Uma das cidades mais negras do Brasil, Salvador contará com duas novas iniciativas para estimular o afroempreendedorismo junto à cadeia produtiva econômica e turística. Nesta quarta-feira (21), a Prefeitura lançou os projetos AfroBiz e AfroEstima, que integram dois dos quatro eixos do Plano para o Desenvolvimento do Turismo Étnico-Afro. Os detalhes foram divulgados pelo prefeito Bruno Reis em coletiva à imprensa no Teatro Gregório de Mattos, no Centro, ao lado dos titulares das secretarias de Cultura e Turismo (Secult), Fábio Mota; da Reparação (Semur), Ivete Sacramento; e de representantes de entidades de matriz africana.
O AfroBiz é uma plataforma on-line e interativa para divulgação de produtos e serviços de afroempreendedores do turismo da cidade. O projeto abrange, ainda, a realização de rodadas de negócios que visam conectar todo o conteúdo cadastrado a compradores nacionais e internacionais. Com isso, a ideia é aumentar a visibilidade dos negócios do segmento afro, facilitando vínculo tanto aos consumidores quanto com possíveis fornecedores e investidores, além de dar mais oportunidades de vendas para os envolvidos. A estimativa é cadastrar pelo menos 2,5 mil atores envolvidos com o turismo étnico-afro.
Já o projeto AfroEstima é uma iniciativa educacional gratuita que será desenvolvida de forma híbrida (online e presencial), através da oferta de cursos e de mentoria, com conteúdo digital e físico, organizado por trilhas de aprendizagem – isto é, capacitações agrupadas em módulos estratégicos, de conteúdos variados e que dialogam entre si. Envolve, por exemplo, a realização de cursos de Marketing Digital, Gestão de Negócios e Liderança com foco na juventude negra, passando por módulos chamados de sociais, como “História, cultura afro-brasileira e da diáspora” e “Desenvolvimento Pessoal e Social”, dentre outros.
“Salvador, além de suas belezas naturais, do seu rico patrimônio histórico, da força sincretismo religioso, da culinária e de seu povo, tem um plano para valorizar toda cultura e tradição dos nossos irmãos afrodescendentes. O objetivo é usar todo o ativo que temos para que isso seja mais um importante diferencial na atração de turistas à cidade, sendo o foco principal a geração de emprego e melhora de renda”, destacou Bruno Reis.
O chefe do Executivo municipal assegurou que a Prefeitura seguirá investindo recursos para dar apoio e conectar toda a cadeia do turismo, potencializando e qualificando a mão de obra protagonizada pela população negra. Ele acrescentou que a capital baiana tem no setor de serviços sua principal fonte de geração de emprego e renda – a atividade é responsável por 60% do PIB da cidade.
“Nossos diferenciais estão marcados nos quatro cantos da cidade. Vimos a influência afro na música, na culinária, na arte, no nosso patrimônio histórico e no nosso povo. Essa estratégia também é uma das ações da Prefeitura para retomada econômica e do tempo perdido em função da pandemia”, disse o prefeito.
Fortalecimento – De fato, o AfroBiz e o AfroEstima irão fortalecer o poder de articulação dos afroempreendedores da capital baiana, impulsionando o surgimento de novas oportunidades e negócios. Os projetos darão todo o suporte necessário a este público, elevando-os a um patamar de operação e negociação menos informal do que a maioria se encontra neste momento.
Ambas as iniciativas foram construídas para o Programa Nacional de Desenvolvimento do Turismo em Salvador (Prodetur), através de financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), e executados pelo consórcio composto pelas empresas Getin Aceleradora, Topos Tecnologia, Instituto Iris e o Euvaldo Lodi (IEL/BA). O investimento total para a execução do Plano para o Desenvolvimento do Turismo Étnico-Afro será de R$15 milhões.
“Salvador tem 82% da população negra e é a cidade mais afro do Brasil. O turismo criativo será valorizado com essas ações. A ideia é profissionalizar e qualificar o povo afrodescendente para que a cidade entre no nicho do turismo étnico, que agora estamos abrindo para o mundo inteiro”, ressaltou o secretário Fábio Mota.
Ele anunciou que os dois restantes eixos do plano de Turismo Étnico-Afro (que envolverão ações de fortalecimento do ofício das baianas de acarajé e relações públicas e assessoria) deverão ser lançados dentro de 60 dias. “O plano foi constituído em 2019 através de discussões e neste momento estamos tirando ele do papel. Foram 658 pessoas envolvidas no processo, entre baianas, capoeiristas, músicos representantes de blocos afros e de terreiros das religiões de matriz africana”, explicou Mota.
A titular da Semur, Ivete Sacramento, convocou toda a comunidade negra e agentes de turismo e desenvolvimento cultural para se engajarem nos projetos AfroBiz e AfroEstima. “Estamos dando as ferramentas e agora precisamos que o povo e a juventude negra entendam esse esforço que fizemos em conjunto para, no futuro bem próximo, termos pessoas qualificadas, empreendendo com sustentabilidade e com condições para concorrer de igual para igual no turismo internacional. Salvador tem potencial, mas só isso não basta. É preciso que esse potencial esteja aliado a conhecimento e ação”, frisou.
Inscrições – As inscrições para quem deseja participar dos projetos podem ser feita no sites www. afrobizsalvador. com. br e www. afroestimasalvador. com. br, de modo gratuito. No caso do Afrobiz, os inscritos serão mapeados e cadastrados conforme segmento de atuação.
São aptos a participar afroempreendedores residentes de Salvador que trabalham como baianas, turbanteiras, trançadeiras, capoeiristas, artistas, designers e artesãos, griôs, em blocos afro e afoxés, terreiros, feirantes e ambulantes, produtores culturais, guias de turismo e em meios de hospedagem e agências, dentre todos os outros atores que fortalecem o Turismo Étnico-Afro da capital.
Já as localidades de atuação das capacitações que serão ofertadas por meio do AfroEstima contemplarão regiões do Centro Antigo, Rio Vermelho, Itapuã/Orla Norte e ilhas de Maré, Bom Jesus dos Passos e Frades.
Ordem de serviço – Durante o lançamento dos dois primeiros eixos do Plano Étnico-Afro, o prefeito Bruno Reis assinou ordem de serviço para implementação do Centro de Interpretação do Patrimônio e Complexo Casa da História de Salvador e Arquivo Público Municipal.
A ação inclui elaboração da proposta conceitual, programas e projetos executivos, além de todas aquisições, instalações e acompanhamento da implantação do novo equipamento cultural, que funcionará no Comércio. O investimento é de quase R$18 milhões, frutos de financiamento do BID, através do Prodetur.
Composto por dois imóveis interligados, sendo um casarão que passa por restauração e outro prédio que está em construção, o complexo abrigará acervos históricos para difusão da memória e conhecimento da primeira capital do Brasil. “A previsão é início do ano que vem entregarmos esse equipamento, que será tão importante para fortalecer ainda mais o turismo na cidade”, afirmou Bruno Reis.
Foto: Betto Jr./Secom