“Eu quero, aqui na Adab, priorizar o trabalho da educação. Educar produtores e trabalhadores”, afirma Bacelar

Engenheiro Civil de formação, ex-secretário de de Obras da prefeitura de Dias D´Ávila, ex-diretor técnico do Complexo Petroquímico de Camaçari (Copec), ex-secretário de Habitação e Infraestrutura da prefeitura de Camaçari e ex-diretor geral do Detran-Ba,  Maurício Bacelar ocupa, desde junho de 2019, a direção geral  da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB). Em entrevista exclusiva ao Bahia Sem Fronteiras, Mauricio, que é irmão do deputado João Carlos Bacelar (Podemos), falou sobre a sua expectativa e os principais desafios na condução da pasta.

BSF – De que forma essas experiências na administração pública, sobretudo, pode somar na sua gestão à frente da Adab?

Maurício Bacelar – Até chegar aqui na Adab a minha relação com o setor agropecuário era uma relação de um pequeno produtor rural que sou, por conta de uma tradição familiar na região de Esplanada e Ibicuí. Aqui na Adab é especifica a defesa dos rebanhos, dos vegetais e também a inspeção dos produtos de origem animal e produtos de origem vegetal. Essa minha experiência como engenheiro civil, secretário e diretor pode ajudar muito na organização da parte administrativa da Adab, da gente puder agilizar os processos administrativos e dar condições aos nossos técnicos de fazerem um trabalho defesa e inspeção. E aí eu queria abrir um parêntese para dizer que encontrei aqui na Adab uma equipe de excelência, tanto veterinários como agrônomos. Temos pós-doutores, doutores, mestres e vários profissionais com uma bagagem muito boa em relação à defesa agropecuária do estado. Então, eu acho que juntando essa minha experiencia no setor público com a capacidade técnica dos nossos servidores, eu tenho certeza de que vamos fazer um grande trabalho.

Como você avalia à atenção dada pelo governador Rui Costa ao setor agropecuário, sobretudo, no que diz às receitas destinadas ao setor?

Até agora todas as condições que me foram colocadas pelo governador Rui Costa atendem, e muito bem, à Adab. Dou um exemplo, que me sinto bastante a vontade de falar, porque já encontrei aqui, que é o caso da peste suína clássica que atacou os estados do Ceará e do Piauí em janeiro deste ano. A Bahia é zona livre dessa doença, bem como, nós juntamente com o estado de Sergipe, funcionamos como zona tampão para o restante do país. Nosso trabalho aqui foi um trabalho não só para defender o nosso status de livre da doença, como também proteger os estados do Paraná, Santa Catarina São Paulo e Rio Grande do Sul que são os grandes exportadores de carne suína. Esse trabalho foi realizado pelos técnicos da Adab com recursos do Governo do Estado. Infelizmente, o Ministério da Agricultura, pelas condições e que se encontra, nos disse que não tinha condições de ajudar nesse trabalho. Historicamente, o Ministério da Agricultura foi passando competência para todos os estados na esfera da defesa agropecuária. Em agosto, durante a reunião dos governadores do Nordeste, todos os dirigentes das nove defesas estaduais, solicitamos aos governadores que incluíssem na pauta do Consórcio a questão da defesa agropecuária por conta dessa demanda cada vez maior que o Ministério vem passando pelos estados.

E como é a relação da Adab com o Ministério da Agricultura?

Ótima. Tanto na delegacia aqui, quanto no Ministério. Nós não temos tido problema nenhum nessa relação. O que existe é essa posição do mapa, que não é só com a Bahia, mas com o Brasil inteiro, de onerar as defesas estaduais sem repassar os recursos para isso.

Quais os seus principais desafios à frente da pasta?

