Futurismos Ladino Amefricanas (F.L.A), plataforma idealizada pela feminista negra, pesquisadora, produtora cultural e multiartista Sanara Rocha, lança dia 24 de março a primeira edição de sua revista virtual, que versa nas perspectivas das pessoas negras e indígenas urbanas do Brasil. Com a realização de duas lives bate-papos nos dias 24 e 25 de março, ambas às 20h, a publicação se transformará em uma mensagem para o futuro e ficará disponível, de forma permanente, na plataforma Issuu, com link disponibilizado no Instagram do projeto (@futurismos_la).
Através de ensaios poéticos sobre uma terra que ainda nos é desconhecida e com referência no conceito Ladino Amefricanidade da intelectual Lélia Gonzalez, a revista mira em reflexões sobre o Brasil por meio do olhar futurista, com fotografias e escritas da realizadora e das artistas Tina Melo, Laís Machado, Diego Alcântara, Xan Marçal, Laura Franco e Luiz Guimarães. No dia 24 de março, estes participam de lives que trazem suas trajetórias e vivências, tensionando os limites que as categorias de identidade apresentam. E no dia 25 de março a Live bate-papo contará com a presença de Márcia Kambeba, mulher indígena pertencente ao povo Omágua/Kambeba do Amapá, Multiartista com reconhecimento internacional, liderança do Povo Kambeba e Vice Presidente da Associação dos povos Indígenas de Belém Wika Kwara.
A publicação tem Mari Paim como editora e curadora textual, ao lado de Sanara Rocha, que ao dividir a função conduzem a linha editorial da revista de forma primorosa, fortalecendo a busca pela coletividade presente no projeto. Além de trazer questões estruturais na construção do país, da ideia de nação brasileira, e a quem serve transformar a sociedade em homogênea, é pela via biográfica e poética das convidadas(es), que não só a crítica sobre violências estarão presentes na edição realizada por ambas, mas a coletividade como força motriz para fortalecimento dos símbolos e construção da memória de pessoas diversas, complexas e com particularidades culturais que formam e são a cara do Brasil, que ainda pode e é reinventado através das ressignificações afro-indígenas.
As escrevivências trazem seus territórios, como os entendem e como refletem em suas artes, extensões das suas estéticas de vida. Dentro dos seus ensaios, estão temas como mestiçagem, branquitude, gênero, colonialidade, disputas narrativas dentro da linguagem popular, entre outros, a partir desse aldeamento entre essas artistas(es) nordestinas e nortistas, que trazem para o centro do debate as questões e tensões estruturais, sexistas e racistas por meio de suas potencialidades.
“Como Lélia nos lançou essa mensagem-conceito na garrafa lá na década de 70 e nos apontou que o Brasil precisaria reparar também o silenciamento das narrativas indígenas, se livrar do imperialismo norte-americano e se entender muito mais negro e indígena do que latino ou ibero-americano se quisesse realmente ser livre, fincamos nossa revista como um caminho, como pistas futuristas desse aquilombamento”, trouxe Sanara Rocha.
A revista online é mais um passo do F.L.A, que abriu com convocatória para artistas pretes e indígenas e a subsequente exposição online Abre O Olho – Jikula Ô Messu. Em seguida, a partir de 05 de abril, o projeto traz a obra multilinguagem A Mulher Sem Cabeça, uma performance-ensaio rito-musical dividida em dois experimentos audiovisuais: uma vídeo-performance intitulada Corpo Ebó, prenúncio para uma ficção futurista amefricana audiovisual intitulada A Mulher Sem Cabeça.
O projeto é contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Matos, Prefeitura de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.
Foto: Divulgação/Adeloya Magnoni