Com temas delicados que permeiam suas mentes na pandemia, como isolamento, tensão, dor, insegurança e medo, um grupo de estudantes encontrou uma válvula de escape e publicou um livro maduro, denso, forte e repleto de poesia. Com pitadas de influência dos poetas Lord Byron, Charles Baudelaire, Álvares de Azevedo e Carlos Drummond de Andrade, a obra “Produtos da (in) existência”, organizada pelo professor Amarildo Malvezzi, reúne poemas, cartas e relatos do cotidiano de 15 estudantes membros do clube de Leitura do Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, em Juazeiro.
Acesse o livro em: https://bit.ly/3tjLZ1H
A obra, publicada pela Editora Oxente, possui 142 páginas e está disponível, gratuitamente, como e-Book ou em versão impressa. No prefácio, o escritor Marcus Vinicius Santana Lima descreve a coletânea: “A poesia se revela durante a escuta do corpo. Por ela é que se ouve os mares internos, as fissuras das paredes, o tremor dos vulcões virgens. É como um abalo incontestável ou a vulgarização do sagrado. A poesia como vertigem é também o canto que explode dentro das bocas sedentas de palavras e mistérios”.
O organizador da publicação, Amarildo Malvezzi, diz que os textos versam sobre os diversos dilemas da pandemia, como as tensões e as conexões entre experiências biográficas e coletivas.
“Os textos estão entre a fé no progresso da humanidade e a descrença diante da barbárie; entre o isolamento social, ainda que passageiro, e a solidão existencial, quase atemporal. A obra é um experimento artístico e um ensaio político”. Com ilustrações de Beatriz Ferreira e Andréia Ferreira, as páginas ganham intensidade com um traço que equilibra influências do Surrealismo e do Expressionismo.
Os textos reúnem a expressão dos estudantes Andréia Ferreira, Beatriz Ferreira, Bruna Barbosa, Bruna Letícia, Dominique Diaz, Émille Luana, Gustavo Muniz, Kennedy, Luana milena, Leidy Brunna, Lucas Gabriel, Maria Fernanda, Mayla Dias, Nívia Joanna, Ryu Freitas e Tatyanna Soares. Dividido em cinco eixos – “Livro da Vida Interior”, “Livro da Vida Coletiva”, “Livro dos Afetos”, Livro da Sobrevivência e “Aos que Virão Depois de Nós” -, o livro é a expressão da subjetividade de um processo em que os estudantes escrevem para aprender a lidar com os sentimentos.
Gustavo Muniz, de 18 anos, é um dos escritores que usou a arte como um processo terapêutico. “No final do Ensino Fundamental, estava passando por alguns problemas e a escrita me ajudou bastante. Falei sobre os temas que estavam pertinentes dentro de mim, sejam a raiva, a tristeza, a indignação e o medo. Muitos de nós usamos o livro não só como um projeto, mas também como uma forma de sobreviver a este momento. O nosso livro é resistência“, revela o escritor. Bruna Barbosa, 17 anos, relata que escreveu sobre os seus sentimentos em busca da leitura acolhedora de outras pessoas que estivessem permeadas pelas mesmas sensações.
“Escrevi sobre como foi preciso me reinventar para não deixar ser consumida por tantas notícias e pensamentos ruins. Escrevi sobre como era angustiante, além de lidar com toda a tragédia do mundo, ter que lidar com o caos interno, sem poder ter para onde ir, sem poder “fugir”. Escrever foi o meu escape” Beatriz Ferreira, que além de ilustrar, escreve poesias, disse que a inspiração vem de forma aleatória, quando vivencia algo triste ou interessante.
“O livro é voltado às dores que a pandemia trouxe e também as que já existiam. É o resultado de todo o acúmulo, que refletiu nas minhas poesias. Mas, além disso, eu pensei em trazer conforto para outras pessoas, dando a entender que ninguém está sozinho nessa. Então, além de refletir a tristeza, espero que reflita semelhança”.