Espetáculo O Museu é o Rua em temporada virtual nos sábados de abril

Com dramaturgia e direção de Fabrício Brito, montagem é uma produção do grupo de arte popular A Pombagem

Um espetáculo cênico, educativo, patrimonial, que se debruça criticamente sobre o patrimônio, ora valorizando, ora problematizando. Artistas através de poesias burlescas, de levantes hip hip e outras tecnologias artísticas fazem uma leitura afrodiaspórica, periférica, social, poética e crítica de hermas/monumentos espalhados pelas praças públicas da capital.

Este é o levante dramatúrgico de O Museu é a Rua, montagem com texto e direção de Fabrício Brito e idealizado pelo grupo de arte popular A Pombagem, a ser apresentado pelo tecido urbano de Salvador em uma temporada virtual que traz o diálogo entre teatro de rua e educação patrimonial. Inspirado no desfile do Dois de Julho, esta ocupação cultural passará por quatro praças da capital baiana com exibição virtual aos sábados do mês de abril (03, 10, 17 e 24), sempre às 14h, pela fanpage do projeto O Museu é a Rua.

A cada praça, a dramaturgia coringa homenageia um artista e/ou personalidade conforme a seguinte programação: na Praça dos Trovadores (Fazenda Grande do Retiro), no dia 3 de abril, será o compositor Catulo da Paixão Cearense; no Largo da Soledade (Liberdade), no dia 10 de abril, em que está localizada a Estátua a Maria Quitéria, o grupo homenageia as mulheres que participaram da Independência da Bahia.

Já no dia 17 de abril, no Busto a Labatut, no Largo da Lapinha (Lapinha), é a vez do espetáculo de caráter educativo patrimonial homenagear caboclos e guerreiros que participaram do Dois de Julho. Para encerrar seu desfile artístico, O Museu é a Rua vai a herma do escritor, jornalista, advogado e poeta preto Luiz Gama, no Largo do Tanque, no dia 24 de abril, para recitar seus versos e Trovas Burlescas, festejar a importância deste para o povo preto e sua libertação.

Virtual

Por conta da pandemia, esta nova temporada terá uma configuração diferenciada, em vez de interagir na presença física com passantes e moradores locais, os artistas do A Pombagem vão à rua para gravar as cenas e estas serão exibidas virtualmente através da fanpage do projeto O Museu é a Rua

Para Manu Ribeiro, produtora do projeto, esta configuração virtual possibilita “adentrarmos no universo das plataformas digitais e ampliarmos, assim, o alcance de nossas produções culturais. Isso viabilizará uma abrangência maior e possibilitará o amplo acesso. Isso não compromete a essência do projeto, uma vez que se mantém elementos do espetáculo (o cenário, a dramaturgia e a direção de encenação)”.

Em O Museu é a Rua, o espetáculo se transforma em exposição e o público em visitante. O local da apresentação vira uma galeria de arte em que o monumento é a obra que dispara o discurso. O projeto conta com exposição de fotografias que retratam o nosso patrimônio cultural. 

Ocorrerão ainda às rodas de conversa a serem transmitidas ao vivo nos mesmos sábados, sempre às 19 horas, pelo Instagram do grupo A Pombagem. Em formato de lives, os bate papos terão como convidados artistas de teatro de rua que dialogam com a questão do patrimônio cultural. No dia 03 de abril, a artista Janete Brito, integrante do A Pombagem, conversa com Mirna Rolim e Bruno Dutra, ambos da Cia Benedita na Estrada (Campinas/SP).

Dramaturgia

O texto do espetáculo O Museu é a Rua é alterado a cada apresentação, pois o monumento é o que inspira a dramaturgia. Por exemplo, a inspiração para o texto do espetáculo a ser apresentado na Praça dos Trovadores – “Praça dos Poetas”, na Fazenda Grande do Retiro, no dia 03 de abril, a partir das 14h, é o Busto a Catulo da Paixão Cearense, em que os artistas educadores patrimoniais contam a vida e obra deste compositor maranhense através de letra e melodia da música Luar do Sertão.

Brito explica que a dramaturgia se dá a partir de como cada monumento afeta os integrantes do grupo A Pombagem. “Fazemos uma pesquisa do que foi aquele acontecimento cívico, político, a figura histórica do busto. Mas há uma perspectiva para além do que está legitimado pela historiografia, a de compreender como os moradores se apropriam daquele espaço público, logo que cada um tem certa história com a localidade”. 

Como inspiração, A Pombagem usa a festa do Dois de Julho, que tem uma dimensão espetacular que dialoga com monumentos públicos para construir o conceito de teatro-monumento, que é uma proposta de Educação Patrimonial por meio do Teatro de Rua. “É um espetáculo que aciona três expressões da cultura: arte, educação e patrimônio, este como expressão ligada à memória”, destaca o dramaturgo.

Com poética ativista, o espetáculo traz uma visão crítica que ora valoriza e ora problematiza a memória exposta. Através da educação patrimonial, O Museu é a Rua busca combater as tecnologias que estruturam as relações sociais e as tecnologias de manutenção do poder.

O projeto é contemplado pelo Prêmio Jaime Sodré de Patrimônio Cultural, da Fundação Gregório de Mattos, Prefeitura de Salvador, por meio da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, com recursos oriundos da Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal.

Foto-Diogo-G.-Andrade