Os moradores de municípios que fazem parte da Região Metropolitana de Salvador (RMS), incluindo a capital baiana, estão na liderança dos atrasos no pagamento de dívidas bancárias no Brasil.
Considerando sete modalidades diferentes de crédito, as cidades baianas possuem o maior porcentual de atrasos no pagamento em quatro deles. Em alguns casos, como no rotativo do cartão de crédito, o índice chega a ser mais de três vezes o verificado no Distrito Federal, local com alguns dos menores porcentuais de atraso.
De acordo com levantamento foi feito pelo Broadcast do jornal Estado de S.Paulo, com base no Sistema de Informações de Crédito (SCR) do Banco Central, no caso do cartão de crédito, a sub-região com CEP de início 42 possui o maior índice de atrasos. De toda a carteira de R$ 419,8 milhões de crédito no cartão, R$ 52,8 milhões estão em atraso superior a 15 dias, o que representa 12,57% do total. Essa é a situação dos moradores de partes de Salvador e das cidades de Madre de Deus, Lauro de Freitas, Camaçari e Dias d’Ávila. Em Brasília, sub-região com o menor índice, o porcentual é de apenas 3,49%.
Os dados são de março deste ano e levam em conta atrasos de mais de 15 dias no pagamento de dívidas bancárias, conforme as sub-regiões do país. São consideradas todas as dívidas superiores a R$ 200. As sub-regiões são definidas de acordo com os dois primeiros números do CEP dos devedores, o que permite determinar exatamente onde eles estão.
O Banco Central, tecnicamente, considera como caso de inadimplência apenas o crédito com mais de 90 dias de atraso. Empresas que atuam na área de análise de crédito costumam utilizar critérios diferentes, como a Serasa e o SPC. A economista Isabela Tavares, da Tendências Consultoria Integrada, explica que o atraso de 15 a 90 dias costuma ser chamado de pré-inadimplência. “Existe uma defasagem até chegar aos 90 dias, mas os dados de atraso refletem depois na inadimplência”, falou.
Pelos números do BC, os moradores das cidades com CEP 42 também possuem os maiores índices de atrasos no pagamento de “outros créditos” – que englobam operações como as de cheque especial, microcrédito e conta garantida, entre outros. O porcentual na sub-região é de 16,81%. Os moradores de cidades com CEP 43 possuem os piores índices nos empréstimos sem consignação em folha (12,39%) e nos empréstimos para compra de veículos (2,28%). Isso inclui as cidades baianas de Simões Filho, Candeias, São Sebastião e São Francisco do Conde.
Segundo reportagem, por trás dos índices está a dificuldade dos moradores da região metropolitana de Salvador em pagar as contas, em um ambiente de desemprego e redução de renda. “É uma região que tem atravessado um momento crítico do ponto de vista do mercado de trabalho”, avalia o professor Henrique Tomé da Costa Mata, da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). “A taxa de desemprego é mais intensa na região metropolitana. Além disso, é uma região que sobrevive muito na base da informalidade, principalmente o centro urbano de Salvador.”
QUEDA DE RENDA
A taxa de desemprego na região metropolitana de Salvador estava em 18,6% no segundo trimestre quando a taxa média do Brasil foi de 12%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mata explica que o comércio é a atividade mais importante da capital baiana, enquanto municípios do entorno, como Camaçari e Candeias, possuem parte significativa dos ganhos ligados aos royalties do petróleo, que caíram nos últimos anos.
De acordo com Isabela Tavares, da Tendências, a dificuldade de pagar dívidas é percebida entre a população do Nordeste, não apenas da Bahia. “E não só bancárias”, acrescenta. “O que vemos muito são pressões orçamentárias em outras dívidas, mais de primeira necessidade, como contas de água e luz, que têm pagamento prioritário”.
Entre a população que possui renda, a Bahia também apresenta desvantagem em relação a outros Estados e à média do País. Dados do IBGE mostram que, em 2018, a renda domiciliar per capita no Estado foi de R$ 841 por mês – menos de um salário mínimo. Esse valor foi 2,44% inferior ao verificado em 2017. Na média brasileira, a renda domiciliar per capita foi de R$ 1.373 no ano passado.
Os baianos enfrentam forte desemprego e retração da renda. “Os Estados do Nordeste têm sofrido muito com a crise que assola o Brasil. A construção civil está parada, há reflexos no comércio e o turismo se reduziu na Bahia”, afirmou Mário Dantas, presidente da Associação Comercial da Bahia. “Todos estes fatores levam ao desemprego, à baixa da renda. A população acaba caindo na inadimplência”, completou.
Fonte: Bahia Notícias