Na tentativa de aumentar a chance de uma reeleição em 2022, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reavaliou estratégia de se manter afastado das disputas municipais deste ano.
Em conversas reservadas com deputados bolsonaristas, o presidente, que inicialmente havia decidido não apoiar candidaturas a prefeito, reconheceu na semana passada que está disposto a subir em palanques nos municípios no segundo turno.
E, de acordo com relatos feitos à Folha por dois aliados políticos, apesar de demonstrar ainda resistência, o presidente não descarta respaldar nomes já no primeiro turno, caso seu apoio se mostre crucial para garantir a vitória de um aliado.
O objetivo de Bolsonaro, de acordo com assessores presidenciais, é garantir que sua campanha à reeleição conte com apoios regionais de peso, sobretudo em capitais como São Paulo, Rio e Porto Alegre.
A ofensiva também busca não permitir a eleição de candidaturas municipais alinhadas a eventuais postulantes presidenciais do campo da direita que possam ameaçar a sua reeleição, como João Doria (PSDB), Sergio Moro (sem partido) e Luiz Henrique Mandetta (DEM).
“Eu acho que o presidente, no momento necessário, vai colocar a presença dele, principalmente no segundo turno”, disse à Folha o vice-presidente Hamilton Mourão, que já relatou a disposição de apoiar candidatos nas eleições municipais, marcadas para novembro.
Na sexta-feira (28), em mensagem nas redes sociais, Bolsonaro escreveu que decidiu não apoiar nenhum candidato a prefeito no primeiro turno das eleições municipais e afirmou que não se filiará a nenhuma legenda neste ano.
A mensagem, segundo aliados do presidente, foi publicada para tentar diminuir sobre ele a pressão de candidatos que têm feito romaria diária ao Palácio da Alvorada em busca de uma foto ou de um vídeo para divulgação.
Nos bastidores, no entanto, o presidente tem adotado retórica diferente. Os aliados do presidente apontam, porém, que ele já deixou claro que não tomará partido caso os dois favoritos sejam filiados a siglas que apoiam a gestão federal e caso o candidato alinhado à sua gestão tenha problemas judiciais.
O presidente quer evitar tanto uma cobrança futura por eventuais escândalos municipais de corrupção como um mal-estar em sua base aliada que possa comprometer votações de interesse do governo.
Assessores lembraram que Bolsonaro deve evitar cometer o mesmo erro do apoio na última disputa ao ex-juiz Wilson Witzel (PSC), eleito graças ao apoio do presidente para o cargo de governador do Rio.
Na sexta-feira (28), Witzel foi afastado da função por 180 dias por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) sob suspeita de irregularidades em contratações em meio à pandemia do coronavírus.
O apoio considerado mais garantido de Bolsonaro nas eleições municipais é à reeleição de Marcelo Crivella, do Republicanos, no Rio de Janeiro. O principal adversário do bispo licenciado da Igreja Universal é o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).
Além de ser crítico do presidente, Paes é do mesmo partido de Mandetta, desafeto político de Bolsonaro, e conta com o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com quem Bolsonaro protagonizou quedas de braço ao longo de seu mandato.
Aliados de Maia, porém, dizem que o apoio a um adversário do candidato do presidente da Câmara pode ser uma medida arriscada, já que a pauta da Casa e dezenas de pedidos de impeachment estão nas mãos dele até o início de fevereiro, quando deixará o posto.
Em São Paulo, o favorito do presidente é o deputado federal Celso Russomanno (Republicanos-SP), que deve disputar contra o prefeito Bruno Covas, aliado do governador João Doria, ambos do PSDB.
Segundo assessores presidenciais, Bolsonaro considera a capital paulista um posto-chave para a sua reeleição.
No ano passado, o presidente se animou com uma eventual candidatura do apresentador José Luiz Datena, pelo MDB, e cogitou apoiá-lo. O jornalista, no entanto, passou a criticar Bolsonaro e já desistiu de disputar um mandato neste ano.
O antigo partido do presidente, o PSL, deve lançar a deputada federal Joice Hasselmann. Bolsonaro disse a assessores palacianos que não apoiará, em hipótese alguma, a parlamentar, que rompeu com ele no ano passado.
Em Belo Horizonte e em Porto Alegre, deputados bolsonaristas apontam a possibilidade de apoios do presidente a Bruno Engler, do PRTB, e a Sebastião Melo, do MDB. Em Fortaleza, Bolsonaro tem simpatia pelo deputado federal Capitão Wagner (PROS), mas o próprio parlamentar já refutou a alcunha de candidato do presidente.
Em Curitiba, por sua vez, disputará a prefeitura o deputado estadual Fernando Francischini (PSL), aliado de Bolsonaro e um dos coordenadores de sua campanha presidencial em 2018.
“O presidente vem falando que não vai entrar no primeiro turno. Eu acho que ele está correto em manter a base aliada”, disse Franschini à Folha.
Na última quarta-feira (26), o presidente se reuniu com deputados aliados do PSL para discutir a sua eventual volta à legenda. No encontro, porém, ele disse que só tomará uma decisão em 2021 caso não seja possível viabilizar a criação da Aliança pelo Brasil.
Na reunião com integrantes da sigla, o presidente disse, segundo deputados presentes, que só irá retornar à legenda se forem afastados desafetos políticos, como os deputados federais Junior Bozzella (SP), Joice Hasselmann (SP) e Delegado Waldir (GO). A proposta não foi bem aceita pelo dirigente nacional do PSL, Luciano Bivar (PE).
“Este PSL que ele conversou não é o PSL. São aqueles renegados. Isso [o regresso de Bolsonaro] não vai acontecer, ainda mais se ele impuser condições”, disse senador Major Olímpio (PSL-SP), outro ex-aliado de Bolsonaro.
Além do PSL, o presidente avalia ingressar no PTB, do ex-deputado federal condenado no escândalo do mensalão Roberto Jefferson, ou no Republicanos, partido em que estão filiados seus filhos mais velhos, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador Carlos Bolsonaro (RJ).
Jefferson repaginou o PTB para dar-lhe um verniz mais conservador e já foi ao Planalto conversar com Bolsonaro e distribuir a última versão do programa da legenda.
Folhapress