Maior população negra fora África e consequentemente com grande legado cultura ligado ao povo africano, Salvador, diferentemente do que acontece em outras localidades do país, não tem feriado no Dia da Consciência Negra, comemorado no 20 de novembro, data que marca a morte de Zumbi dos Palmares. A celebração está no calendário oficial do país desde 2011, através de uma lei federal.
De acordo com a lei, referente à data, o 20 de novembro é um feriado facultativo, cabendo aos estados e municípios incluir em seus calendários. Salvador já estava com o limite de feriados municipais cheio quando a data foi instituída. Na Bahia, apenas Alagoinhas, Lauro de Freitas, Cruz Das Almas, Camaçari e Serrinha têm o feriado. Entretanto, o assunto está longe de ser consenso.
O vereador Luiz Carlos Suíca (PT) defende a ideia de que datas como acabam oportunizando determinadas reflexões. “Nos permite a pensar de onde nós viemos e para onde nós queremos ir”, explica. “A pele negra é crime para o olhar dos brancos. Temos nossos heróis e heroínas negros que não contados nos livros didáticos. Aqui em Salvador, uma cidade em que você tem 85% do povo negro e nós não estamos representados no poder, de fato. Temos negros e negras, aqui na Câmara de Vereadores, mas que, muitas vezes, passam despercebidos”, salienta Suíca.
Contudo, o vereador é reticente quanto à necessidade do feriado. Para ele a data ganha mais visibilidade, se comemorado em um dia cívico. “Não acho que o feriado vá resolver o problema do racismo. As marchas e caminhadas, que acontecem em diversos pontos da cidade, podem ser feitas sem ser feriado. As pessoas têm que ir, pois a maioria dos negros e negras estão desempregados. Então, é bom a gente incomodar o trânsito, é bom a gente passar pelos lugares onde os pretos e as pretas perderam seus direitos. O 20 de novembro tem que ser um dia de reflexão, não somente um dia em que as pessoas têm como feriado e tenha que ir à praia curtir. Então, sou totalmente contra essa ideia de feriado. Prefiro que seja comemorado em um dia cívico e que as pessoas vão às ruas e façam o seu protesto”, completou.
Cristiano Lima, membro da direção da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) e um dos organizadores da Marcha do 20 de novembro, não comunga da mesma opinião. Para Lima, a importância do feriado está no fato, justamente, de fortalecer o entendimento da consciência negra. “Estamos disputando, além da questão estrutural, a igualdade cultural. Os feriados, em gerais, ou eles são vinculados ao mercado, à questão capitalista do processo, ou às questões religiosas, ao calendário católico. Essas construções impactam diretamente na autoestima da população e a gente aprende na história que reverenciar os heróis é fundamental”.
“O 20 de novembro sendo ferido ele disputa e confirma a autoestima do povo negro e sua luta. É algo estratégico, em minha opinião. Prefiro que os negros e negras vão à praia no seu feriado do que não ter o feriado. Isso não impede que o movimento negro se mobilize, se articule e construa outras formas de militância. A data é uma posição. A Marcha do 20 de novembro, por exemplo, não precisa ser necessariamente no dia 20”, concluiu Cristiano.