A defesa agropecuária só funciona se houver uma ação conjunta das três esferas de governo juntamente com os produtores e a população. É preciso que esse elo da cadeia esteja bem ligado. Na Bahia, estamos ligando. Quem é que vê o rebanho todo dia? É o produtor. Quem é que vê sua plantação todo dia? É o produtor também. Cabe a nós da Adab termos velocidade na resposta, no caso da identificação de uma praga ou de uma doença nos rebanhos. Bem como também, agir na fiscalização das nossas fronteiras para impedir e dificultar a entrada de pragas e doenças em nosso estado. Tomamos conhecimento de que no estado do Rio de Janeiro estão produzindo mudas de citros com um fungo. No momento em que recebemos a nota da Defesa Agropecuário do Rio de Janeiro de que eles tinham identificado esse fungo, nós alertamos os nossos técnicos em nossas fronteiras, principalmente no sul do estado para impedir a entrada dessas mudas na Bahia. Esse é o trabalho da Defesa Agropecuária. O grande desafio é esse.  A Bahia é um estado com dimensões de quase que um país. Nós temos só na área leste 900 km. Muitas fronteiras secas e isso dificulta o nosso trabalho.

Eu quero aqui na Adab priorizar o trabalho da educação. Educar produtores e trabalhadores. Por exemplo:  se fala muito no uso de agrotóxicos, que está aqui sob o nosso controle. Se a gente for comparar o volume que o Brasil produz na agricultura com o volume de agrotóxicos é bem menor do que em países da Europa e dos Estados Unidos. O problema aqui é que nossa extensão territorial é muito grande e o nosso volume de produção é também enorme. Então, o que temos que fazer e educar o trabalhador rural para que ele só use o agrotóxico devidamente protegido e em determinadas condições.  Como é que também eu vou convencer uma população, que tem uma tradição de consumir carne sem que essa carne seja refrigerada? Como vou desfazer isso? As pessoas pensam: meu bisavô, meu avô, meu pau consumiam essa carne e nunca tiveram nada. Como vou convencer essa pessoa de que aquela carne que ela está consumindo, que não tem o selo de certificado da Adab, que ninguém sabe a origem do animal que produziu aquela carne, as condições em que foi abatido…? Somente através da educação.

Como funciona o sistema de fiscalização da Adab? Outrora víamos muito mais barreiras e de um tempo para cá diminuiu.

Isso foi por conta de uma orientação do Ministério da Agricultura. Existiam muito mais barreiras quando a Bahia tinha o status de livre da febre aftosa e os estados do Nordeste não tinham esse status. No momento em que o país inteiro possui esse status muitos postos deixaram de ter sentido. O que temos são barreiras moveis. A gente faz a fiscalização de entrada de animais. Nos abatedouros a fiscalização é permanente. Todo abatedouro da Bahia que tenha o selo da Adab, tem um veterinário acompanhando a matança dos animais, seja bovino, caprinos, ovinos ou frango. Qualquer animal abatido num frigorifico de nossa responsabilidade tem um fiscal nosso no local.

Outro instrumento que vamos utilizar muito aqui na Adab é a tecnologia. Já publicamos no Diário Oficial uma portaria onde os nossos técnicos estarão autorizados a utilizarem drones em nossas ações de fiscalização. Vamos poder fotografar e filma. No Oeste da Bahia nós temos 300 mil hectares de algodão e 1.600 hectares de soja para fazer a fiscalização de uma área dessa com o ser humano é muito difícil. Então, nós agora vamos utilizar a tecnologia para aprimorar a nossa fiscalização. Vamos atuar com drones no Oeste, vamos atuar com drones aqui no Litoral Norte para fiscalizar plantações de coqueiros, também no Norte do estado nas plantações citros, no Sul nas plantações de mamão. O drone vai facilitar muito o trabalho dos nossos técnicos.  É usar a tecnologia e estratégias de inteligência para que a gente possa e dar segurança para a população e para os produtores. Hoje, a agropecuária representa quase que 25% da receita do estado. É um patrimônio de toda Bahia.

Como está a questão da febre aftosa na Bahia?

Nosso status continua garantido. Na última campanha, no mês de maio, nós mantivemos um índice superior ao mínimo exigido pelo Ministério da Agricultura. Estamos caminhando, juntamente com os estados do Nordeste e com o Ministério, para a gente ir para um status de zona livre da aftosa sem vacinação. Acredito que isso será sacramentado no ano de 2023.

Como o senhor, enquanto produtor e como gestor da área do agronegócio, vê um possível fechamento do Parque de Exposições?

