Em diferentes campos de atuação, as profissionais ajudam a transformar a trajetória social e afetiva do público feminino
Como mergulhar na memória do feminismo negro, atravessada pelo imperativo de uma sociedade desigual? A resposta parece óbvia, mas nessas quase duas décadas, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, celebrado 25 de julho, faz com que a representação política das feministas negras brasileiras e as práticas sociais destas mulheres sejam repensadas.
Analisar a disparidade social que condiciona a parcela feminina da população, sobretudo a negra, a espaços de pouca visibilidade, faz parte do cotidiano da defensora pública, Clarissa Verena Lima, que, por meio de cotas raciais, conquistou uma vaga no órgão. No local, sempre trabalhou com pautas raciais e atualmente coordena a Comissão da Igualdade Racial da Anadep, Associação Nacional de Defensoras e Defensores Públicos.
A rotina de Clarissa Verena Lima é uma ação de resistência pela implementação da política de equidade. Ela vê na própria conquista um importante passo para o combate à baixa presença de mulheres negras nos espaços de poder. “Ao longo dos anos, mesmo que de maneira tímida, a representatividade negra tem feito diferença, mas ainda não é suficiente. Sei que outras mulheres negras podem olhar pra mim e dizer: eu também posso”. Diariamente, Clarissa Verena Lima busca outras formas de fazer políticas afirmativas, para dar oportunidade à população negra. Em Amargosa, um dos pontos de ação é a Associação de Catadores e Catadoras e Coleta Seletiva de Materiais Recicláveis – ASSORECICLA, onde 80% das membros são mulheres negras, com ensino fundamental incompleto. “ Lutar para garantir a melhoria nas condições de trabalho e vida destas mulheres, através de fardamentos, equipamentos de segurança, e até doação de alimentos, esta é uma das minhas tarefas diarias”, elucida.
Na Bahia, estado majoritariamente negro, instituições como a defensoria ainda tem uma ausência de representatividade – apenas 25% das pessoas são autodeclaradas negras. O conflito de gênero e cor reflete no perfil das mulheres que hoje procuram a defensora pública Claudia Conrado, no município de Bom Jesus da Lapa.
Como cotista, Claudia Conrado chegou ao município em 2019 e desde então trabalha com comunidades quilombolas. É por meio do coletivo que luta para entregar às mulheres destas localidades a posição de sujeito ativo das mudanças. “A mulher negra está no topo da vulnerabilidade e a falta de representatividade nos espaços de poder reforça essa lacuna. Por isso, trouxe para o trabalho que desenvolvo aqui o contato com o coletivo, porque é através desse acolhimento que saímos fortalecidas. Quando você se sente acolhida, também se sente capaz. Eu não levo só o nome de defensora pública, levo o coletivo de mulheres”, declara.
As mulheres negras são maioria na busca diária pelo serviço da DPE. Elas representam o quantitativo de 90% dos atendimentos e possuem renda abaixo de R$500. Há mais de 20 anos Analeide Aciolly é defensora pública e hoje, como coordenadora especializada da família na capital baiana, ela vê o olhar para a questão racial dentro e fora do órgão mudar. “Infelizmente, quanto mais categorizada uma pessoa é, mais vulnerável ela se torna. Essas mulheres que buscam por atendimento têm vulnerabilidade em vários aspectos e a maioria são mães solo e arrimo de família, que assim experimentam toda sorte de desafios para manter a familia”.
Entender essa questão racial e de gênero tem sido uma tarefa diária da DPE e as mulheres negras que precisam do auxílio do órgão podem contar com atendimentos na capital e no interior, que já estão sendo realizados de forma presencial. Para agendar um atendimento, basta registrar a consulta no site agenda.defensoria.ba.def.br.
Foto-Divulgação-Defensora-Analeide-Aciolly-