Junto com São Luís do Maranhão, Salvador é a capital que mais reúne amantes do reggae no país. No Pelourinho, o som jamaicano se associou aos ritmos do Recôncavo e nasceu o samba reggae
Em 11 de maio, o Dia do Reggae, Salvador recebe uma programação diversificada em homenagem ao estilo musical. Contudo, embora a afeição dos baianos pelo gênero seja nítida, o principal point da expressão musical da cidade segue abandonado e na expectativa da reforma.
É assim que se encontra a Praça do Regage, no Pelourinho. Criada em 1999, o local segue abandonado e no aguardo de uma requalificação. É o que conta o empreendedor e agitador cultural, Albino Apolinário, que desde o final da década de 1970 já tocava a música reggae no bar da sua família e resolveu criar, em 1981, o primeiro Bar do Reggae no Pelourinho, que atraía os amantes das mensagens de paz, amor e união dos povos das canções Bob de Marley.
De acordo com ele, a praça está há 12 anos sem reforma e abandonada, enfraquecendo a cultura regueira na capital baiana. “O point dos amantes do reggae segue fechado por anos, o que contribui para evasão dos adeptos da expressão musical do nosso Centro Histórico e do empreendedorismo no setor”, explica Albino.
O agitador cultural, que também criou há 20 anos o bloco Reggae para levar o gênero ao carnaval de Salvador, ressalta que o que falta para o reggae voltar a ser destaque na cena baiana é o governo do estado seguir os passos dos governantes do Maranhão, que tem São Luís conhecida como a capital mundial do reggae. “No Maranhão eles têm o Museu e a Praça do Reggae e o estilo musical faz parte do roteiro turístico, coisa que é fomentada devido à grande diversidade de bares e points dessa cultura”, pontua Albino.
A história do reggae na Bahia
Em 1981, foi criado no Pelourinho, Centro Histórico de Salvador, o Bar do Reggae, o primeiro da cidade dedicado ao ritmo jamaicano tão popular na Bahia. O estabelecimento surgiu do impacto que a música de Bob Marley causou em Albino, que além de ser um point de quem amava samba, passou a chamar atenção dos visitantes para o som da Jamaica.
A música jamaicana, então, penetrou as mentes e corações dos baianos e influenciou artistas como Gilberto Gil, Lazzo Matumbi e Edson Gomes e contribuiu para a criação do gênero mais característico da música feita em Salvador, o samba reggae, responsável por uma revolução rítmica por meio dos blocos afro.
Há 24 anos, a cidade de Salvador instituía 11 de maio como o Dia do Reggae, com aprovação da Lei Municipal nº 5.817/20. A data escolhida homenageia o cantor e compositor jamaicano Robert Nesta Marley, Bob Marley, que faleceu em 11 de maio de 1980, após popularizar internacionalmente o ritmo por meio de canções que pregavam o amor, o respeito e a união entre os povos.
A lei oficializou uma paixão pelo reggae que a população baiana já expressa há décadas, sendo responsável por uma revolução rítmica, quando os sons da Jamaica se encontraram com a batida percussiva dos tambores dos blocos afro. A união de ritmos e mensagens emancipatórias se efetivou sob a regência do mestre Neguinho do Samba, criador do samba reggae, gênero musical que deu identidade à musica da Bahia e consolidou o carnaval de Salvador como uma das maiores expressões culturais do planeta.
Toda essa transformação tem como lugar inicial o Centro Histórico de Salvador. A partir da década de 1980, o Pelourinho, palco de intensa movimentação artística e política da população de Salvador, presenciou a expansão do reggae nas batidas de blocos afro como Olodum e Muzenza, e também nas músicas entoadas em estabelecimentos dedicados ao ritmo, como o Bar do Reggae, o pioneiro, criado por Albino Apolinário em 1981.
“O reggae é uma representação de resistência e merece cada vez mais destaque na cena baiana. Neste mês de maio, o que não falta são eventos sobre o reggae. Contudo, precisamos que as iniciativas em relação a esse gênero musical tão importante continuem em outros calendários. Precisamos de ações concretas para que essa cultura continue sendo fomentada no estado”, diz Albino.
O Bar do Reggae ajudou a divulgar o ritmo, contribuindo para torna popular as mensagens pela liberdade igualdade dos povos e contra a guerra. O próprio Albino foi responsável, na década de 1990 pelo Negros Bar, que inovou ao projetar os videoclipes de reggae, que já havia se tornado uma sensação musical mundial.
Quem é Albino Apolinário
Albino Apolinário de Santana nasceu em 16/05/1964 em Salvador e tem a vida entrelaçada com a história do Pelourinho, onde nasceu e ainda reside aos 60 anos. Neto de Dona Alzira do Conforto, da famosa Cantina Santa Bárbara, reduto da boêmia do Centro Histórico e filho de Aurino Apolinário de Santana e Iraci Oliveira Leão, também comerciante do Centro Histórico, onde era conhecida carinhosamente como Dona Gorda.
Crescido no Pelourinho, na década de 1960, quando o local era marcado pela pobreza, violência e repressão policial, com pouco prestígio e ausência de políticas públicas. Aos 24 anos, Albino tornou-se uma figura notável na cidade devido ao sucesso do Bar do Reggae, que ele administrava e que o levou a outros empreendimentos culturais como o Negros Bar, que funciona desde 1994 e o Ska Reggae, o primeiro bloco de reggae do Carnaval de Salvador, que desfila no Carnaval desde 1995.