[ENTREVISTA] Douglas Franklin: “O Bahia não está sendo administrado pelo presidente”

Douglas da Silva Franklin nasceu em Barretos -SP, no dia 9 de setembro de 1949. Ainda criança mudou-se juntamente com familiares  para o litoral paulista, mais precisamente para cidade de Santos. Seu pai era enfermeiro e fotografo. Sua  mãe era escrituraria. O primeiro contato com a bola coincide com os seus primeiros passos. Douglas e sua família residiam em uma antiga pracinha que abrigava uma  república onde moravam ex-atletas do Santos Futebol Clube, entre eles Agenor Gomes o “Manga”. Lá, em meio aos ex-jogadores, arriscou seus primeiros chutes na pelota. Aos quatros anos, mais precisamente no ano de 1953, sob batuta dos ex-craques, fora escolhido mascote do time de futebol do “alvinegro praiano”. “Pela lei natural dos encontros”, o jovem seguiu o caminho natural e acabou ingressando no time mirim do Peixe.

No time da Vila Belmiro passou por todas as categorias da base até chegar ao profissional em 1966, aos 17 anos de idade. O Santos, na época, tinha como camisa 10 um tal de Pelé, além de diversas outras estrelas a nível de seleção brasileira: Zito, Pepe, Coutinho, Clodoaldo…Em 1972, preterido pelo então treinador santista, Douglas chegou à Bahia, mais precisamente ao Bahia, onde se tornou um dos maiores jogadores da história do clube. Pelo Tricolor foram 456 partidas disputadas e 211 gols assinalados. Destaque para o heptacampeonato baiano (1973, 1974, 1975, 1976, 1977, 1978 e 19790), onde ele é apontado como o grande comandante.

Em entrevista exclusiva ao Bahia Sem Fronteiras, o ex-craque falou sobre sua trajetória profissional, sobre a Bahia, o Bahia e diversas outra situações, inclusive sobre os seus planos de concorrer a presidência do Bahia em 2023.

Confira os principais trechos da entrevista:

Início

“Meus pais costumavam ir ver o jogo do Santos, eram sócios do clube. Minha mãe sempre falava: eu quero que meu filho seja jogador de futebol… Comecei então a ser mascote do clube. Sempre via os jogos, viajava… Comecei no mirim e fui subindo…Via aquelas estrelas, aqueles grandes jogadores… Cheguei ao profissional em 1966. O time de cima fazia muitas excursões, sempre levavam dois ou três jogadores da base. Numa dessas excursões eu fui chamado e comecei a fazer gols. Jogando com Pelé e todos aqueles grandes jogadores, como Zito, Pepe… Fui tricampeão paulista, ganhei vários campeonatos. Fiz o primeiro gol no estádio Rei Pelé, em Maceió….”

Relação com estrelas
“Nossa relação sempre foi muito boa. Não só com Pelé, mas com todos os jogadores. Clodoaldo, Zito, Coutinho…Éramos muitos unidos. Até hoje, todo pessoal costuma se encontrar em uma padaria lá em Santos”.

Saída do Santos
“Do Santos vim para o Bahia. O Bahia, na verdade, salvou minha vida. Eu estava no Santos, que mudou de treinador. O novo treinador, que era o Mauro, queria dois jogadores por posição e minha posição seria ser reserva do Pelé. Então, eu só iria jogar quando o Pelé não jogasse, lógico. Teve um jogo, contra o América-RJ, que o Pelé estava machucado e era eu quem iria, ou pelo menos deveria,  jogar. Infelizmente, o treinador na época não me pôs. Preferiu colocar dois centroavantes. Aí eu briguei, achei que não deveria ficar mais no Santos…Nessa partida, o Edu, irmão do Zico, que jogava no América-RJ, teve uma distensão muscular. O pessoal do América, então resolveu me contratar e o Santos resolveu me liberar.  Fiquei treinando no América por mais ou menos uma semana…”

