Em ensaio para 2022, PT e Lula reconstroem pontes com o PSB nos estados

A retomada dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reaproximou o partido de um parceiro histórico, o PSB, e acelerou tratativas entre as duas legendas para possíveis alianças nos estados, sobretudo no Nordeste.

Nas últimas semanas, PT e PSB selaram parcerias políticas no Piauí, na Paraíba e no Amapá e iniciaram um movimento de reaproximação em Pernambuco, Sergipe e no Espírito Santo.

As cúpulas dos dois partidos afirmam que a reaproximação tem como foco a definição de estratégias políticas conjuntas e dizem que as eleições do próximo ano ainda não estão em pauta.

“É um estreitamento político, não necessariamente eleitoral. Tivermos uma conversa muito boa com o PSB para discutir como podemos ajudar o Brasil a sair dessa crise”, afirma a presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR).

Em Pernambuco, estado estratégico para o PSB, algumas peças começam a se mover no tabuleiro eleitoral. O deputado estadual e ex-prefeito do Recife João Paulo (PC do B) vai retornar ao Partido dos Trabalhadores. O martelo foi batido depois de conversas com Lula.

Ele tem repetido a pessoas próximas que a decisão não está relacionada à disputa de cargos eletivos. No entanto, setores do PT o têm como uma carta na manga para uma eventual composição de chapa com o PSB, atendendo à estratégia nacional petista de ampliar sua bancada no Senado.

Em conversas reservadas, João Paulo tem dito que é grande a possibilidade de uma nova aliança entre PT e PSB, e costuma usar um velho jargão: “Na política, não existem amigos para sempre nem inimigos eternos”.

Na eleição para a Prefeitura do Recife no ano passado, ele declarou voto em Marília Arraes (PT) contra João Campos (PSB), mas tem ótimo trânsito entre os socialistas pernambucanos. Deixou o PT um dia antes de Lula ser preso, em 2018, o que provocou grande mágoa no ex-presidente.

Após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que tornou Lula elegível, ficaram mais evidentes os movimentos de aproximação entre o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), e o ex-presidente.

Ao contrário do prefeito do Recife, João Campos, o governador fez defesa enfática de Lula nas redes sociais logo após a decisão judicial.

Historicamente, Pernambuco tem peso elevado nas decisões do partido. O PSB no estado é bastante pragmático quando a hegemonia da sigla, que já dura 14 anos, é ameaçada.

Nesta semana, o ex-prefeito do Recife Geraldo Julio, que deve ser o candidato do PSB ao governo pernambucano em 2022, posicionou-se em outra direção. Em entrevista ao jornal Diario de Pernambuco, ele defendeu candidatura própria para disputa presidencial ou apoio a Ciro Gomes (PDT).

“Quanto ao PSB, repito que a candidatura própria é o que mais pode ajudar o Brasil e, se isso não acontecer, acho que uma coalizão de forças em torno de Ciro Gomes ou outro candidato progressista é o melhor caminho”, avaliou.

O senador Humberto Costa (PT-PE) destaca que a eleição municipal deixou muitas feridas, principalmente pelo forte uso do antipetismo na campanha, mas ressalta que as portas não estão fechadas para uma composição com o PSB.

“Sempre tem um diálogo. Aqui, a gente está preparado para várias alternativas”, afirmou o senador.

Procurado, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, não se manifestou. ​

Na Paraíba, depois de fortes desentendimentos na eleição municipal, também há aproximação entre o PT e o PSB. Está sendo construída uma frente de esquerda contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que envolve, além das duas siglas, PV, PSOL, PC do B e UP.

O ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB) diz que não cabe uma terceira via nas eleições presidenciais. “Se nós temos uma primeira via, por qual motivo vamos em busca de uma terceira via?”, questiona.

Ele critica setores do partido que defendem candidatura própria do PSB. “O cenário será de unidade. Esse papo de o PSB ter um candidato não se sustenta. Quem? Todos que tentaram não são do partido”, diz.

A formação da frente de esquerda na Paraíba também marca a reaproximação entre Lula e o ex-prefeito de João Pessoa Luciano Cartaxo.

Ele foi eleito prefeito pelo PT em 2012, mas deixou a sigla em setembro de 2015, quando o partido enfrentava seu momento mais difícil. Foi reeleito pelo PSD e depois migrou para o PV.

“Estamos olhando para a frente, para o futuro. É preciso ter a capacidade de aparar arestas e superar as divergências”, afirma Cartaxo.

A parceria entre PV e PT, por enquanto, está restrita à Paraíba. José Luiz Penna, presidente nacional do Partido Verde, diz que a sigla tem priorizado nacionalmente conversas com PDT, PSB, Rede e Cidadania.

“Estamos em oposição firme ao governo Bolsonaro, mas não temos muita segurança de que Lula seja o nome ideal para derrotá-lo. Vamos trabalhar por uma candidatura que una a centro-esquerda”, afirma.

No Piauí, os dois partidos voltaram a se entender sete anos após o rompimento de Wilson Martins (PSB), que governou o estado entre 2011 e 2014, e Wellington Dias (PT), governador desde 2015.

Martins foi aliado de Dias e o sucedeu em 2010. Na eleição seguinte, em 2014, ambos romperam após Martins apoiar o então vice-governador José Filho (MDB) em detrimento de Dias, que se candidatou a um novo mandato. PSB e PT estiveram em polos opostos nas eleições de 2014 e 2018 no estado.

A adesão do PSB à base aliada de Dias foi selada em 19 de abril, com a nomeação do advogado José Augusto Nunes, indicado por Martins, para a Secretaria de Estado da Defesa Civil.

Em Sergipe, PT e PSB caminham para retomar conversas após cinco anos de afastamento. Os petistas lançaram o senador Rogério Carvalho (PT-SE) como pré-candidato ao governo e buscam aliados.

Presidente do PSB em Sergipe, o ex-deputado Valadares Filho lembra que os dois partidos têm uma relação histórica no estado desde os tempos do governo Marcelo Déda, governador entre 2007 e 2013, quando morreu em decorrência de um câncer.

“Nas duas últimas eleições estivemos em palanques diferentes, mas sempre com muito respeito. Dentro de um projeto liderado pela executiva nacional do partido, não vejo problema na retomada de conversas”, afirma Valadares, que tentará voltar à Câmara dos Deputados no próximo ano.

Em outros três estados do Nordeste —Bahia, Ceará e Maranhão—, PT e PSB já fazem parte dos mesmos grupos políticos e devem manter as parcerias. Há expectativa por uma aproximação entre os dois partidos também no Rio Grande do Norte.

Fora do Nordeste, já houve acenos mútuos entre líderes petistas e socialistas em estados como Espírito Santo e Amapá.

No Amapá, PSB, PT, Rede e PSOL definiram a formação de uma frente de esquerda para disputar as eleições de 2022 contra o grupo do governador Waldez Góes (PDT). A princípio, a frente terá o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) como candidato ao governo e João Capiberibe (PSB) para o Senado.

No Espírito Santo, o governador Renato Casagrande (PSB) participou de uma conferência virtual com Lula no início deste mês, mas ainda não há definição uma possível aliança local.

O PT capixaba negocia a filiação do senador Fabiano Contarato. Eleito em 2018, ele decidiu deixar a Rede.

João Valadares e João Pedro Pitombo / Folhapress