A pesquisa do instituto Ipec divulgada pelo jornal Estado de S.Paulo indica o desafio para a viabilização de uma terceira via que seja alternativa ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro. Os partidos que dizem se opor aos dois candidatos mais bem colocados no levantamento apostam agora em um “derretimento” ainda maior de Bolsonaro – por essa avaliação, apenas o petista tem potencialmente vaga assegurada em um eventual segundo turno.
O Ipec mostrou que apenas 13% do eleitorado rejeita votar tanto em Lula quanto em Bolsonaro. Esses eleitores se distribuem entre os que hoje se mostram inclinados a votar em Ciro, Doria e Mandetta. A soma das intenções de voto no ex-presidente e no atual é de 72% – ou seja, quase três em cada quatro brasileiros têm como preferido um dos polos da disputa. São números que mostram pouco espaço para uma candidatura alternativa, ao menos neste momento.
O reforço da polarização também vem sendo apontado por especialistas. “A alternativa de centro – legítima, por natureza – não se consolidou até agora. A soma de preferência dos nomes de centro – Ciro, Doria, Mandetta – não chega aos 23% de Bolsonaro; ou seja, os dados dessa última pesquisa cravam a polarização entre Lula e Bolsonaro”, disse o cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP.
Todos os políticos do chamado centro ouvidos pelo Estadão têm a mesma aposta na queda da popularidade de Bolsonaro. “Hoje, as pessoas têm a percepção de que apenas Lula é a alternativa de oposição a Bolsonaro. À medida em que essa candidatura de terceira via ficar clara, esse apoio vai migrar do Lula”, alega o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que quer filiar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para concorrer à Presidência. Hoje sem partido, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (RJ) diz que “cabe alguém no lugar de Bolsonaro no segundo turno”.
“A pesquisa pressiona quem está em dúvida a defender o impeachment de Bolsonaro e também pela unidade em torno do pedido. Também diminui a base de sustentação do presidente”, avaliou o presidente do Cidadania, Roberto Freire.
Estadão Conteúdo