Por falta de patrocínio, JAM no MAM passa a ter uma sessão ao mês

Quem passava pela Avenida Contorno, em Salvador, nos finais de tarde dos sábados via um movimento de pessoas indo para o Solar do Unhão, no Museu de Arte Moderna da Bahia. O motivo era a JAM no MAM, projeto de shows de jazz ao vivo, baseado no estilo das JAMs sessions.

Mas, essa realidade já não é mais a mesma nos últimos dois anos. As JAMs deixaram de acontecer uma vez por semana, para, pelo menos uma vez por mês. O motivo é a falta de patrocínio e um diálogo entre a produção do evento e a diretoria do Museu, segundo a gestora da captação de patrocínio, Cassilda Póvoas.

Póvoas declarou ao BNews que até 2016, a produção conseguia realizar apresentações semanais, mas a partir de 2017, a baixa começou. “Foram apenas 37, em 2018, apenas 20 apresentações e este ano não vamos chegar nem a 20. Até agora [setembro] foram apenas 11”.

“Também há um entendimento, hoje, da direção do museu de que as pautas do sábado do MAM devem ser para outras atividades, isso contribuiu para a retração dessa frequência porque a gente já tem que vencer essa etapa”, explicou Cassilda.

De acordo com a gestora, esta “retração” se refere à toda atividade cultural do país. “A  condução dos gestores da cultura no período de Rui Costa, na gestão de Jaques Wagner, então tudo isso fez esse mercado se retrair e, desde 2016, a gente encontrou dificuldades na captação, a partir de um certo período espaçou e resolvemos fazer só com a frequência que tínhamos fôlego”, disse se referindo à periodicidade mensal.

Cassilda Póvoas ainda pontuou que a mudança na política também impacta diretamente nos editais de cultura. “Antes era patrocinada por recursos de editais. Num período de 1993 a 2001 que a gente fazia JAM Sessions no MAM, era subsidiada pela Fundação Cultural do Estado. De 2002 a 2006 a gente ficou sem fazer JAM e só retornou em 2007. A gente passou a inscrever a JAM em todos os editais dos estados, empresas… Foram se tornando mais raros a cada ano”.

BNews ouviu também quem mais sentiu o impacto da baixa no lazer: os expectadores. O fotógrafo Walter Guedes afirmou que “é triste saber que cada vez mais os eventos mais lindos de Salvador perdem apoio de investidores, sendo instituições públicas ou privadas, ainda mais falando da JAM, local que tem um público de enorme faixa etária, família, jovens, casais de idosos, mostrando que é uma ótima atividade para o final de semana, com a companhia de um dos mais lindos pôr do sol da cidade”.

“Meu primeiro contato presencial com a JAM foi na última edição de Dezembro, de 2018. Em 2019 fui para todas, sozinho, com diversos grupos de amigos. Cada vez que eu publicava uma fotografia no evento, recebia mensagens querendo saber um pouco mais sobre o projeto”, disse Walter.

O fotógrafo também contou qual alternativa ele usa para se divertir, quando não tem JAM. “Como tenho uma agenda que pode mudar a qualquer momento, sempre olho a data das edições do mês e já deixo programado, quando não consigo, procuro ambientes semelhantes, como Jazz na Avenida, lugares que tocam MPB, entre outras. No fundo, procuro coisas que eu me sinta seguro e acolhido como me sinto no MAM”.

Para a jornalista Bárbara Maria, o sentimento não é diferente. “Eu comecei a frequentar a JAM no ano passado e de cara já me apaixonei. Eu ia em quase todas as edições. E sim, senti uma imensa diferença em relação a quantidade de sessions. Esse ano, quase não está tendo e faz uma falta danada. Era um programa meio alternativo, família, extremamente agradável, ou seja, conseguia juntar todas as coisas que eu amo em um só lugar”.

Bárbara contou ao BNews que, em 2018, foi para quase todas as edições. “Tinha mês que todo sábado eu estava lá. E tinha um ponto positivo de terminar cedo e dar tempo suficiente para fazer outras coisas depois”.

Como alternativa, a jornalista disse que frequenta locais como Santo Antônio, Pelourinho. “Costumo fazer algumas sociais com os amigos. Esse ano não estou indo tanto para a JAM não, mas estou me programando para ir nas próximas”.

As JAMs sessions acontecem agora no último sábado de cada mês. Em setembro, será no dia 28. A gestora de captação de patrocínio, Cassilda Póvoas, disse que mesmo com esta frequência, considera uma vitória. “Levando em conta o quadro da cultura. Muitos festivais que foram reduzidos, muitos artistas desempregados, um desalento no campo da cultura no Brasil e cada região tem suas particularidades”.

Fonte: BNews