A parceria entre o deputado federal baiano Elmar Nascimento, líder do União Brasil, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), vai além da política, como ficou evidente neste Carnaval. A “dobradinha” que disputa espaços no governo do presidente Lula (PT) fez sucesso nos camarotes e até em cima dos trios elétricos na folia soteropolitana.
Lira chegou em Salvador no primeiro dia oficial de Carnaval, na quinta-feira (16), e só deixou a cidade no domingo (19). Não teve compromissos oficiais longe dos circuitos da festa e estava sempre acompanhado de Elmar. Outro anfitrião foi o deputado estadual Marcinho Oliveira (União), principal aliado político de Elmar na Bahia. Os três passaram por camarotes e subiram no trio puxado por Bell Marques no bloco Vumbora.
Em coletiva neste domingo (19), o governador Jerônimo Rodrigues (PT) contou que foi avisado da vinda de Arthur Lira, bem como de outras personalidades políticas que preferiram não ter uma agenda oficial com autoridades em Salvador, a exemplo também do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), que ficou dois dias na capital baiana. “Nós oferecemos todo o apoio, a exemplo de seguranças e transportes”, declarou.
Segundo reportagem publicada nesta segunda-feira (20) no jornal O Globo, Elmar atua em parceria com Lira para pressionar o Palácio do Planalto em busca de cargos. A operação deu certo. Na tentativa de construir uma base sólida no Congresso, o governo decidiu, na semana passada, manter o comando da cobiçada Codevasf nas mãos do Centrão.
Na estatal, enquanto o parlamentar baiano do União Brasil indicou Marcelo Moreira para presidente ainda em 2019, um dos diretores no governo passado, Davidson Tolentino, é apadrinhado do PP de Lira. Em Alagoas, o superintendente é João José Pereira Filho, primo do presidente da Câmara.
Apesar de estarem em partidos diferentes, os dois são aliados próximos e costumam atuar juntos na negociação de cargos e dividir influência sobre as estruturas. Os laços entre os dois se fortaleceram na primeira eleição de Lira para presidir a Câmara, em 2021. À época no DEM, Elmar liderou dentro do partido a dissidência em relação ao nome indicado pelo então presidente da Casa, Rodrigo Maia (RJ), que apostou em Baleia Rossi (MDB-SP). Ser derrotado dentro da próprio legenda, admitiria Maia, foi um fator decisivo para a vitória de Lira.
Sob a presidência do alagoano na Câmara, o deputado baiano foi relator de projetos importantes como o de privatização da Eletrobras e o que viabilizou o Bolsa Família de R$ 600. Já após a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro, foi Lira quem agiu para tentar emplacar Elmar no comando da Integração Nacional. Mas o escolhido acabou sendo o ex-governador do Amapá Waldez Goes, indicado pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP).
Pesaram contra Elmar inclusive críticas pessoais a Lula. Apoiador da reeleição de Bolsonaro e adversário do PT baiano, ele fez comentários irônicos sobre a prisão de Lula, a quem se referia como “ex-presidiário” na campanha eleitoral de 2022.
No fim de dezembro, o local onde Elmar estava durante uma das reuniões finais entre Alcolumbre e Lula para fechar a indicação para o Ministério da Integração demonstra o nível da relação entre o líder do União Brasil e Lira: o deputado baiano acompanhava o presidente da Câmara em Barra de São Miguel (AL), cujo prefeito é pai de Lira.
A pressão da tabelinha Elmar e Lira por mais espaços deve aumentar com a oficialização da federação entre União Brasil e PP, prevista para o início de março. Com a aliança, as duas siglas formarão a maior bancada da Câmara e a segunda do Senado.