Em live, Bolsonaro ironiza denúncia de pedido de propina que derrubou diretor da Saúde

Ao comentar o depoimento de Luiz Paulo Dominguetti Pereira à CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) atacou os parlamentares de oposição que compõem a comissão e disse, em tom irônico, que o então representante da empresa Davati Dedical Suply relatou uma “propininha de R$ 2 bilhões”.

“[Dominguetti] falou que foi procurado para uma propina, pouca coisa, 400 milhões de doses. US$ 1 por dose, uma propininha de R$ 2 bilhões de reais. Ele não aceitou. E depois [Dominguetti] cita o nome de um deputado. Vocês acham que deputado é esse né?”, disse o presidente nesta quinta-feira (1º), durante sua live semanal nas redes sociais.

Dominguetti, que representou a empresa Davati Medical Supply em uma negociação com o governo Bolsonaro, reafirmou à CPI da Covid que recebeu pedido de propina de um diretor do Ministério da Saúde para a compra de vacinas contra a Covid-19, conforme revelou em entrevista à Folha na última terça-feira (29).

Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística da pasta, foi exonerado após a publicação da entrevista. Em nota divulgada nesta quinta, ele reconheceu que se encontrou com Dominguetti na noite de 25 de fevereiro em um restaurante de Brasília, mas afirmou que não tratou de “propina, pedido de dinheiro, facilitação”.

O vendedor também buscou implicar em sua fala o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), que se tornou um dos principais denunciantes de irregularidades na compra de vacinas pelo governo.

Na live, Bolsonaro comemorou a participação de Dominguetti na CPI.

“Eu quero ver como [a imprensa] vai reagir à questão da CPI de hoje. Hoje foi bonito quando o cabo [Dominguetti] lá se dirigiu ao senador e falou um negócio meio esquisito “, disse, sem especificar a que episódio se referia.

O presidente ainda atacou a CPI.

“O que a CPI contribuiu para evitar ou diminuir o número de mortes? O que eles fizeram? Nada. É só um inferno o tempo todo, tentando de toda maneira atingir o governo”, disse. Bolsonaro acusou os senadores de oposição de só fazerem fofoca e intriga.

Em seu depoimento, Dominguetti afirmou que o deputado Luis Miranda buscou a Davati para tentar intermediar a compra de vacinas e mostrou um áudio nesse sentido. Posteriormente, no entanto, foi rebatido pelo deputado Miranda e por Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador da Davati no Brasil.

Após Dominguetti receber a informação de que o áudio tratava de uma negociação de luvas e tinha sido editado, ele disse que foi induzido ao erro. Afirmou ainda que o áudio teria sido enviado por Cristiano.

Na transmissão, Bolsonaro também criticou o superpedido de impeachment contra ele protocolado nesta quarta-feira (30) na Câmara dos Deputados.
Com 271 páginas, o superpedido de impeachment é resultado de uma articulação de partidos de oposição a Bolsonaro e ex-aliados do presidente. Esse grupo reúne cerca de 140 deputados. Para eventual impeachment passar pela Câmara, são necessários 342 votos dos 513 deputados.

O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que é aliado de Bolsonaro, afirmou nesta quinta que não há materialidade e disposição política para o impeachment neste momento.

Em referência ao depoimento de Dominguetti à CPI, Lira afirmou que impeachment não se faz com base em falas. “Tá aí confusão. Um dá um depoimento de um jeito, outro dá um depoimento de outro. Um dia você tem uma situação, outro dia a situação se reverte”, disse.

“A CPI que está instalada vai ter o seu fluxo normal, se tiver o número de assinaturas de senadores será prorrogada, enfim. Vai seguir o seu curso. E aqui nós vamos esperar”, prosseguiu. “Não há impeachment, como eu disse, em cima de discursos. Há impeachment em cima de materialidade e disposição política, o que não se apresenta neste momento nem fora nem dentro do Congresso”.

Ricardo Della Coletta/Folhapress