Apresentado no principal congresso global de oncologia, o estudo fase 3 LAURA mostra avanços no tratamento de tumores pulmonares de células não pequenas, o mais comum entre a população
O tipo de tumor que mais mata no mundo, o de pulmão, mereceu especial atenção da comunidade médica nas últimas décadas e, nesta edição da ASCO, principal congresso global de oncologia, estudos com avanços serão apresentados em diferentes painéis. Uma das pesquisas de maior impacto, apresentada nesta segunda-feira (03/06) durante a plenária, trouxe dados que acenam para novas frentes de adoção do osimertinib, uma medicação que atua no chamado receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR), para casos de câncer de pulmão estadio 3.
“Esses pacientes faziam habitualmente quimioterapia e radioterapia, mas agora temos no horizonte um estudo mostrando que para pacientes com mutação no gene EGFR, a terapia-alvo também melhora a eficácia do tratamento”, explica William Nassib William Jr., líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclínicas.
Chamado de LAURA, a pesquisa fase 3 liderada por Suresh S. Ramalingam, da Emory University School of Medicine, de Atlanta (Eua), mostra resultados de sobrevida global encorajadores, trazendo perspectivas de grandes benefícios da combinação a longo prazo.
“Os dados apresentados indicam uma descoberta revolucionária. O estudo revelou que o uso do inibidor da tirosina quinase EGFR, osimertinib, melhora significativamente a sobrevida livre de progressão em pacientes com câncer de pulmão de não pequenas células (NSCLC) estágio III, irressecável, após quimiorradioterapia. Os resultados indicam que a medicação oferece uma taxa de sobrevida de 39,1 meses, em comparação com apenas 5,6 meses com placebo. Esses resultados oferecem esperança renovada para pacientes com mutações EGFR e consolidam o osimertinib como uma nova referência em terapias direcionadas”, explica o oncologista.
Avanço notável
O estudo envolveu 216 pacientes de 17 países, divididos aleatoriamente para receber osimertinib ou placebo. A maioria dos participantes eram mulheres e de origem asiática, com idades médias de 62 e 64 anos, respectivamente.
“O osimertinib demonstrou uma melhoria estatisticamente significativa e clinicamente relevante nas taxas de sobrevida livre de doença,” afirmou o autor principal da análise, destacando que o tratamento deve se tornar o novo padrão de cuidado para casos com mutação EGFR nesta fase. Suresh Ramalingam enfatizou ainda a importância dos testes de mutação EGFR no estágio III da doença para garantir os melhores resultados possíveis para todos os pacientes.
“O benefício foi consistente em todos os subgrupos predefinidos, incluindo sexo, idade, histórico de tabagismo e estágio do câncer. Os resultados do LAURA redefinem o paradigma de tratamento, demonstrando que o osimertinib supera significativamente a imunoterapia para pacientes com mutação EGFR, estabelecendo um novo padrão de cuidado”, diz William William.
Segundo o líder nacional da especialidade tumores torácicos da Oncoclínicas, esses achados marcam um avanço de grande impacto no tratamento do câncer de pulmão de não pequenas células avançado, uma condição que afeta de 20% a 30% dos 2 milhões de novos casos de câncer de pulmão diagnosticados anualmente ao redor do mundo. “Com aproximadamente 60% a 90% desses pacientes apresentando doença irressecável, a introdução do osimertinib pode melhorar as perspectivas de uma grande parcela de pacientes”, frisa.
Novos horizontes para tumores torácicos
William William cita ainda duas análises relevantes baseadas no uso de imunoterápicos e drogas alvo direcionadas que mereceram destaque na programação da ASCO 2024. “Uma avaliação relevante aborda uma imunoterapia que é dada para pacientes com câncer de pulmão de pequenas células, com doença limitada. Neste caso, já usávamos imunoterapia para doença extensa e agora teremos dados apresentados de que em casos potencialmente curáveis a imunoterapia pode ser uma opção viável”, diz o oncologista, que participou da sessão de resumo oral sobre o tema “Podemos aumentar o benefício da imunoterapia no câncer de pulmão de células não pequenas?”, parte da agenda de sessões orais do dia 31/05.
Não menos importante, segundo ele, são os dados de uma pesquisa na linha de diagnóstico precoce, sobre tomografia de rastreamento baseado em histórico familiar. “Tradicionalmente, este exame é feito baseado no histórico de tabagismo dos pacientes, mas uma pesquisa feita em Taiwan sugere a possibilidade de avaliarmos um novo protocolo de indicação, baseado na história familiar, independentemente do tabagismo, ou seja, a recomendação de tomografia de screening para pacientes que têm parentes próximos com câncer de pulmão”, finaliza William William.