A Prefeitura de Salvador acelera na construção do Parque Pedra de Xangô, localizado na Avenida Assis Valente, no bairro de Cajazeiras XI. As obras já estão com 83% de conclusão e a previsão é de que até janeiro do próximo ano seja entregue para toda a população de Salvador, em especial ao povo do candomblé. Já foram finalizados o anfiteatro, pontilhões e a instalação de macrodrenagem, além da pista de caminhada e a recuperação asfáltica das ruas Assis Valente e Santa Engracia.
O parque, que é a primeira obra de total referência às religiões de matriz africana, tem um investimento de R$8 milhões, com intervenção urbanística em área de 67 mil m². Com as obras finalizadas, a população contará com um auditório, área administrativa, sanitários, estabelecimentos comerciais voltados para o parque, trilhas ao ar livre, anfiteatro, áreas expostas para que adeptos da religião de matriz africana possam fazer seus cultos, praças, arquibancadas, teatros, pontilhões e vertedouros.
Além disso, o parque vai recuperar o espelho d’água que circundava a pedra de Xangô. No local também está sendo realizada a obra de desvio da Avenida Assis Valente, serviços de drenagem e de terraplanagem.
O secretário municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), Luiz Carlos de Souza, ressalta a importância do equipamento para toda a população de Salvador. Para ele, existem três aspectos que podem ser destacados sobre a requalificação da pedra de Xangô. “O primeiro é a questão da valorização cultural da matriz africana e indígena, importante por fazer políticas públicas pensando na sociedade”, assinalou.
O titular da pasta ainda ressaltou que o parque será um espaço de convivência e socialização, estimulando o conhecimento entre pessoas e suas culturas. Outro aspecto destacado pelo secretário é que o parque trará mais segurança para frequentadores e visitantes.
Sobre a obra de desvio da Avenida Assis Valente, o gestor reafirmou que tudo foi pensado da melhor forma, para garantir também a segurança da população transeunte. “Criamos um desvio com uma via alternativa, circulando o parque, para dar segurança aos frequentadores e prevenir acidentes de trânsito”.
Rituais – Durante as obras, o parque tem recebido diversos eventos, como, casamentos ao ar livre e ensaios fotográficos. Adeptos do candomblé também seguem fazendo cultos aos orixás e agradecendo a Xangô, o orixá da justiça.
A autora do livro “Pedra de Xangô: um lugar sagrado afro-brasileiro na cidade de Salvador”, Maria Alice Pereira, ressalta que o equipamento de apoio ao parque é um desejo antigo das comunidades de terreiros de Cajazeiras e região. “O projeto arquitetônico atendeu ao anseio das comunidades, resgata e privilegia a presença da percepção de mundo das religiões de matriz afro-brasileira, seus saberes e fazeres ancestrais e tradição”.
A escritora lembra ainda a importância que o poder público tem na construção de uma sociedade menos intolerante. Para ela, compete ao poder público realizar ações afirmativas e políticas públicas de reparação.
“O memorial do Parque Pedra de Xangô é uma forma de promover a igualdade racial, combater os efeitos do racismo religioso, racismo ambiental e estrutural, garantir a pluralidade de crenças, as manifestações culturais populares, indígenas e afro-brasileiras e de outros grupos integrantes da formação étnica do nosso país”, afirmou Maria Alice.
História – A Pedra de Xangô está associada a um símbolo de resistência. O monumento era usado por escravos que fugiam das fazendas localizadas na região, durante o século XIX, como esconderijo. Antes conhecida como Pedra do Buraco da Onça, ficava escondida por um matagal, que ajudava os escravos em sua fuga. Hoje é considerada um monumento sagrado pelos religiosos de matriz africana.
A área é tombada pela Prefeitura de Salvador como patrimônio cultural, centro de uma Área de Proteção Ambiental (APA) do município. Área de remanescentes de quilombos e do bioma Mata Atlântica, antigo aldeamento dos indígenas tupinambás, templo dos orixás, voduns, nkisis, caboclos e encantados, a Pedra de Xangô é uma área natural do sagrado afro-brasileiro, que abriga aspectos significativos, tanto pelo seu valor simbólico, quanto por sua importância histórica, cultural, ambiental e geológica.
Em 2005, a pedra foi completamente desnudada e por pouco não foi implodida, para dar lugar à construção da Avenida Assis Valente. O povo de santo saiu em seu socorro e a partir daí surgiu um movimento em defesa do monumento sagrado.
Apenas em 2016, o movimento em defesa da Pedra de Xangô teve garantido no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU/2016) a criação do Parque Pedra de Xangô, da APA municipal Vale do Assis Valente e do Parque em Rede Pedra de Xangô, com a finalidade de preservar todas as áreas verdes ainda existentes no entorno da Pedra de Xangô
Foto: Divulgação/FMLF