Você já ouviu frases como “Depressão não é doença, é preguiça, é falta de Deus, é falta de vergonha,” “Vai gastar essa energia, vai correr, isso é frescura” (transtorno de ansiedade). “Senta um pouco na carteira. Você não para quieto” (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).
Transtornos como estes, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), atingem cerca de 720 milhões de pessoas em todo o mundo o que corresponde aproximadamente 10% de toda a população mundial. O Brasil ocupa o terceiro lugar no ranking mundial das doenças mentais.
Segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria, (ABP), no país, cerca de 50 milhões de pessoas sofrem algum tipo de doença mental como depressão, transtornos de humor, déficit de atenção, ansiedade, crise de pânico, burnout, entre outras. São doenças que podem afetar crianças, jovens, adultos e idosos de todas as faixas etárias e que podem favorecer esse público a sofrer alguma ação preconceituosa por serem pacientes psiquiátricos.
Esse preconceito conforme explica o psiquiatra, Dr. Rogério Jesus, é chamado de Psicofobia. “É uma discriminação que ocorre contra as pessoas que têm algum tipo de transtorno ou deficiência mental que são alvos do preconceito, situação que infelizmente ainda é muito comum em nossa sociedade e que muitas vezes ocorre por conta de informações incorretas sobre as doenças e seus tratamentos.”
De acordo com o especialista, outro motivo de cunho histórico que deu origem a discriminação a pacientes psiquiátricos foi que até poucos anos atrás, as possibilidades terapêuticas serem limitadas, devido às perspectivas farmacológicas precárias. Por esse motivo, os pacientes eram renegados pela família e pela sociedade, passando a viverem em instituições psiquiátricas conhecidas como manicômios. “Devido a questões como estas, os doentes passaram a parecer invisíveis às outras pessoas que estavam à sua volta, e então passaram a ser taxados como “loucos” e até vistos sem possibilidade de recuperação,” pontuou.
O médico ressalta também que, historicamente, sempre existiu uma preocupação em identificar a sanidade mental como um traço importante para confiar e validar a fala de uma pessoa. “Quando a pessoa diz que não anda muito bem da saúde mental, o ouvinte já imagina que ela não é confiável, que ela não pode ter responsabilidades ou que, de repente, pode ter um surto ou comportamento imprevisível, daí outro motivo que ocasiona a discriminação,” apontou.
Segundo o psiquiatra, quando existe preconceito sobre o paciente, é como se as pessoas estivessem dando uma relevância muito maior do que de fato aquilo pode representar, deixando de lado o acolhimento, a atenção, o carinho, o bom trato que ele precisa. “O paciente mental quer e necessita ser acolhido, pois, muitas vezes ele enfrenta estigma da doença e o significado de estigma é marca, cicatriz e que se agrava ainda mais quando vistos como “sem juízo”, “desnaturados”. Quando esse preconceito ocorre, pode haver danos e muitas vezes agravar ainda mais o seu quadro.” E continua.
“É preciso ter o entendimento que pessoas com ideias suicidas não estão em busca de chamar a sua atenção, pessoas com depressão não estão tristes porque querem, pessoas com ansiedade não são ansiosas porque optaram, pessoas com transtorno mental não são loucas. E a Psicofobia quando praticada, só piora a situação, pois o tratamento indiferente, a negligência, a ignorância e a solidão, levam a pessoa a um estado muito pior do que aquele no qual transtorno já a coloca,” salientou.
Além do preconceito com o paciente, Dr. Rogério também chama atenção para a discriminação em torno do uso de psicotrópicos como antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor. “Ao contrário do que pensam, que as medicações podem “modificar a personalidade”, “acabar com a espontaneidade”, “diminuir a criatividade”, “causar dependência”, dentre outras inverdades, as medicações existem para melhorar a qualidade de vida dos pacientes, melhorar funções cognitivas e até evitar o declínio cognitivo que as próprias patologias psiquiátricas podem causar na sua evolução,” reforçou.
O psiquiatra lembra que no entanto, apesar da psicofobia ser uma realidade na sociedade atual, aos poucos vem sendo debatida e combatida e com o passar dos anos, com o surgimento de novos fármacos, os tratamentos estão cada vez mais eficazes. “O surgimento de novos tratamentos tem feito com que os pacientes tenham melhor prognóstico e qualidade de vida, sem contar também, que as campanhas contra esse tipo de preconceito tem ajudado na conscientização das pessoas. “Apesar da psicofobia ser muito presente nos dias atuais, aos poucos, as pessoas estão quebrando a visão equivocada sobre pacientes psiquiátricos e até mesmo sobre suas famílias, mas, tudo isso, graças a campanhas fixas como a da Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, que tem o intuito de combater o estigma e o preconceito contra os padecentes de doenças mentais e que criou por exemplo em 2014, o Dia Nacional de Enfrentamento da Psicofobia definindo o 12 de abril como o dia para conscientizar a sociedade sobre a questão e dar voz a quem sofre discriminação, seja o paciente, seja a família, seja o psiquiatra ou até mesmo a instituição que cuidas destas pessoas,“ mencionou.