Cadernetas Agroecológicas revela potencial produtivo e de geração de renda da mulher agricultora

O terceiro e último encontro virtual do seminário Cadernetas Agroecológicas – Tecendo Saberes e Vivências, realizado na sexta-feira (23), apresentou os resultados econômicos e refletiu o processo de aplicação das Cadernetas Agroecológicas junto a 374 agricultoras envolvidas no Pró-Semiárido, projeto do Governo do Estado. Dentre os dados expostos, está o valor da produção gerado por elas, que ultrapassou R$1,2 milhão em um ano de anotações.  

Para traduzir os números, a Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc), Cooperativa de Trabalho e Assistência à Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (Cofaspi) e os Institutos Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (Irpaa) e de Desenvolvimento Social e Agrário do Semiárido (Idesa) traçaram perfis representativos de agricultoras de diferentes municípios, para daí aprofundar as análises a respeito da renda, aspectos relacionados à diversidade da produção, estratégias de comercialização, capacidade de gestão e contribuição dessas mulheres para agrobiodiversidade do Semiárido.  

No caso da agricultora Clarice Duarte, da comunidade Curral Novo, do município de Juazeiro – BA, acompanhada pelo Irpaa, 74% da renda gerada por ela vêm do seu quintal produtivo, 15% do trabalho no roçado e 11% com a caprinocultura. Somadas as rendas monetária e não monetária, considerando o consumo da família, o que foi vendido, doado ou fruto de trocas comunitárias, dona Clarice conseguiu gerar uma renda de R$16.674,65. “Quando a técnica falou: ‘Clarice, 16 mil’. Ave Maria, eu fiquei no céu. Eu tirei isso tudo no ano, aqui dentro da comunidade, porque eu não saio, só vendo aqui mesmo. Ainda mais nessa pandemia, que eu não posso mais vender em porta em porta. Foi um prazer tão grande, eu consegui comprar uma moto 2021, aí fiquei mais contente ainda pra trabalhar”.  

O uso das Cadernetas apontou ainda que a mulher agricultora é a principal responsável pela produção agroecológica e que o serviço de ATC tem sido imprescindível para que ela adote novas técnicas, práticas e avance nesse papel de forma consciente e fortalecida. “As Cadernetas evoluíram e o que a gente vê agora é um movimento, a formação de uma rede! Esse instrumento atestou que as agricultoras são as grandes guardiãs da agrobioidversidade, e o Pró-Semiárido tem assumido essa agenda e se tornado referência”, assinalou o Oficial de Programas do FIDA no país, Hardi Vieira. 

Nesse sentido, a pesquisadora e membro do GT de Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia, Liliam Teles, destacou: “A Caderneta Agroecológica é uma ferramenta tão simples, mas se aplicada com a metodologia que a acompanha pode transformar o olhar da agricultora e da equipe técnica”. Taiane Costa, membro da equipe da Coopercuc, confirma o que disse a pesquisadora: “No processo de aplicação da metodologia, nós nos envolvemos de uma maneira totalmente diferente, essas mulheres nos ensinam muito mais do que a gente a elas”. 

Os resultados apresentados no seminário foram comemorados ao som da musicista, arte-educadora, compositora, atriz e regente do Grupo Café com PaN, Emillie Lapa. 

Caderneta Agroecológica – A Caderneta Agroecológica (CA) foi concebida, em 2011, pelo Centro de Tecnologias Alternativas na região de Zona da Mata em Minas Gerais (CTA/ZM), em interlocução com o Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia – (GT/ANA). O Programa de Formação em Feminismo e Agroecologia (CTA), em 2013, foi o primeiro a utilizar a metodologia das Cadernetas. Logo após, também em 2013 e em 2015, o GT da ANA aplicou esse instrumento dentro de um programa de formação, cuja temática principal foi “Feminismo e Agroecologia”, financiado pela União Europeia e levado a todas as regiões do país. 

A ferramenta começou a ser adotada pelo Pró-Semiárido, ação de combate à pobreza no campo executada pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), em 2019. Entre os seis projetos cofinanciados pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) no país, o maior número de agricultoras participantes da pesquisa, 41% das 909 cadernetas sistematizadas, são do projeto do Governo da Bahia.