A tradicional celebração do Terno de Reis, manifestação cultural e religiosa promovida pelo Grupo Cultural Espermacete, aconteceu neste sábado (6/1), em Barra do Pojuca. Realizado com o apoio da Prefeitura de Camaçari, por meio da Secretaria de Cultura (Secult) e Coordenação de Eventos, o evento encerra o ciclo de festejos natalinos e dá início ao período de festividades populares da cidade. A festa, que faz referência à visita dos três Reis Magos ao Menino Jesus, acontece há mais de 30 anos no município.
Sob a liderança de Anatanildes Pereira Bonfim, popularmente conhecida como Mestra Nildes, a celebração do Terno de Reis em Barra do Pojuca começou em 1991. A responsável pelo Espermacete disse que, juntamente com sua mãe Arlinda Bonfim, e uma prima chamada Domingas Bonfim, deram início à tradição no município. “Pense no tamanho da felicidade que sinto no meu coração”, comentou a detentora de saberes, ao falar sobre a realização dos festejos por mais de três décadas. “Espero, em Deus, que Ele nos dê muitos anos de vida e saúde para continuarmos levando à frente essa linda festa. Só gratidão a todos e ao Menino Jesus”, completou.
Relembrar a atitude dos reis que presentearam o Menino Jesus com ouro, incenso e mirra, é um marco para os fiéis católicos e admiradores da religião cristã. O vice-prefeito, José Tude, participou do ato celebrativo e, na oportunidade, lembrou que, quando criança, sua mãe sempre o levava para participar dessas comemorações. “Essa é uma tradição que emociona a gente, pois ativa memórias afetivas importantes sobre uma história linda do nascimento de Jesus”, comentou emocionado, ao completar dizendo que, “na pessoa dessa guerreira da cultura, Mestra Nildes, parabenizo a todos que levam os festejos de reis adiante”.
O subsecretário da Secult, Luciel Neto, prestigiou as comemorações na localidade da costa do município e pontuou que, “eu acredito que a palavra, que define todos esses anos do Terno de Rei, é resistência. A gente precisa de resistência para manter nossas manifestações, porque um povo sem memória é um povo perdido, que não se vê e não se conhece, e a gestão municipal apoia com o objetivo de manter viva a tradição do nosso povo”.
Os personagens bíblicos Melchior, Gaspar e Baltazar, bem como José e Maria, foram representados por crianças moradoras da localidade. Atualmente, o Grupo Cultural Espermacete é formado por pessoas de todas as idades, desde crianças de 8 anos até idosos com mais de 85 anos. “Eu faço essa mistura, com membros de diferentes idades, para que os mais novos possam aprender com a experiência dos mais velhos, e as pessoas da terceira idade recebam um pouco da vitalidade dos jovens”, explicou a mestra.
Percorrendo a Rua Filogônio Gomes de Oliveira até a Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Rua Elísio Neto, os brincantes do cortejo Folia de Reis, animaram o público espectador, levando alegria por onde passavam. Com danças e muitas cantigas, embaladas pelo som do rebolo, caixa, maraca, pandeiro e outros instrumentos, o Espermacete encantou a todos que assistiram de perto ou das calçadas, portas, janelas e sacadas das casas.
O casal de visitantes, Enkidu Mordeglia e Tânia Carvalho, 46 e 52 anos, respectivamente, acompanharam a procissão e aproveitaram para fazer vários registros fotográficos. Encantada com a folia, Tânia, que é terapeuta, destacou que, “para mim, esse momento é um resgate da minha infância, quando saíamos cantando e exaltando Jesus”. Expressando grande alegria por prestigiar a festa, o artista plástico Enkidu disse que nunca viu nada igual e, também afirmou que, “gostei muito e estou feliz. É uma festa cheia de gente bonita, que envolve um sincretismo e uma mistura que a gente só vê na Bahia”.
A procissão marcou o início do evento, que seguiu com apresentações em um palco montado atrás da igreja católica, por onde passaram os grupos de samba de roda Raiz do Passado, que abriu a programação; Espermacete; Eremim de Parafuso; e Raiz Nativo, de Mata de São João.
Também participaram da celebração de Terno de Reis, a gestora Secult, Márcia Tude, que, na ocasião, estava acompanhada de membros da Comissão de Apoio às Manifestações Culturais de Matrizes Africanas e Atividades Ligadas ao Povo Negro e Menorizados (CAMCMAM), pertencente à pasta; representantes da Secretaria do Turismo (Setur) e grande público.
Foto: Jean Victor