Empresas apostam no produto, mas avaliam que tamanho do rebanho e falta de marketing mais agressivo limitam a chegada ao consumidor
Foi em março de 2020, poucos dias antes do início das restrições impostas por causa da pandemia de Covid-19, que a advogada Fabiana Pessoa decidiu lançar seu investimento no mercado no mercado de búfalos. Ela inaugurou o frigorífico Bubalis Food, em Olinda (PE), que trabalha 100% com cortes e subprodutos da carne do animal.
O investimento de R$ 1,3 milhão em instalações e equipamentos viabilizou o abate de 8 cabeças por mês para uma produção de 1,5 tonelada de carne, que inclui, além dos cortes premium, linguiça, hambúrguer e almôndegas. Agora, o plano de Fabiana, que já vende via internet, é abrir uma butique de carnes na cidade.
Ricardo Pessoa, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, marido de Fabiana e apaixonado confesso por búfalos, dá aulas de produção e manejo desses animais nos cursos de medicina veterinária, zootecnia e agronomia. Ele diz que a carne foi muito bem aceita em Olinda e pelo menos 200 famílias já colocaram o produto em seus cardápios. “A cada dia cresce a procura pelos cortes do dia a dia e por cortes nobres de filé-mignon e de picanha para churrasco.”
Os búfalos de corte representam a maior parte do rebanho brasileiro, bem pequeno quando comparado ao bovino. De acordo com a Associação Brasileira dos Criadores de Búfalos (ABCB), o Brasil tem, atualmente, cerca de 2 milhões de cabeças de bubalinos em todos os estados. Desse total, 1,4 milhão é para a produção de carne.
O produto, afirma Caio Rossato, presidente da ABCB, já tem qualidade nutricional e benefícios reconhecidos por técnicos, nutricionistas, médicos e consumidores. O que falta, segundo ele, é fazer a carne chegar mais à ponta consumidora, a exemplo do leite de búfala, produzido a partir de 600 mil cabeças em nível nacional. Como o rebanho ainda é pequeno, falta escala de abate do animais.
Aumentar essa escala pode ser um negócio interessante para frigoríficos menores, avaliam representantes do setor. “Não é atrativo para os gigantes, porque falta escala para abate, mas é um bom negócio para os frigoríficos menores”, afirma Renato Sebastiani, dietor executivo do frigorífico Cowpig, de Boituva (SP), também mencionando o tamanho do rebanho bubalino nacional como um limitante da expansão do abate no país.
O Cowpig é considerado um dos principais frigoríficos bubalinos do país. Desde 2010, identifica os cortes de carne. Sebastiani diz que por lá são abatidos por mês 320 búfalos jovens com até 24 meses, comprados de terceiros já terminados ou para engorda na fazenda de 250 hectares que tem confinamento, pastagens e suinocultura, além da unidade industrial.
A produção de 83 toneladas de carne de búfalo por mês representa apenas 5% do total comercializado pela empresa, especializada em cortes premium de suínos (representam 50% das vendas), bovinos, búfalos e cordeiros. Sebastiani diz que os cortes identificados de búfalo são de partes traseiras porque ainda não é possível agregar valor nos dianteiros, hoje vendidos como peças inteiras de carne de búfalo para açougues.
Alta gastronomia e público fitness
Está nos planos da Cowpig fazer outros produtos com o búfalo, como hambúrguer e linguiça. O que já é feito no entreposto Bufalera, de Lajeado (RS). O abate de 16 cabeças por mês é terceirizado, mas a Bufalera faz desossa, cortes, hambúrgueres e linguiça de búfalo e comercializa 30% do volume em seu bistrô de carne e laticínios de búfalo.
Produtor de búfalos na fazenda Chafariz e dono do Bufalera, Bernhard Rudolf Schroers diz que neste ano vai elevar os abates porque vai passar a distribuir a carne em todo o Estado. “Nosso objetivo é alavancar a cadeia produtiva dando o destaque que o búfalo merece na alta gastronomia”, diz, ressaltando que a Bufalera é pioneira na produção de dry aged (carne maturada a seco) de búfalo, com rotulagem e supervisão.
Uma das tarefas para expandir o consumo é vencer alguns pré-conceitos sobrea carne de búfalo, pontua Renato Sebastiani, do Cowpig. “Consumidores acham que é mais forte e dura que a do bovino porque associam erroneamente o animal brasileiro ao bisão americano ou ao búfalo selvagem da África”, diz, acrescentando que faz alguns churrascos com búfalo e só depois revela a origem da carne aos convidados.
Sebastiani afirma que atualmente a carne de búfalo é muito apreciada pelo público fitness por ter 40% menos calorias, 50% menos colesterol e 10% mais proteínas e minerais, na comparação com os cortes bovinos. A Cowpig distribui o produto para butiques da capital paulista e interior, mas já vê crescer o interesse de redes de supermercados. A rede gaúcha Zaffari, que tem lojas e hipermercados também em São Paulo, foi uma das primeiras clientes de seus cortes premium.
A empresa também promove ações de promoção da carne de búfalo, que, segundo o executivo, pode ter preços superiores à carne de bovinos de raças como nelore e angus. Mas, para Sebastiani, falta um marketing mais pesado em relação ao produto, a exemplo do que já é feito com o leite de búfala, que alcança bons preços com seus subprodutos como a mussarela e a ricota.
Fonte:Revista Globo Rural / Fotos:Foto: Divulgação/Bubalis Food