O que eu tenho assistido, não só na Fenagro, mas também em outras exposições, e isso tem sido relatado por criadores de animais de elite, é de que tem diminuído o número de animais em exposições. Me parece que o setor produtivo precisa procurar uma nova maneira de mostrar os animais de elite para a sociedade. Precisa se mostrar uma nova maneira de ser reunir os pecuaristas.

Eu acho que não é local, mas a maneira da amostra. Por exemplo: estive na Exposição de Feira de Santana em companhia do secretário de Agricultura, Lucas Costa. Uma região de muita tradição na pecuária. Mas a expectativa não foi atendida. O número de animais não atendeu às expectativas dos criadores. Tivemos aqui também a Exporural, onde também o numero de animais não atendeu às associações. Teremos agora a Fenagro e vamos torcer para que continue a qualidade dos animais que vêm para aqui e que seja correspondida a expectativa dos produtores. Essa maneira de somente trazer o animal não dá mais. Botar show, também acho que não, pois acaba levando um público que não está interessado no agro, que vai lá para ver o artista.  Não sei se seria fazer feiras mistas de maquinas, implementos, agricultura familiar, levar o agroindustrial para dentro da exposição…

Não seria o caso de os subsídios do Governo do Estado para as exposições serem insuficientes?

O Governo do Estado já tem ajudado o setor agropecuário. A Bahia hoje é um estado que pode ser a sexta ou sétima economia do país, mas quando a gente divide a riqueza gerada no estado pela população a gente desce para o vigésimo terceiro lugar. O governo precisa dar segurança, precisa dar educação, precisa investir na infraestrutura… Então, não da para cobrir tudo. Mas de qualquer maneira acho que a nossa agropecuária está protegida e é uma atividade que necessita da proteção do poder público.

A Adab possui algum escritório avançado na região Oeste?

Nós temos hoje 39 escritórios fixos em nosso estado. São unidades onde os produtores emitem Guia de Trânsito Animal (GTA), no caso de animais, e a guia para movimentação de produto vegetal. Estamos numa transição de 16 coordenações para 27 territórios. Vamos ganhar capilaridade e estaremos mais próximos dos produtores.

Como é a relação da Adab com a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba)?

Muito boa. Assim como também acontece com a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa). Uma interação total. É como eu disse: a Defesa Agropecuária só funciona nessa interação das esferas do governo com os produtores. Existe a interação com os produtores do Oeste, do Vale do São Francisco, da Chapada Diamantina, com os grandes produtores da pecuária do Extremo-Sul e do Sudoeste… Como também temos um entrosamento total com a Agricultura Familiar. Temos trabalhado na direção de que a Adab não é inimigo do produtor, mas sim o protetor do patrimônio do produtor.

Falando agora sobre política. O partido se vê atualmente como inteiramente contemplado, no que tange a espaço, dentro do Governo do Estado?

Quem fala pelo partido é o deputado João Carlos Bacelar. Eu aqui sou um soldado do governador Rui Costa à frente da Defesa Agropecuária. Sobre a relação do Podemos com o governo quem fala é o presidente do partido que é o deputado Bacelar.

Como o senhor vê uma possível candidatura de Bacelar à prefeitura de Salvador?

Eu, como militante do partido, vejo com naturalidade. Peço desculpas aos outros postulantes, mas vejo o deputado Bacelar como o melhor candidato. Ninguém conhece essa cidade como o deputado Bacelar. Ele foi por quatro vezes vereador de Salvador, duas vezes deputado estadual e duas vezes deputado federal, sempre com votações expressivas aqui na capital. Agora, na última eleição, foi o segundo deputado federal mais votado aqui na cidade. Nosso partido tem uma capilaridade muito grande aqui na cidade. O numero de votos que a gente tem tido para vereador, sem ter candidato a prefeito, mostra isso. E eu acho que a gente com uma candidatura a prefeito do deputado Bacelar que tem a ganhar é Salvador.

O senhor enxerga alguma possibilidade de articulação de uma candidatura de Bacelar com o PT?

Eu torço para que Bacelar seja o candidato a prefeito de todos os partidos que dão sustentação ao governador Rui Costa, mas se isso não for possível, eu, enquanto militante, vou batalhar pela candidatura dele.