos o Cacau Cabruca sair dessa situação em que se encontra. Na Câmara Setorial do Cacau em Ilhéus pontuamos bastante a questão do credito. Temos trabalhado, inclusive, junto ao Ministério da Agricultura sobre essa questão. Os produtores precisam, não somente ter o parcelamento da dividia, mas acesso a novos créditos. É preciso investir na lavoura. O que temos visto são lavouras em decadência. Outro pleito nosso é que a preservação ambiental tenha reconhecimento financeiro. Acredito que isso possa trazer recursos ao produtor e uma sobrevida interessante.

Como a Seagri entende o processo do plantio e extração de madeira, sobretudo do Eucalipito, na região de Esplanada à Entre Rios, no extremo-sul do estado?

O eucalipto é uma cultura que está a ponto de explodir na Bahia. Temos a maior produtividade do mundo em eucalipto, embora ainda existam alguns preconceitos. Um deles é aquela questão de que se vai empobrecer o solo. Isso já vencemos. Temos capacidade técnica suficiente para provar que isso não ocorre. Uma outra situação é a questão de empregabilidade. Se a gente comparar com fruticultura, por exemplo, esse argumento tem razão. Mas se a gente comparar com pecuária extensiva a coisa já muda de figura. O estudo tem que ser feito caso a caso. A cultura tem uma produtividade imensa, em alguns momentos não vai gerar empregos no campo, mas quando chega a indústria se gera emprego sim. Gera riqueza para a região. Esses preconceitos com o eucalipto eu não sou muito adepto. Acho que antes de querer frear o crescimento, temos é que pensar no zoneamento correto desse eucalipto.

Temos uma deficiência na produção de proteína na Bahia, onde consumimos muito mais do que produzimos. Como o senhor enxerga a retomada da bovinocultura no estado?

Temos uma demanda de 1,3 bilhões de litros, em relação ao leite e temos uma demanda de 25% de crescimento da carne bovina. A gente enxerga isso de forma muito clara. Primeiro que a gente precisa melhorar os índices, que são muito ruins. Temos 2,5 litros de leite por vaca. É muito pouco. Tem ainda a questão da quantidade de animais por hectare, que também é muito baixa.  Enquanto tivermos esses índices de produtividade, olhando a questão econômica nesse viés, a gente vai falar que a atividade é ruim. Mas na verdade não é a atividade que é ruim. A gente que está sendo ineficiente. Temos exemplos de produções de sucesso aqui na Bahia. Um dos pontos em que mais trabalhamos aqui na Seagri é a verticalização da produção no Oeste e a pecuária pode agregar muito nesse sentido. Estamos retomando. Mas acho que a vertente maior, e a Seagri entra nisso,  é na assistência técnica ao produtor. Isso vai fazer a pecuária baiana mudar. Vamos mudar isso.

O senhor acha que a retomada dos frigoríficos é também um alavancador desse crescimento?  

Não tenho dúvida. Quanto mais comprador, melhor a formação da sua cadeia produtiva. Isso é fato.

Como o senhor enxerga a possibilidade da descontinuidade do Parque de Exposições de Salvador?

A ideia nossa com relação ao Parque de Exposições é dar uma viabilidade cada vez maior ao espaço. A Superintendência de Politica e Agronegócio vem trabalhando com bastante afinco nesse sentido. É um espaço extenso e com uma visibilidade muito interessante e que a gente quer que fique, sim. Vejo a possibilidade de fechamento como remota. Isso já vem sendo vencido.

Como vem sendo o trabalho da Seagri junto à Superintendência Federal de Agricultura, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA ), Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e Bahia Pesca?

Agradeço até a pergunta porque gosto muito de falar desses três. O Paulo Emilio é um amigo irmão. Estava aqui na Seagri até pouco tempo atrás. Temos nos encontrado praticamente toda semana. Já o Mauricio foi um reforço de peso para a Adab. Tem atuado muito. Temos também Marcelo Oliveira na Bahiapesca… João Martins na CNA, que é um amigo nosso.  O irmão dele é de Itapetinga. Ele tem agregado muito ao agronegócio não só baiano, mas a nível nacional.

Todo mundo junto.  É a família Seagri. Quem vem agregar ao agronegócio fica ao nosso lado. É como um amigo meu produtor costuma falar:  parece que a gente fez alguma coisa boa a Deus por que está ajudando de todos os lados.