Café: saiba mais sobre as técnicas de produção, cultivo e consumo da tradicional bebida.

“O preto que virou ouro. É assim definido, pelo cantor e compositor Jorge Ben Jor, o produto que desde meados do século XVIII se tornou um dos principais artigos de exportação brasileiro. Consumido desde a Antiguidade, originário das terras altas da Etiópia, na África, o café encontrou no solo e no clima tupiniquim as condições ideais para o seu cultivo. Atualmente, no Brasil, são consumidas anualmente 20 milhões de sacas de café, o que corresponde a 173 bilhões de xícaras. Torrado ou moído, coado ou expresso, forte ou mais ralo, com ou sem açúcar. Variadas são as formas de produção, de cultivo e de consumo da tradicional bebida.

Proprietário da empresa especializada “Do Coado ao Expresso”, Flávio Camargos, entrou no ramo meio que por acaso. Advogado de formação, ele não gostava de café. “Odiava”, como ele mesmo conta. A coisa começou a mudar de figura, após um dos seus sócios levar para o escritório uma máquina de “expresso”.

“Passei a fazer café para as pessoas, que começaram a gostar. O café estava longe de ser um café de qualidade. Muito amargo, sabor de queimado e que eu tomava, na verdade, para me manter com mais energia e aumentar minha produtividade de trabalho”, explica.

“Um belo dia fui ao centro comercial e passei por uma cafeteria, especializada em cafés especiais. Decidi experimentar e pude perceber que diferente de tudo aquilo que eu conhecia. Extremamente aromático, com doçura natural, acidez e que de quebra me dava aquele gás que eu precisava. Foi um caminho sem volta”.

Arrebatado por esse “novo mundo”, o rapaz começou a arriscar-se na produção de cafés especiais. Três anos depois, em agosto de 2018, resolveu criar um perfil no Instagram, onde relatava suas experiências. Surgiu assim a página “Do Coado ao Expresso”. Algo até então sem qualquer tipo de pretensão comercial.

“Nosso objetivo inicial era basicamente ser um blog para relatar nossas experiências com cafés e equipamentos de cafés. O negócio foi tomando uma proporção maior do que esperado. Surgiu então a curiosidade de entender por que aquele café tem um perfil mais de caramelo ou por que daquele ter um sabor com tendências maior para o lado das frutas vermelhas. Isso nos levou a fazer cursos…Nos apaixonamos pelo processo e decidimos iniciar a nossa torrefação de cafés especiais”.

Felipe passou a torrar café em sua própria, para consumo próprio e de amigos que vinham lhe visitar.

 

“Aconteceu de algumas pessoas virem à minha casa somente para tomar café. Então, surgiu a idéia de comercializar…Passei ainda uns cinco meses torrando em quantidade bem limitadas e somente para pessoas mais próximas. Inclusive, Mateus Maciel, que era um amigo, virou cliente e passou a ser meu sócio.

                           O empresário cita os três segredos, segundo eles essenciais, para uma boa torrefação.

“Primeiramente o respeito na relação entre produtor/torrefação ou cooperativa/torrefação. Nós basicamente começamos nosso processo selecionando produtores que tenham o perfil de grãos que nós procuramos. Posteriormente, entramos em contato e solicitamos o envio de amostras. A partir daí a gente vê se esse é o café que a gente busca ou não. Graças a isso conseguimos cafés de extrema qualidade e uma relação mais intimista com a cadeia produtiva. Esse é a primeira chave de sucesso”, explica.

“A segunda é ter uma técnica de torra apurada. Você sempre buscar se qualificar e estudar. Não podemos ficar parados, na zona de conforto, apenas torrando de uma maneira. É preciso sempre estar buscando diferentes perfis sensoriais, diferentes cafés… A torra do café não simplesmente ligar o torrador, deixar bem quente e jogar o grão dentro. Tem toda uma ciência por trás disso…Requer muito estudo, conhecimento e prática. “, acrescenta.

