‘Apanhei e não morri’. Frequentemente ouvimos essa afirmação, consideramos uma expressão normal e naturalizamos o modelo educacional com punições físicas.
Em pleno século XXI, ainda não conseguimos compreender que punições físicas como a palmada são prejudiciais ao desenvolvimento e bem-estar das nossas crianças. Os especialistas apontam que além desse tipo de punição criar uma barreira entre a criança e os pais, ou o adulto responsável pela sua educação, a punição física desenvolve alguns traumas e medos desenvolvidos ao longo da vida.
De acordo com a psicóloga e psicoterapeuta Bianca Reis, bater em uma criança não é escolha, nem uma opção ou um estilo de modelo educacional. “Ainda é muito comum percebermos que as famílias continuam se valendo da punição física, como forma de educar uma criança e manter o respeito, porém isso é uma ilusão, pois o que é construído é o medo além de distorções cognitivas e emocionais”, afirma a especialista.
Em adição, mesmo existindo leis e projetos de lei, como o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que reconheçam esse tipo de prática como um crime, a problemática não é “sanada” e a psicóloga explica o motivo.
“Além de ser necessário que pais e responsáveis saibam que existe uma pena a ser cumprida em caso de violência física e lesão a menores, é preciso fazer um caminho de orientação, acolhimento e trabalho profundo das questões que estão envolvidas em atos como a punição física contra crianças e adolescentes e é preciso que o adulto que utiliza a punição como modelo educacional, revisite sua criança interior. A punição física causa grande confusão mental, pois vamos criando a crença de que o amor está vinculado a violência, quando em verdade não há correspondência, com isso algumas escolhas vão sendo feitas ao longo da vida baseadas nessa interpretação e conceito inconscientes. O debate não ocorre para culpar ou julgar os pais, mas para que possamos gerar reflexão e acolhimento. Quem opta pela força física, mesmo que uma ‘inocente’ palmadinha, não conseguiu de alguma maneira compreender a gravidade nem os próprios impulsos. Os impactos psíquicos são comprovados cientificamente e existem traumas que levam anos para serem curados, ou muitas vezes, nem são e causam impactos na saúde mental do indivíduo”, acrescenta a psicoterapeuta.
É compreensível que uma das tarefas mais desafiadoras da vida seja a de educar outro ser humano, afinal isso envolve também e principalmente a nossa transformação consciente. “Optar por quebrar ciclos de violência e seguir um modelo educacional firme e gentil ao qual não se tem base nem repertório é sair da zona de conforto, enfrentar a própria dor e proporcionar a si e ao outro o respeito e o amor que merecem”, finaliza a psicóloga Bianca Reis.
Sobre Bianca Reis
Psicóloga 03/11.152 do CRE-TEA, Psicoterapeuta, Palestrante e Facilitadora de Grupos. Bianca é Mestra em Família, Especialista em Psicoterapia Junguiana e Pós-graduada em Estimulação Precoce e pós-graduanda em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Atua há 9 anos na área clínica, tratando de pacientes com demandas voltadas aos relacionamentos familiares e românticos, sexualidade, gênero, infância, ansiedade, depressão e outras importantes questões psicológicas e humanas.