[Opinião] Desconstruindo abordagem da TV Bahia sobre a segurança pública no Nordeste de Amaralina: “vocês não são bonzinhos”

Por Tiago Queiróz*

Não, vocês não são bonzinhos TV Bahia. Sob os corpos de Joel, Ryan Andrew, Mikael, Ian Barros, Bruno Barros e tantos outro pesam também a mão de vocês e toda grande imprensa baiana. Cadáveres, não por coincidência, negros. Em matéria veiculada nesta terça-feira (4) relacionando a vendagem de drogas com a insegurança pública nas periferias da cidade, em especial o Nordeste de Amaralina, a emissora, pautada sabe-se lá por que tipo de interesses, discorre no erro da superficialidade. “Moradores da Santa Cruz, Vale das Pedrinhas e Santa Cruz tem sido refém dos criminosos”, diz a saberota repórter.

Somos historicamente reféns da desigualdade, da falta de oportunidades, do olhar preconceituoso do poder público e da mídia. Nossa juventude é refém da total ausência de políticas públicas que as contemple. Somos reféns de escolas em péssimas condições, do péssimo serviço de transporte público, do sucateamento das unidades de saúde, da falta de saneamento básico e da exposição às mais diversas mazelas sociais. As mais diversas formas de violências a que são expostas nossa população, em especial a violência policial, precisa ser abordada de forma responsável e fiel, como reza o bom jornalismo. É de conhecimento de todos o interesse do mercado imobiliário sobre a região do Complexo Nordeste de Amaralina. A high Society soteropolitana dos bairros do Itaigara, Horto Florestal e Pituba não aceitam tão dessemelhante vizinhança. “É preciso aniquilar os filhos de porteiros ”. Alô, Paulo Guedes.

O assassinato de um inofensivo garoto de nove anos durante ação da polícia militar no Vale das Pedrinhas precisa ser analisado à luz da razão. É preciso que se pontue o que de fato é causa e consequência. Permanecer nesse tipo de abordagem é continuar sendo cumplice da morte de tantos outros jovens que venham a sucumbir pelo braço do estado nas favelas da capital.

Aconselho ainda que no próximo domingo, 9 de maio, dia das mães, venham testemunhar a solidão das diversas mães, moradoras do Nordeste de Amaralina ou de qualquer outro bairro periféricos da cidade, que não terão em seus braços o calor do seu filho. Tem também aquelas mulheres, que tiveram seus maridos abatidos durante incursões policias, e que por conta disso foram obrigadas pelas circunstância a se tornarem também pais e provedoras únicas desses lares de famílias negras.

Então, TV Bahia, devagar com o andor. Por que aqui o santo é de barro.

*Tiago Queiróz é jornalista