Coletivo lança projeto PARA-ISO com imersão criativa e processual de 24 dias com transmissões diárias a partir de 22 de fevereiro
O CORRE Coletivo Cênico – integrado pelos multiartistas Anderson Danttas, Igor Nascimento, Marcus Lobo, Luiz Antônio Sena Jr e Rafael Brito – desde 2019 tem mergulhado nos impactos da masculinidade na construção identitária do homem gay. O isolamento e toda crise socioeconômica causada pelo COVID-19, que tem impactado diretamente na sobrevivência de pessoas LGBTQIA+, fez o grupo encontrar uma interseccionalidade com a epidemia do HIV/AIDS no Brasil. Diante desse panorama, o CORRE apresenta a partir do dia de 22 de fevereiro a 10 de abril o projeto PARA-ISO, composto por uma Imersão e um espetáculo multilinguagem.
De 22 de fevereiro até 18 de março, o coletivo ocupa as instalações do sexto andar da Casa Charriot (Comércio/Salvador-BA) para compartilhará seus rastros de pesquisas em narrativas políticas de corpos gays, negros e identidades socializadas através da ação Imersão ao PARA-ISO, que se dá no tempo presente. Esta ação artística política é formada por residências, bate-papos, lives e processos criativos, com exibição diária em diversas plataformas digitais – Instagram, Youtube, Zoom e Tumblr -, das 14h até 18h.
A imersão precede o lançamento de um espetáculo inédito com estreia dia 3 de abril, com direção de Luiz Antônio Sena Jr. e Marcus Lobo, uma trama que versará sobre pandemias, masculinidades, sorofobia e seus impactos à identidade e vida do homem gay, com ênfase nas realidades racializadas. A proposta do grupo revela artisticamente uma atualização das assimilações discursivas e políticas circulantes no cenário pandêmico da primeira onda brasileira de HIV/AIDS nos anos noventa, em paralelo com a pandemia do coronavírus (COVID-19) em 2020.
Para isso, o CORRE visita “Devassos no Paraíso”, obra do dramaturgo, jornalista e cineasta João Silvério Trevisan – que além dos registros históricos acerca de sexualidade e soropositividade, discute direitos civis, inserção social de minorias e intolerância. A Imersão ao PARA-ISO é dotada de suportes visuais e estruturas virtualizadas, dentro dos parâmetros de biossegurança vigentes, propondo diálogos com o espectador através de relatos autobiográficos, depoimentos em vídeos, materiais de imprensa, jogos cênicos, musicalidade e movimento.
A TRAMAturgia utiliza a rede como um tecido estendido para criar um trajeto tal qual um vírus percorre pelo corpo, levantando crítico-afetivamente a questão: “quais são os corpos que a sociedade escolhe salvar e descartar?”. Para contribuir no processo imersivo ao PARA-ISO, a primeira residência artística (22 a 26 de fevereiro) é com o ator e dramaturgo Ronaldo Serruya (Teatro Kunyn – SP, que se debruça em questões Queer no teatro, e integrou Grupo XIX de Teatro) e o ator, diretor teatral e mestre em arte e cultura contemporânea Fabiano de Freitas (Teatro de Extremos – SP), vulgo Dadado.
Numa parceria que já dura quase duas décadas, Serruya e Dadado têm desenvolvido uma pesquisa sobre políticas de linguagens em relação aos atravessamentos geracionais e as vivências com HIV/AIDS, assim como a relação desta epidemia com a do COVID-19. Na residência, versarão sobre Como Eliminar Monstros: Olhares Decoloniais a partir do HIV/AIDS, de 22 e 26 de fevereiro, que busca provocar e apresentar produções artísticas que tem em pesquisas artísticas o HIV/AIDS como eixo temático, numa perspectiva de produzir olhares decoloniais sobre esse recorte.
Georgenes Isaac, integrante do Coletivo das Liliths, também integra a programação de residências artísticas, entre os dias 01 e 05 de março, com a temática Sistema Imune – uma busca pelo corpo transgressor, uma experiência intersubjetiva que tensiona a relação de hibridação entre o espaço, tempo, memória, ancestralidade e corpo. Serão levantadas na experiência laboratorial as consequências psicossociais impostas pelas epidemias da Covid-19 e o HIV/AIDS, sobretudo, nos corpos dissidentes.
“É uma espécie de experiência cênica de cura-morte-vida. Uma experiência “pós-vida-morte”. Entendendo aqui as relações entre corpos dissidentes e os processos de adoecimento social”, explica o artista preto e LGBTQIA+, Georgenes Isaac é soteropolitano, nascido no Curuzu.