“O terceiro segredo é você ter um bom marketing para conseguir divulgar seu trabalho para o seu público-alvo. Esses são os três pilares principais”, completa.

Plantio – Há 28 anos labutando na plantando café, o agricultor Michael Freitas de Alcântara, 52 anos, concentra sua produção no município de Piatã, na região da Chapada Diamantina. Na Fazenda Divino Espírito Santo comprou o primeiro despolpador (máquina ou utensílio próprio utilizado para despolpar (‘descascar’) o grão de café) e implantou a colheita seletiva, entre outras melhorias. Proprietário da indústria Café Gourmet Piatã, não à toa, Michael faturou por três vezes o prêmio da Associação Brasileira da Indústria de Café.

Perguntado sobre o caminho para uma boa produção e as condições ideais o cultivo, o agricultor não titubeia:

 

“O segredo para uma produção é adubar bem a terra, fazer uma boa muda, usando as técnicas e procedimentos. Além disso, pulverizar, irrigar, colhendo só maduros… As áreas de grandes altitudes e montanhas que produzem excelentes cafés. Em Piatã, por exemplo, por estar à 1.400 m de altitude já da outro um requinte. A Bahia é um dos principais celeiros. Temos também o sul de Minas Geras, o sul do Espírito Santo e uma parte de São Paulo. Minas Gerais concentram a maior quantidade de produtores, mas a Bahia também é um grande pólo de produção”.

“A importância do café é mundial. É a segunda maior commoditie do mundo, perde somente para os combustíveis. É a segunda bebida mais consumida do planeta. A cafeicultura movimenta, no mundo, 87 bilhões de dólares. Infelizmente, nós produtores só ficamos com 6%”, acrescenta.

Café x arte – “Pintar café para mim, é tão gostoso quanto tomar um. “, é o que diz o artista plástico Ricardo Franco. Há três anos retratando, através da sua arte, a sua paixão pelo café, Ricardo é profundo conhecedor do processo de produção da bebida, do coado ao expresso.

“Eu sou apaixonado por café. Amo e tenho interesse em todos os processos de extração do fruto. No meu ateliê tenho uma máquina de expresso, o moedor para fazer minha moagem e uma cafeteira, chamado café sifão, que faz todo processo de extração por indução. O café que eu consumo vem de um conhecido que viaja para o Espírito Santo e Minas Gerais procurando os melhores produtores de café com excelência. Ele compra micro lotes, faz uma torra especial e manda para alguns clientes selecionados, sendo que um desses sou eu”.

A ideia de projetar nas telas sua paixão pelo “preto que virou ouro”, surgiu das suas próprias experiências enquanto fiel reprodutor da “cenas do cotidiano”:

“Por fazer parte da minha vida, por ser uma paixão que eu tenho, acaba que sendo impresso no que eu produzo. Minha arte vem através das cenas do cotidiano, através da poesia que eu vejo no dia a dia. A paixão pelo café fez com que buscasse essa reprodução através da pintura. A minha ideia é desenvolver o processo do café, desde o plantio ate a mesa. Tenho projetos de desenvolver pinturas desde o cara plantando a semente do café, regando, colhendo, secando… Todo processo do café será retratado. Vou abordar o café, como eu abordo o dia a dia. Sou um cara que não bebo álcool, então minha cachaça é café”.

“Grandes artistas retrataram o café. Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti… Existem quadros clássicos de Portinari sobre o café: “O Café do Brasil”, “A Exploração”, “Os Escravos”. Eu queria dar uma releitura disso aí. Trazer para um contexto mais atual… Uma época de controle de qualidade do café, os novos polos de café que estão surgindo na Bahia… Existe uma plasticidade no cenário, na locação, no lugar onde está sendo produzido o café. Imagina um puta quadro de uma Chapada Diamantina ao fundo e uma plantação de café na frente? É um tema inesgotável”.