Para Federação, incertezas fiscais e dinâmica inflacionária exigiam manutenção da taxa de juros em 10,50%; volta da redução depende de um ajuste fiscal mais efetivo
O Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central agiu com responsabilidade ao pausar o ciclo de redução da taxa básica de juros do País, a Selic, nesta quarta-feira (19). Com isso, ela permanece em 10,50%. Embora seja má notícia para o setor produtivo, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) avalia que a parada técnica era necessária em meio a uma conjuntura econômica que aponta para riscos inflacionários.
O primeiro ponto de atenção é a incerteza fiscal. O governo admitiu, há alguns meses, que não conseguirá atingir a meta de déficit de gastos neste ano, mas não aproveitou a oportunidade para mostrar um plano de contingência alternativo ao arcabouço fiscal existente. Em paralelo, os números relativos aos investimentos estão em queda na comparação com os do ano passado, enquanto o consumo tanto do governo quanto das famílias permanece em alta.
Todo esse contexto reforça o alerta de que pode haver um desequilíbrio entre oferta e demanda no futuro próximo.
A consequência disso é inflação, e o mercado já a notou. O boletim Focus, do Banco Central, tem refletido um cenário pessimista, cujas expectativas estão se deteriorando rapidamente já para 2024, mas também para os próximos anos.
Não são apenas perspectivas, vale dizer, porque o IPCA de maio registrou alta de 0,46%. Em 12 meses, o indicador acumula alta de 3,93%, patamar próximo da banda superior da meta.
Além da incerteza fiscal, o próprio contexto econômico brasileiro exigia uma atitude como a que o Banco Central tomou agora: o mercado de trabalho segue bastante aquecido, com o desemprego perto da mínima histórica (7,8%), enquanto o rendimento real cresceu 1,1% no primeiro trimestre em relação ao período anterior. Em 2024, ele já subiu 4,3%, com uma massa de renda em torno de R$ 307 bilhões, de acordo com o IBGE. São números que pressionam os preços, principalmente dos serviços intensivos em mão de obra.
Na análise da FecomercioSP, o recado do IPCA é inequívoco: com a pressão sobre o grupo alimentos, os serviços darão a tônica da conjuntura daqui em diante: não apenas porque é um setor sensível à demanda dos consumidores, mas também porque sente imediatamente os efeitos da elevação dos gastos do governo. Em outras palavras, política fiscal expansionista tem como resultado aumento direto dos preços dos serviços.
Por tudo isso, a decisão do COPOM foi correta. Caso a instituição decidisse cortar mais a Selic, poderia haver um aumento imediato das expectativas de inflação no longo prazo e o empresariado já sentiria no presente um aumento das taxas de juros nos financiamentos de longo prazo.
Para a Federação, aliás, a volta do ciclo de cortes está condicionada agora a um plano de ajuste fiscal apresentado pelo governo ao País que seja feito via corte de despesas. Sem isso, o BC continuará refém de incertezas.
Sobre a FecomercioSP
Reúne líderes empresariais, especialistas e consultores para fomentar o desenvolvimento do empreendedorismo. Em conjunto com o governo, mobiliza-se pela desburocratização e pela modernização, desenvolve soluções, elabora pesquisas e disponibiliza conteúdo prático sobre as questões que impactam a vida do empreendedor. Representa 1,8 milhão de empresários, que respondem por quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e geram em torno de 10 milhões de empregos.