Entre os dias 15 e 17 de março, a Imersão ao ParaIso trará as experiências de artistas e especialistas quanto e com corpos positivos (HIV/AIDS e COVID-19), através de lives a serem transmitidas no perfil do Instagram do Corre – Coletivo Cênico (@corre_ba). Xan Marçall, mulher trans amazônida do Belém do Pará, atriz performer integrante do Coletivo das Liliths e escritora inicia e versa sobre seu corpo positivo para HIV há 6 anos, levantando como o vírus, em concomitância ao seu processo transicional, tem sido um deflagrador de verdades em Urgências sociais e artísticas para um corpo trans soropositivo.
No segundo bate-papo, Ramon Fontes, que tematiza em A escrita soropositiva, uma pesquisa acadêmica com fontes em dramaturgias, cartas e poesias de soropositivos, além de colocar em pauta suas escrevivências quanto corpo positivo preto não retinto. Para fechar o ciclo de conversas ao vivo, Márcia Rachid, em HIV/AIDS e COVID-19 – Relações Epidemiológicas, trará sua experiência profissional enquanto infectologista nacionalmente reconhecida para traçar um paralelo entre as epidemias, numa abordagem mais estatística e científica.
O coletivo cênico convoca ainda instituições atuantes nas campanhas de prevenção e combate à HIV/AIDS para bate-papos integrantes deste rastro de pesquisa que é a Imersão ao PARA-ISO. Essa ação busca instigar espectadores a transformarem as telas – assimiladas como espaços de confinamento, em lugares de libertação gradativa. Desprendendo-se com auxílio das artes, pesquisas, expressões e técnicas, das zonas opacas da desinformação e fobias sociais construídas historicamente.
O projeto PARA-ISO tem apoio financeiro do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Programa Aldir Blanc Bahia) via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultural do Ministério do Turismo, Governo Federal”.
Programacão
Imersão ao PARA-ISO – 22 de fevereiro a 18 de março
– 22 a 26 de fev – residência Como Eliminar Monstros: Olhares Decoloniais a partir do HIV/AIDS – com Fabiano de Freitas e Ronaldo Serruya (Youtube do CORRE – 14h às 16h30)
– 01 a 05 de março – Georgenes Issac (Youtube do CORRE – 14h às 16h30)
– 15 de março – live Urgências sociais e artísticas para um corpo trans soropositivo – com Xan Marçall (Instagram do CORRE – 14h às 16h)
– 16 de março – live A escrita soropositiva – com Ramon Fontes (Instagram do CORRE – 14h às 16h)
– 17 de março – live HIV/AIDS e COVID-19 – Relações Epidemiológicas – com Márcia Rachid (Instagram do CORRE – 14h às 16h)
CORRE Coletivo
As células cênicas têm por costume exprimir o resultado das somas de identidades e identificações de seus membros através do seu fazer artístico. E é quando identidades, mesmo com diferentes universos expressivos acentuados, se identificam em pontos artísticos e políticos, que nasce o CORRE, coletivo cênico soteropolitano.
A realidade pandêmica desencadeada pelo coronavírus (COVID-19) no ano de 2020, proporcionou um terreno à cadeia criativa que demandou revisitações aos processos artísticos. Neste cenário, o recém formado CORRE (@corre_ssa) se vê instigado e atuando fortemente em inserções tecnológicas durante seus estudos, propostas e montagens.
Delivery (2020) é um ponto na curva crescente do coletivo quando fala-se em dramaturgias produzidas e difundidas digitalmente, seguida de PARA-ISO (com lançamento em fevereiro de 2021), uma TRAMAturgia rizomática que pautará tecno dramaticamente o papel catártico político da arte, tornando comuns aos usuários de sua rede dramática informações que desmistificam tabus e vão de encontro a preconceitos sociais.
Em sua composição é possível observar, ou perder de vista os limites da fisicalidade dos nomes, trabalho e arte dos respectivos, Anderson Danttas, ator de reverberação internacional, administrador e bailarino; o produtor cultural, também bailarino e ator Igor Nascimento; e o pesquisador do teatro do real, especialista em gestão cultural e política, além de artista multifacetado, Luiz Antônio Sena Jr..
Completando os quíntuplos dentes desta engrenagem que faz o CORRE rodar temos, Marcus Lobo, pesquisador em arte e mídias com foco na visualidades da cena e elementos técnicos, atuando profissionalmente também como diretor, ator, dentre outras colocações; e Rafael Brito, ator, assistente de direção e das comunicações enquanto produtor, assessor, repórter, dentre outros postos.
O que é o CORRE?
O coletivo expressa – “É pele, é olho, é toque. É o grito que ecoa na avenida, que desce ladeira e cruza as esquinas. É o não-lugar, ou a transição dele. É o movimento. Também se é posse e demarcação de espaço. Pedaço de perna que percorre, estica e alonga. Prolonga, perdura e se estende. Como gozo que escorre pela barriga e se faz morada entre o umbigo. É felicidade. Que dilata, rasteja e não sai da cabeça. Cruzam-se os caminhos, as pernas, e os nãos ao patriarcado. É o caminho sem volta para festa.”