Com quatro meses de duração, projeto tem programação diversificada com temas transversais a tradição e a ancestralidade afro-ameríndia
A Casa Preta Espaço de Cultura, situada no Dois de Julho, em Salvador, inicia a terceira edição do projeto de dinamização cultural Enxurrada da Casa Preta com o show acústico da cantora e compositora nigeriana Okwei Odili e do espetáculo Pindorama, antes de chamar Brasil, a partir dos dias 16 e 17 de janeiro, respectivamente, às 20h e 17h.
No intuito de impulsionar, produzir e difundir a criação pulsante de artistas alternativos e locais, nos próximos quatro meses, entre janeiro e abril, a Enxurrada da Casa Preta III trará uma programação artística multilinguagem (espetáculos de teatro, shows musicais, podcasts), a ser transmitida nos canais virtuais do casarão centenário – Facebook e YouTube.
Musicalidade e teatralidade em diversidade, ancestralidade com representatividade, baianidade afro, ameríndia e cubana, batidas tambores discotecados em Hip-Hop preto, uma enxurrada de vozes em diálogo sobre diversidade racial, de gênero e religiosa, produção cultural e gestão de espaços culturais a fim de solidificar a identidade artística da Casa Preta, espaço que tanto contribui para a cena cultural soteropolitana. Esse é um resumo poético-artístico do que será a terceira edição do Enxurrada.
Os artistas, iniciativas e coletivos que integram a programação já ocupavam a Casa antes da pandemia do Covid19, muitos deles integraram A Real da Live/fe, projeto conta com dez edições executadas entre agosto e outubro de 2020, todas adequadas aos protocolos sanitários vigentes. Importante considerar que todo esse trabalho tem contado com a ação voluntária dos artistas que contribuem para a gestão do espaço – Vilavox, Aldeia Coletivo Cênico, Ateliê Cenográfico Maurício Pedrosa, Bogum Ambiente Criativo e Macumba Produções.
Para Gordo Neto, coordenador geral do projeto, o “Enxurrada da Casa Preta III” vai permitir um novo ciclo de investimentos artísticos no espaço, considerando a emergência cultural, como também a manutenção das pesquisas artísticas lá realizadas e as parcerias estabelecidas. Palco para o teatro, a música e a poesia identitária, a Casa Preta tornou-se berço de uma pesquisa antropológica, na busca pela valorização da herança indígena e afro-brasileira.
A cantora e compositora nigeriana Okwei Odili apresentará no dia 16 de janeiro, às 20h, o show intimista Noite Acústica, acompanhada da guitarrista Kamile Levek, que traz um repertório autoral e composições já conhecidas pelos admiradores do Reggae, Afrobeat, Soul e Rap. No dia seguinte, 17 de janeiro, às 17h, através da música, poesia, teatro de bonecos e formas animadas, Pindorama expõe a formação da identidade do povo brasileiro com base na matriz cultural dos povos indígenas, utilizando lendas e contos que compõe o imaginário mítico dos povos desta terra.
Pindorama vem de Pindó-rama que significa “terra, lugar ou região das palmeiras”. Para algumas tribos tupis, Pindorama é uma terra encantada. Durante as antigas migrações, formou-se diversas tribos nessa região, até a “Invasão de Pindorama”, também conhecida como “descoberta do Brasil”. “Convidamos a todos a uma reflexão acerca da construção de uma relação harmoniosa entre o ser humano e a natureza. O espetáculo se constitui ainda como uma fonte de registro etnológico e antropológico da cultura de matriz dos povos originários brasileiros”, conta Luiz Guimarães.
Ainda em janeiro de 2021, o ator Leno Sacramento apresenta o espetáculo Encruzilhada, no dia 30, a partir das 20h. Já no dia 31 de janeiro, DJ DMT e o trio Los Perifas farão consecutivamente dois shows festivos que trazem o melhor do musicalidade feminina e da juventude preta soteropolitana, o Hip-Hop dos bailes de discotecagem, da percussão baiana, dos ritmos afro-brasileiros e afro-cubanos, e muito mais. É um resgate da tradução da tradição e ancestralidade afro e ameríndia na musicalidade brasileira.
Durante os quatro meses do Enxurrada da Casa Preta III serão realizados 14 shows/espetáculos transmitidos via live e 08 podcasts com temas diversos – diversidade racial, de gênero e religiosa, produção cultural e gestão de espaços culturais. O projeto é financiado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura Municipal de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.