Chegada ao Bahia
“Durante um treinamento apareceu no campo dois representantes do Bahia, sendo um deles o presidente Manoel Inácio Paula Filho. Avisei que tinha que conversar antes com o presidente do América, na ocasião, Giulite Coutinho, que estava na Europa. Um repórter de uma rádio aqui da Bahia, o Edson Almeida, ligou e me disse que o Bahia tinha interesse na minha contratação. Pessoal do Bahia então foi até o hotel onde eu estava e me chamaram para conversar com o presidente do Conselho Deliberativo do Bahia, na época Osório Vilas Boas. Falei que não viria para o Bahia, pois já tinha acertado com América, somente ainda não havia assinado. Osório disse então: Você não vai assinar. O que foi que o América te ofereceu? Ele então dobrou a proposta. Além de dobrar,  me prometeu morar num hotel e um carro. Fui então para Santos acertei com o presidente minha vinda para o Bahia. Iríamos viajar a noite para o RJ. Com a mudança de plano, cheguei no aeroporto  e entreguei a passagem no balcão da empresa onde eu iria viajar. Vim então para a Bahia. No dia seguinte quando acordei recebi a notícia que o avião que faria a ponte área para o RJ havia caído”.

Passagem pelo Bahia
“Minha chegada na Bahia foi excelente. Eu nasci para o Bahia. Cheguei aqui  com 22 anos, em 1972.O primeiro campeonato que disputei aqui, nós perdemos para o Vitória. Depois, de 1973 em diante, nós ganhamos todos os campeonatos, até 1979. Tudo aqui no Bahia foi marcante, inclusive o primeiro gol do estádio de Pituaçu quem marcou fui eu. Nessa história do heptacampeonato, nós jogadores acabamos fazendo uma amizade muito grande. Gosto muito de estar aqui…Hoje fazemos parte de uma associação, que foi idéia de Edmilson Pombinho e de Luiz Antonio. Fizemos um evento glorioso, onde reunimos a oposição e a situação.
Tenho sempre a intenção de ajudar o Bahia, sempre que posso. Inclusive, eu levei um time da divisão de base do Bahia, na gestão de um antigo presidente, para representar o Monte Azul Paulista na segunda divisão do estado de São Paulo”.

Atual gestão do Bahia
“O que eu noto e não vejo com muita clareza é a gestão de futebol do Bahia. Ninguém explica, ninguém fala da base. Você só escuta falar de sub-23, que são contratações de jogadores de fora. Não vejo, por exemplo, aquele amor dos atletas que começam cedo nas divisões de base do clube. Vejo isso como muito perigoso. Dificilmente teremos jogadores como Jorge Campos, Washington Luis, Marquinhos, Zé Augusto e uma infinidade de ex-atletas profissionais que foram oriundos da base. Não vamos ter isso. O presidente não fala com clareza, não fala nada. A gente sabe apenas que existe um Sub-23, que são jogadores  de empresários. Ele traz de empresário, vende… Sempre pergunto para as pessoas como está o Bahia, escuto as notícias, troco idéias com ex-jogadores que ainda moram em Salvador…Somos Bahia, gostamos do Bahia.  Há algum tempo o Bahia não está sendo administrado pelo presidente. Existem muitos erros, tanto nas contratações, quanto na gestão financeira.

O Bahia tem contraído muitas dívidas na gestão do atual presidente. Se ele fizesse uma dívida grande, mas tivesse um time lutando na parte de cima da tabela…A torcida quer time, quer estádio, quer gol. A torcida não está preocupada com propagandas de cunho social que acontecem no Bahia. A torcida quer ir ao estádio, chupar o seu sorvete e ver o triunfo do seu time. Sempre temos que torcer muito para não cair…O que eu puder para o Bahia voltar a ser aquele Bahia de resultados positivo, eu vou tentar. Inclusive, estou lançando meu nome para presidente em 2023″.

Relação com a Bahia
“Meu primeiro casamento foi aqui na Bahia. Tenho dois filhos baianos que hoje moram nos Estados Unidos. Eu vivi aqui na Bahia. Não só joguei como tive até fazenda de cacau por aqui. Quando estava parando de jogar futebol recebi uma proposta para jogar em Barretos. Lá encerrei minha carreira.  Meu primeiro casamento foi aqui na Bahia, onde tive dois filhos, ambos baianos. Fui para Barretos, já desquitado, conheci uma pessoa e tivemos uma filha. Hoje, moro junto com uma outra pessoa há quatro anos. Tenho uma neta, da minha filha barretense”.

Por Tiago Queiroz/Fabiano Bastos

Fotos:Acervo BSF/Acervo pessoal do entrevistado