Exposição nas ruas de 14 cidades do país reivindica ministra negra no STF

Cartazes estampam mulheres negras de pele retinta e de pele clara nas ruas de 14 cidades brasileiras. Grandes avenidas de lugares como São Paulo, Salvador, Curitiba, Brasília e Recife receberam o trabalho de 24 artistas visuais negros, que foram reunidos pelo Instituto Lamparina na mostra “Juízas Negras para Ontem”.

A exposição trata da importância da presença de uma juíza negra em um espaço importante de tomada de decisão na sociedade brasileira, explica Nina Vieira, diretora de arte e curadora da mostra. A questão não é a aparência, ressalta, mas o conhecimento, o repertório e o compromisso do Supremo Tribunal Federal com uma parcela da população.

Em mais de 130 anos de história, o STF nunca teve uma mulher negra em seu quadro de ministros.

A iniciativa se une a diversas manifestações da sociedade civil que pedem pela indicação de uma mulher negra para o cargo. A discussão antecede a data de aposentadoria de Rosa Weber, em outubro a ministra completará 75 anos, idade limite para integrantes do tribunal.

“Juízas Negras para Ontem” tem obras feitas por homens, mulheres e pessoas não binárias. Fotografias, colagens e ilustrações formam murais a céu aberto em pontos de grande circulação popular, como a avenida Paulista, em São Paulo.

“Algumas pessoas passam [pelas obras] e questionam, o que mais elas querem? Já não tem espaço o bastante para o povo preto?”, diz.

Para Nina, provocar esse tipo de reação demonstra a importância de uma manifestação como essa, que estimula o debate sobre a presença de pessoas negras em espaços de poder.

O mote da exposição “É pra ontem” reflete o momento de alta na discussão sobre representação feminina no Judiciário, mas também o como foi a organização da mostra. Entre o convite aos artistas e a entrega das obras produzidas, Nina conta que foram cerca de duas semanas. “Cada artista produziu de acordo com sua linguagem e com sua plataforma, escolhemos juntos os lugares para expor e eles receberam as obras impressas para colar nas ruas”.

O processo foi colaborativo, e o resultado se tornará parte da paisagem urbana. “Queremos que o debate continue na boca do povo, independente de quem ocupará a vaga no STF.”

Além da movimentação que a curadora chama de subjetiva, pois utiliza a provocação artística, a iniciativa também tem marcado presença junto a outras mobilizações.

Os cartazes da exposição estiveram presentes em uma ação da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, na quarta-feira (20), que divulgou uma carta que será entregue à Presidência pedindo pela indicação de uma mulher negra para o STF. A carta foi assinada por mais de 30 entidades e foi apresentada em uma manifestação na Faculdade de Direito da USP, região central da capital paulista.

Todas as obras da mostra podem ser vistas, em versão digital, no site do Instituto Lamparina. O projeto teve apoio do Iris, organização internacional que incentiva projetos que divulgam histórias de impacto social.

A curadora da mostra é também uma das fundadoras do Manifesto Crespo, coletivo de mulheres negras criado há 12 anos. O grupo promove atividades como oficinas de turbantes, tranças e estamparia, formação antirracista para educadores e rodas de conversa direcionadas para mulheres negras.

Catarina Ferreira, Folhapress