O sucesso extraordinário da exposição das invenções de Leonardo da Vinci, produzidas com alta qualidade e dedicado trabalho pelo engenheiro Thales de Azevedo Filho, chamou a atenção para o interesse que a ciência desperta entre nós. Realizada no Palacete das Antes (antigo Museu Rodin), por um curto período de trinta dias, a exposição recebeu mais de 70.000 visitantes, com destaque para a presença de alunos de quase duas centenas de escolas. Uma raridade entre nós. O sucesso da exposição mostra que faz muita falta à população baiana um espaço apropriado, de caráter permanente.
Ocorre que temos um Museu de Ciência e Tecnologia. Implantado no governo Roberto Santos, como equipamento do Parque Metropolitano de Pituaçu, pertenceu originariamente à estrutura da Secretaria do Planejamento, Ciência e Tecnologia (Seplantec), tendo sido transferido para a Fundação Cultural do Estado da Bahia, que à época administrava todos os museus estaduais; posteriormente foi dependurado no organograma da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), assim como o Centro de Pesquisas e Desenvolvimento (Ceped), tendo sido transferido, a partir de 2013, para a atual Secretária de Ciência, Tecnologia e Inovação. Fechado desde 2010, sua reabertura está prometida desde 2015.
Todas as cidades do mundo que querem se qualificar costumam dispor de um museu desta natureza, que constitui importante ponto de apoio para as atividades educacionais das crianças e adolescentes, além de despertar o interesse do público em geral, inclusive turistas. Merece apoio pois a sugestão do Prof. Nelson Pretto (Leonardo da Vinci na Boca do Rio, A Tarde, 26/09/2019) de que os equipamentos davincianos de Thales de Azevedo Filho venham a ser incorporados ao Museu de C&T, renovando e ampliando o seu acervo, mas sobretudo por representar uma oportunidade para a sua revitalização.
O fechamento do Museu de C&T pode até ser entendido, de certa forma, como reflexo das limitações fiscais do poder público, que vai cortando gastos, aqui e acolá, geralmente pelas áreas e atividades que despertam, de imediato, menor reação popular, independente das perdas que traga à sociedade. Mas essa não é a melhor solução.
No estado de São Paulo todos os equipamentos culturais públicos estão geridos por organizações sociais, com contrato de gestão com o poder público e metas definidas a cumprir, cobram ingressos e constroem parcerias. Na Bahia ainda não se avançou para este tipo de solução, que parece hoje em dia mais compatível com a necessidade de uma gestão proativa, dinâmica e eficiente desses equipamentos.
Tendo por missão a popularização da ciência, o Museu de C&T da Bahia foi o primeiro do gênero na América Latina. E nasceu inovador, como museu interativo, percussor portanto, dos modernos museus do presente. Projeto arquitetônico destacado, dos arquitetos Wilson Andrade e Miguel Wanderley, o Museu de C&T da Bahia, conta com portões de grande porte, obras do escultor Mário Cravo, o que lhe agrega ainda mais valor.
É indispensável que a Bahia volte a contar com o seu Museu de C&T, e que não lhe falte a colaboração e o apoio da iniciativa privada, se não por mera filantropia, pelo menos contribuindo em relação a áreas que guardem conexão com suas atividades empresariais.
Segundo a Secti, já existe projeto de recuperação, a ser executado com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Com a incorporação das peças produzidas por Thales de Azevedo Filho o Museu de C&T ficaria ainda mais enriquecido e na mesma linha de sua concepção inicial – interatividade e popularização.
Waldeck Ornélas é especialista em desenvolvimento urbano-regional e ex-Secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia.
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