Sob a pressão dos depoimentos prestados à CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seguiu o roteiro de radicalizar o discurso em sua live da noite desta quinta-feira (20).
Além de xingar os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), governadores e senadores da comissão parlamentar de inquérito, disse que voltou a ter sintomas de infecção pelo coronavírus e tomou cloroquina sem consultar seu médico.
Logo no início da transmissão, Bolsonaro reagiu a uma entrevista de FHC ao programa Conversa com Bial, da TV Globo. Nela, o tucano disse que votaria em Lula em segundo turno contra Bolsonaro.
Ao abordar o assunto, Bolsonaro lembrou que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu uma fazenda da família de FHC no interior de Minas Gerais, em 2002. O atual presidente disse, em tom de ironia, que tinha vontade de financiar uma nova invasão.
“O campo não podia mais continuar em guerra como vimos até antes do governo [Michel] Temer [2016-2018]. O próprio PT, no governo Lula e Dilma, foram recordistas [sic] em invasões de terra. Até no governo FHC também existia isso. Até teve uma passagem bastante notória naquele momento que invadiram a fazenda do Fernando Henrique Cardoso. Esse FHC que está dizendo agora que vai votar no Lula. Olha a cara de pau. Esse cara de pau FHC dizendo que agora vai votar no Lula. Dá uma vontade de soltar um dinheirinho para o MST da região da fazenda do FHC para o pessoal invadir de novo lá, quem sabe ele aprenda”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro referiu-se a Lula como “ladrão de nove dedos” e disse que “onde tem PT, tem roubo”, mas os xingamentos também envolveram outras pessoas.
O presidente da República chamou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B) de “comunista gordo” e atacou também integrantes da CPI da Covid, citando nominalmente os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, Humberto Costa (PT-PE), Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM).
“Aquele pessoal que acompanha o relator integra uma verdadeira súcia”, afirmou Bolsonaro, mencionando a palavra que define uma reunião de pessoas de má índole ou de má fama ou, como disse Bolsonaro, o coletivo de vagabundos. O presidente também referiu-se a senadores como jumentos.
No contexto da CPI, elogiou apenas o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde que, em dois dias de depoimentos, distorceu informações e reforçou omissão do governo federal na crise da falta de oxigênio em Manaus.
“Pelo que fiquei sabendo agora, o Pazuello foi muito bem. Mas a CPI continua sendo um vexame nacional. Não querem investigar o desvio de recurso. Querem falar sobre -não vou falar o nome aqui para não cair a live- aquele negócio que o pessoal usa para combater a malária e eu usei lá atrás”, disse Bolsonaro em menção à cloroquina.
Temendo sanções das empresas de redes sociais por estar promovendo um remédio sem comprovação científica de eficácia para a Covid, Bolsonaro não falou o nome da droga e, em alguns momentos, referiu-se ao medicamento como “o que eu ofereci à ema”.
Folhapress