Bolsonaro faz evento no Planalto para voltar a defender remédio sem eficácia comprovada contra Covid-19

BRASÍLIA – Com o país próximo da marca de 115 mil mortos pela Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro reuniu nesta segunda-feira médicos e membros do governo para uma cerimônia em defesa do uso da hidroxicloroquina no combate à doença, apesar de não haver estudos que comprovem a eficácia do tratamento com o medicamento.

O evento chamado “Brasil vencendo a Covid-19” foi organizado pelo assessor da Casa Civil Arthur Weintraub, que teria, segundo ele, recolhido casos de sucesso do uso da hidroxicloroquina e da cloroquina por médicos que adotaram o protocolo do governo sobre os medicamentos.

Defensor do uso da cloroquina desde o início da epidemia, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o medicamento poderia ser uma alternativa, Bolsonaro destacou que ele mesmo usou a hidroxicloroquina para sua cura. O presidente ficou três semanas com o vírus e chegou a ter uma infecção pulmonar ao final, tratada com antibiótico.

“Não tem comprovação científica, mas salvaram muitas vidas”, alegou o presidente. “Se a hidroxicloroquina não tivesse sido politizada, muito mais vidas poderiam ter sido salvas dessas 115 mil perdidas.”

No domingo, o Brasil chegou a 114.744 óbitos pela Covid-19, de acordo com os dados oficiais, e 3.605.783 casos da doença. É o segundo maior número de mortes e casos no mundo, atrás apenas para os Estados Unidos. Nas últimas duas semanas, a média diária de óbitos no país se aproxima de 1000.

O Palácio do Planalto chamou três médicos que receitam o medicamento no tratamento precoce de casos para defender a hidroxicloroquina. Um deles, Luciano Dias Azevedo, anestesiologista, foi quem apresentou, junto com a médica Nise Yamaguchi, o protocolo de hidroxicloroquina somada ao antibiótico azitromicina a Bolsonaro, em abril deste ano. Foi quando Bolsonaro passou a pressionar o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, para mudar o protocolo de uso do medicamento para ser indicado também em casos leves, além dos graves.

A pressão do presidente levou à demissão de Mandetta e também à saída de Nelson Teich que, por não aceitar a alteração, pediu demissão com menos de um mês no cargo. A orientação foi alterada quando o general Eduardo Pazuello assumiu o posto interinamente.