O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de combate à lavagem de dinheiro, identificou movimentações financeiras atípicas por parte da Combat Armor Defense do Brasil, empresa que vendeu veículos blindados para a Polícia Rodoviária Federal (PRF) no governo de Jair Bolsonaro (PL).
As aquisições foram feitas durante a gestão de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da corporação, e já são investigadas pelo Ministério Público Federal (MPF) por suspeita de fraudes em licitação. Entre 2020 e 2022, ao menos R$ 30 milhões foram pagos pela PRF para blindar viaturas e fabricar blindados.
De acordo com relatório do Coaf em posse da CPI do 8 de janeiro, que investiga os ataques golpistas às sedes dos três Poderes, a Combat Armor tem realizado movimentações incompatíveis com sua capacidade econômica e recebido valores que são debitados imediatamente de suas contas.
Saques em espécie realizados de forma fragmentada e dentro de um período de cinco dias também entraram na mira do órgão. A suspeita é que o procedimento busque burlar o valor total da operação e evite que as autoridades sejam comunicadas sobre as movimentações.
O relatório do Coaf obtido pela coluna ainda destaca que, em visita a uma das instalações da empresa, em endereço indicado por um de seus representantes, “não foram encontrados veículos e nenhum tipo de maquinário” para a realização de blindagem. Segundo o órgão, a Combat Armor teria prestado “informação de difícil ou onerosa verificação”.
Fundada nos EUA por um apoiador do ex-presidente Donald Trump e instalada no Brasil em 2019, a Combat Armor tinha, em seu início, um faturamento médio mensal de R$ 58,5 mil, segundo o Coaf.
Já entre junho de 2021 e abril do ano passado, a empresa chegou a receber R$ 4,8 milhões, sendo mais de R$ 3 milhões provenientes de pagamentos feitos pela PRF e R$ 1,7 milhão do Governo do Rio de Janeiro.
No mesmo período, foram debitados de sua conta R$ 4,7 milhões, que tiveram como destino outras empresas e contas da própria Combat Armor. “A movimentação apresentada não condiz com o faturamento declarado”, afirma o Coaf.
Entre abril de 2022 e junho deste ano, os créditos recebidos em conta totalizaram R$ 18,6 milhões. As movimentações feitas no período também foram consideradas suspeitas e incompatíveis com o faturamento mensal.
Ao falar sobre as movimentações financeiras do ano passado e de 2023, o órgão volta a pontuar que, durante visita às instalações da empresa, ocorreram “controvérsias sobre os serviços” prestados e não foram vistos instrumentos para a blindagem de carro.
Responsável pelos contratos entre a PRF e a Combat Armor, Silvinei Vasques foi questionado sobre a sua relação com a empresa em depoimento à CPI do 8 de janeiro. Ele admitiu ter pedido emprego à especializada em blindados depois de ter deixado o comando da corporação, mas negou ter sido contratado.
Confrontado com um cartão de visitas da Combat Armor que levava seu nome e o apresentava como vice-presidente, Silvinei disse desconhecer a sua origem.
Procurados pela coluna, Silvinei Vasques e a Combat Armor Defense do Brasil não responderam. A PRF, por sua vez, afirma que os contratos com a empresa foram finalizados após pagamento e recebimento dos veículos blindados. “A Polícia Rodoviária Federal acionou a empresa para cumprimento de cláusulas de garantia a fim de solucionar problemas encontrados nos veículos”, diz, em nota.
A corporação ainda confirma ter iniciado um estudo para investigar o aproveitamento e a confiabilidade dos veículos comprados na gestão anterior, mas afirma que, dada a complexidade dos testes, o levantamento “requer mais tempo e ainda não foi concluído”.
Mônica Bergamo/Folhapress