Laina participa de audiência contra genocídio de jovens negros

Atividade relembrou caso de tio e sobrinho mortos após furto de carne no Atakarejo

 

A vereadora Laina Crisóstomo (PSOL), do Mandato Coletivo Pretas Por Salvador, esteve na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) na manhã de terça-feira (26) para participar da Audiência Pública pelo Dia Estadual de Luta contra o Genocídio de Jovens Negros e Periféricos no Estado da Bahia. A atividade foi promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública e relembrou o assassinato de tio e sobrinho após furto de carne no Atakadão Atakarejo, em Amaralina, em abril de 2021.

A audiência foi promovida por iniciativa do deputado estadual Hilton Coelho (PSOL), com foco nas discussões sobre a violência e o genocídio contra a população negra da Bahia. Como diz a vereadora o objetivo foi “ressaltar os casos constantes em que os corpos negros são ceifados pela polícia da Bahia, estado considerado o mais letal do país”.

O evento reuniu representantes de movimentos sociais, parlamentares e familiares dos jovens mortos.  A vereadora Laina fez um discurso sobre um ano do assassinato de Bruno Barros da Silva, 29 anos, e do seu sobrinho, Ian Barros da Silva, 19 anos, que foram entregues a criminosos por funcionários da rede de supermercados Atakadão Atakarejo.

“É muito forte ver esse auditório repleto da nossa cara, repleto de quem nós somos. Que a gente, cada vez mais, ocupe esses espaços institucionais, a partir das nossas narrativas e das nossas histórias. Existe uma diferença muito grande de fazer uma audiência pública nesse espaço presencial porque é sobre sentir essa energia e, acima de tudo, se acolher porque o desafio está posto e é cada vez mais violento”, disse a vereadora.

Laina Crisóstomo completou: “Hoje, 26 de abril, completa um ano do caso emblemático e perverso do Atakarejo. Um ano de Ian e Bruno, que tombaram por causa de um pedaço de carne. Nós estamos falando de projeto genocida que quer fazer os nossos corpos tombarem a partir da lógica do capital, de guerra as drogas”.

Laina destacou que “os dados sobre a violência praticada contra a população negra evidenciam uma realidade cruel e da atuação de uma polícia letal pautada no racismo gritante do país”.  Ela diz que, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2020, 100% das vítimas assassinadas pela polícia em Salvador eram homens negros.

A vereadora Laina disse ainda que, de acordo com um estudo realizado pelo FBSP em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP, a Bahia, em termos absolutos, é o estado onde acontecem mais assassinatos do Brasil e já contabiliza 5.099 vítimas. “Mesmo a população negra representando 56% dos 212 milhões de habitantes, a violência contra esse povo continua assustadora”, diz.

 

Depoimentos

 

A audiência contou com depoimentos de parentes de vítimas. A coordenadora do Movimento Sem Teto da Bahia, Mira Alves, falou na condição de mãe que vivenciou a morte de seus filhos e que segue buscando justiça e escuta por parte dos órgãos públicos. “Nós temos que ser escutados. Esse é o momento para as famílias se unirem e não terem medo de denunciar, como eu não tenho medo de dizer que perdi meus dois filhos caçulas para esse terror perverso do estado. Quando eles matam os filhos dessas mulheres, elas praticamente vão junto”, ressaltou Mira.

A assistente social e fundadora do Coletivo Incomode, Nadjane Cristina, falou sobre o extermínio e o medo. “Eu não estou alegre por estar sentada aqui, porque, quando estou aqui, falo por aqueles amigos que foram tombados pela bala institucionalizada. Há alguns dias, perdi amigos que foram vítimas da violência do estado. Eu tenho medo de as minhas filhas saírem na porta e serem atingidas”, disse.

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