Enxurrada
“Eu tinha muito cabeça para o teatro. Em um momento fui até Exu e perguntei qual seria o próximo passo. Em jogo de Ifá, com Mãe Rosa de Oyá, iyalorixá do Ilê Axé Oyá L’adê Inã, em Alagoinhas/BA – Ele disse que o caminho seria pela coletividade, pela construção de um espaço em que as artes pudessem acontecer junto. Enxurrada é um projeto enviado por Exu. Ao amanhecer, acordo com a voz de Artur Soares:
“Enxurrada
Chuva cai
Esgoto
Alaga
Um barraco de papel.
Graças a Deus
O Céu abriu
A Mata inteira se alegrou” (autoria Artur Soares)
O Enxurrada não é só complexificar e desconstruir os discursos do embranquecimento, mas compreender o discurso de negritude e ameríndio. Na Bahia, temos também uma hegemonia negra yorubana, mas nessa terra teve nkisi e voduns também. Candomblé tradicional é banto, angola.
Enxurrada é uma plataforma de entendimento de forma complexa do que é brasilidade, isso através das artes, para debater intelectualidade e assim conformamos juntos um novo pensamento do que é a construção desse país”, conta Luiz Guimarães, o Cabloco de Cobre, idealizador do projeto e integrante do Aldeia Coletivo, grupo que coabita a Casa Preta Espaço de Cultura.
Espaço
Ela é quase centenária e sua fachada traz consigo muitas histórias em seu interior e pelas ruas do bairro Dois de Julho. Há mais de 10 anos, o casarão de fachada preta, mais conhecida como Casa Preta Espaço de Cultura recebe artistas, grupos e iniciativas voltadas para as artes, a mobilização e a formação sociocultural. A Casa Preta é a casa dos grupos artísticos Vilavox, Aldeia Coletivo Cênico, Ateliê Cenográfico Maurício Pedrosa, Bogum Ambiente Criativo e Macumba Produções, que se dividem entre os quatro pavimentos do casarão.
Os ambientes da Casa são planejados de forma a permitir múltiplos usos e a propiciar o intercâmbio para atrair públicos diversos. Em 2019 e 2020, todos os espaços passaram por uma grande reforma e uma de suas salas homenageia a performer e diretora teatral Ivana Chastinet. Sala esta que receberá alguns dos shows/espetáculos do Enxurrada da Casa Preta III.
Programação – Janeiro a Abril
JANEIRO
16 de Janeiro – Okwey Odili
17 de janeiro – Pindorama-Antes de Chamar Brasil
30 de janeiro – Encruzilhada/Leno Sacramento
31 de Janeiro – DJ DMT e Los Perifas
FEVEREIRO
06 de fevereiro – Pedro Rosa Morais
27 a 27 de fevereiro – Ocupação Slam das Minas
MARÇO
03 de março – PodCast 1 – gestão de espaços culturais alternativos com a participação de outras casas de cultura da cidade
10 de março – PodCast 2 – Debate com intelectuais acerca do racismo estrutural, religioso e ambiental
13 de março – Cabokaji e MC Coscarque
17 de março – PodCast 3 – Debate com intelectuais acerca do racismo estrutural religioso e ambiental
20 de março – Los Pesos
24 de março – PodCast 4 – Produção e Gestão Cultural: como montar um portfólio, realizar assessoria de si mesmo e/ou dividir as funções em trabalhos colaborativos
31 de março – PodCast 5 – Dimensões sensíveis do cotidiano na produção cultural: relações raciais, de gênero e sexualidades
ABRIL
03 de Abril – DJ Nay Kiesse e Cabôco Experiencia / MC Tipo A
07 de abril – PodCast 6 – Trabalho via apps, o dia na tela: posts, criações de conteúdo e edições de texto, redes sociais
10 de abril – Medeia Negra
14 de abril – PodCast 7 – Articulação: a importância de estar em canais de diálogo, grupos temáticos em redes sociais (o novo associativismo)
24 de abril – Coletivo das Liliths e MC Di Cerqueira
28 de abril – PodCast 8 – O espaço cultural no território: experiências de relações com as comunidades do entorno. Uma programação cultural de qualidade e diversificada, gratuita para o público adulto, jovem e infantil