Excesso de chuvas compromete 80% da safra de frutas do Vale do São Francisco

O excesso de chuvas entre o final de 2021 e início de 2022 no Vale do São Francisco, um dos principais produtores de uva e manga do Brasil, comprometeu em 80% a safra do primeiro semestre, com prejuízos estimados em R$ 60 milhões.

Sem paralelo nos últimos 15 anos, a perda de safra atinge cerca de 2.000 fruticultores, a maior parte pequenos e médios produtores, segundo Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina.

Até o dia 13 de janeiro, segundo estimativas do sindicato, os prejuízos com a uva já passavam de R$ 33 milhões com a perda de 20 mil toneladas da fruta. Na cultura da manga, os produtores contabilizaram prejuízos de R$ 27 milhões, com a perda de 10 mil toneladas.

A região do polo fruticultor localizado principalmente nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), às margens do rio São Francisco, registra desde novembro chuvas prolongadas que chegaram a entre 300 e 500 milímetros por semana.

Os dados são de registros pluviométricos dos associados do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina, cujas propriedades rurais possuem estações pluviométricas particulares. A média anual de chuvas na região é de 400 milímetros.

O excesso de chuvas prejudica principalmente a produção de uvas porque as frutas incham e estouram, segundo agrônomos que atuam na região.

No Vale do São Francisco, praticamente toda a produção é com irrigação controlada, na qual é dada a quantidade necessária de água para a parreira se desenvolver bem e produzir frutos de qualidade.

Mas, com o excesso de chuvas, é praticamente impossível fazer algum controle. Além disso, as chuvas favorecem o aparecimento de doenças fúngicas como o míldio, que se desenvolve com a umidade das folhas dos pés de uva.

“A qualidade das frutas fica comprometida, mesmo conseguindo fazer os tratos culturais e salvar a planta. disse o agrônomo Jackson Souza Lopes, que também é consultor e produtor de uva. “Em tempos sem excesso de chuva, os produtores conseguem ter 80% das frutas na categoria 1, mas com as chuvas cai para 50%”, diz.

Na produção de manga, a área de plantio que se manteve em pé terá atraso na janela de produção (normalmente entre março e abril), que pode se estender por um ou dois meses (maio e junho), conforme o agrônomo Eduardo Ferraz, que exporta para a Europa.

“Algumas áreas onde ocorreram precipitações maiores houve redução na diferenciação floral das áreas, não conseguiu fazer florescimento completo e com isso atrasa o cronograma de produção da fruta”, declarou.

De acordo com o Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina, por conta dessa situação, as exportações para os Estados Unidos, que ocorrem principalmente em fevereiro e março, terão redução de 50% em relação ao ano passado, com maior impacto nos envios das uvas de mesa, as mais prejudicadas com o excesso de chuvas.

Dados do Ministério da Agricultura apontam que entre fevereiro e março de 2021 Bahia e Pernambuco enviaram para o país norte-americano 3.500 toneladas de uvas e 24,5 toneladas de mangas.
O total de exportações das mesmas frutas no primeiro semestre do ano passado, ainda para os Estados Unidos, soma 7.100 toneladas de uvas e 57,6 toneladas de mangas.

O Vale do São Francisco exporta também para Europa, Inglaterra, países do Mercosul e Canadá. No total, em 2021, as exportações somaram 245 mil toneladas de mangas e 75,1 mil toneladas de uvas.

“Neste ano haverá redução das exportações para todos os países”, afirma o Jailson Lira, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina e que também é produtor de uvas de mesa, em uma área de cerca de 40 hectares.

“Minha produção ano passado foi de 1.200 toneladas, mas, por conta deste problema das chuvas, a produção vai cair à metade, o que impactará também na redução da contratação de funcionários para a realização dos tratos culturais”, disse.

A produção de frutas no Vale do São Francisco (80% da produção é de uvas e mangas) gera 100 mil empregos diretos e movimenta cerca de 420 milhões de dólares nos mercados internos e externos (R$ 2,21 bilhões), segundo o Sindicato dos Produtores Rurais de Petrolina.

João Gualberto Freitas, presidente da Valexport, disse que a entidade que representa exportadores de frutas no Vale do São Francisco ainda avalia os impactos das chuvas nas exportações de frutas.

“No geral, por enquanto, estamos estimando que haja redução de até 6% nas exportações, que ocorrem com mais força no segundo semestre”, disse.

Fonte: Folhapress